Os desafios logísticos da Bahia | BE News
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Dolar Com.
Euro Com.
Libra Com.
Yuan Com.
Opinião

Artigos

Waldeck Ornelas

Clique para ver mais

Articulista

Os desafios logísticos da Bahia

Uma conjugação de fatores tem feito a Bahia enfrentar, simultaneamente, um conjunto de desafios cuja resolução poderá colocá-la diante de um novo cenário de acelerado desenvolvimento ou condená-la a um longo período de estagnação. Este momento crucial está relacionado com as questões logísticas e de infraestrutura.

Apoiada basicamente em uma extensa malha rodoviária, a Bahia teve a má sorte de ver a única concessão federal existente em seu território submetida ao critério da menor tarifa. Com isto, a modernização necessária foi mandada para as calendas.

Esta inadequada estruturação de projeto trouxe graves danos à Bahia, com reflexos nacionais. É que condenou longo trecho da BR-116 – o principal eixo rodoviário longitudinal do país – e o trecho Feira de Santana-Salvador da BR-324 – o único acesso à capital do Estado e aos portos da Baía de Todos os Santos (BTS) – a não receberem os investimentos indispensáveis sequer para sua conservação e manutenção.

Impressionante é que, decorridos 14 anos do equívoco cometido – em uma concessão de 25 anos – a burocracia nacional não tenha, até hoje, conseguido resolver o imbróglio! Finalmente, fala-se em rescindir o contrato de concessão, a partir do final deste ano. Enquanto isto, a economia e a população baiana sofrem prejuízos irreparáveis.

De resto, a malha rodoviária não tem sido ampliada nem melhorada, como é o caso da BR-242, indispensável para o escoamento dos grãos do Oeste baiano para os portos do litoral do Estado.

Da maior gravidade, e pior ainda, é a situação da malha ferroviária, hoje quase inexistente, apesar de historicamente extensa. O conjunto de estruturas da antiga SR-7 da extinta Rede Ferroviária Federal – que fazia a ligação do Sudeste com o Nordeste do país – encontra-se praticamente desativado.

Depois de 28 anos de abandono, pela concessionária Ferrovia Centro Atlântica (FCA), subsidiária da VLI, conta-se nos dedos de uma mão o número de clientes que ainda resistem, por imperiosa necessidade, a um serviço na velocidade de 11km/hora, transportando volume insignificante de carga, por opção comercial de quem tinha a missão de desenvolver o negócio. 

Como se não bastasse, encaminhando a renovação antecipada de sua concessão, a FCA tem o desplante de propor que permaneça no limbo a definição quanto ao futuro do eixo ferroviário principal, de Corinto (MG) a Senhor do Bonfim, que atende à Região Metropolitana de Salvador, ao Polo Industrial de Camaçari e à Baía de Todos os Santos – o maior porto natural do país –, onde existem dois portos públicos e nove terminais privados.

Mais ainda, propõe a devolução de trechos tão importantes quanto Senhor do Bonfim-Juazeiro – que deveria atender ao importante polo de agricultura irrigada do submédio São Francisco – e Esplanada-Propriá (SE) – que fazia a ligação do Sudeste com o Nordeste.

Lamentável é que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), autoridade reguladora do setor – que tem a obrigação de zelar pelos interesses do país – dê curso a uma proposta desta natureza, que, aliás, encontra-se neste momento submetida a audiência pública.

Em outra frente, a Bahia vive a expectativa de que se concretize a implantação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL). Licitada já com 80% de execução, a FIOL I – trecho Ilhéus-Caetité, foi concedida à Bahia Mineração (BAMIN), sendo recorrentes, nos meios econômicos e na imprensa, dúvidas quanto à sua conclusão. Prevista para 2025, fala-se agora em 2027. Estará a ANTT monitorando o andamento das obras?

Paralelamente, a INFRA, empresa do Ministério dos Transportes, já contratou a conclusão da FIOL II – trecho Caetité-Barreiras, passo considerado essencial para viabilizar a concessão conjunta da FIOL II e III com a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), que se estende de Mara Rosa (GO) a Água Boa (MT) e Lucas do Rio Verde (MT), criando o grande corredor ferroviário transversal que proporcionará o surgimento de uma nova – e mais econômica – alternativa logística para o escoamento dos grãos do Centro-Oeste brasileiro.   

Tudo isto depende, inclusive, mas não só, da conclusão do Porto Sul, em Ilhéus, na extremidade Leste da FIOL, também a cargo da BAMIN, que acaba de ter autorizado financiamento de R$4,59 bilhões, do Fundo da Marinha Mercante, para sua implantação.

Como se vê, por sua localização geográfica, a Bahia é passagem obrigatória na ligação Nordeste-Sudeste/Sul do país, assim como do Centro-Oeste para os portos do litoral, sendo inexplicável, ininteligível e inaceitável, a situação crítica em que se encontra, em face do vazio que provoca na integração logística do país.

Embora numa perspectiva de atendimento à demanda presente – que apenas a chegada da BYD já desequilibra –, coube ao setor portuário da Baía de Todos os Santos, romper a inércia que, há algum tempo, tem acometido a economia baiana. Refiro-me à recente inauguração da rota Bahia-Ásia, de frequência semanal, operada por porta-contêineres do tipo New Panamax, com capacidade de transporte de 15.000 TEUs, para os portos de Singapura, de Yantian, Ningbo, Shangay e Qingdao (China) e Busan (Coréia do Sul).    

Isto só se tornou possível graças aos investimentos previamente realizados no TECON-Salvador (Wilson, Sons), assim como registram-se outros melhoramentos e ampliações feitas no Temadre (Acelen), no Terminal Portuário Cotegipe (Dias Branco), no Terminal de Granéis Sólidos de Aratu (CS Ports) e no Enseada Terminal Logístico, fortalecendo o Complexo Portuário da Baía de Todos os Santos – BTS-Port.

Converter a Baía de Todos os Santos em um importante a estratégico hub-port para o Atlântico Sul constitui a meta a ser conquistada no desdobramento destes movimentos.

Acresça-se a este conjunto de pendências a indispensável implantação da Hidrovia do Rio São Francisco – cuja gestão acaba de retornar para a autoridade portuária federal na Bahia, a Codeba – uma tradicional e histórica via navegável, e sua integração hidro-ferroviária, em Juazeiro e Bom Jesus da Lapa.

Tudo isto está a exigir uma ampla mobilização, política e social – que ainda não acontece – em defesa dos interesses do nosso Estado, de sua economia e de sua população.

Compartilhe:
TAGS

Leia também