Os impactos positivos do rating da S&P para o Brasil: rumo ao “investment grade”
A recente elevação da perspectiva de crédito do Brasil de “neutra” para “positiva”, apresentada pela agência de classificação de risco S&P Global Ratings (S&P), é o tema do artigo de hoje. Iniciarei a abordagem com o conceito de rating soberano, os principais motivadores da alteração e os impactos de curto, médio e longo prazos.
O rating soberano ou risco-país trata da nota de crédito atribuída por uma agência de classificação de risco aos países e reflete a capacidade de honrar suas dívidas. A escala vai de “AAA” até “D”. Portanto, um rating bom (grau de investimento com qualidade alta) ou ruim (grau especulativo e de alto risco) pode afetar o fluxo de investimento estrangeiro e influenciar a visão dos investidores em relação ao país. Atualmente, o Brasil possui o rating “BB-” (grau vulnerável), similar a Bangladesh e África do Sul.
Em 2015, o Brasil perdeu o grau de investimento (investment grade) e isso teve impacto direto no apetite dos investidores institucionais estrangeiros. Apenas em 2019, voltou a ter uma sinalização “positiva”, que foi freada pela pandemia. De lá para cá, vários fatores positivos contribuíram com a decisão da S&P, tais como: a reforma da previdência, a reforma trabalhista, a aprovação da autonomia do Banco Central e o controle da inflação.
Os principais motivadores da atual alteração de “neutra” para “positiva” do rating do Brasil foram os sinais de maior certeza sobre as políticas fiscais e monetárias estáveis, que devem beneficiar as atuais perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. De acordo com a S&P, o rating reflete a posição externa do Brasil, a política cambial flexível, o regime de política monetária baseado em metas de inflação e a independência da autoridade monetária.
No curto prazo, acredito que também haverá revisão positiva da nota do risco-país do Brasil pelas outras principais agências de classificação de risco: Moodys e Fitch Ratings. A decisão da S&P já surtiu efeito favorável na bolsa de valores (atualmente na faixa dos 115 mil-120 mil pontos) e no câmbio (dólar abaixo da marca de R$ 5,00). Há economistas que acreditam que o valor justo do Real deveria ser em torno de R$ 4,50, em relação à moeda norte-americana.
A perspectiva “positiva” indica a possibilidade de elevação da nota em até dois anos. Para tal, o País deverá implementar políticas econômicas pragmáticas, ou seja, conter a vulnerabilidade nas contas públicas (arcabouço fiscal), aumentar as exportações agrícolas (favorecida com a reabertura da China) e iniciar o corte da taxa de juros (atualmente em 13,75% ao ano) nos próximos meses.
Já no médio prazo, uma nova elevação poderá ocorrer com a agenda de reformas (tributária e administrativa), a revisão dos gastos com o funcionalismo público e uma maior velocidade à tramitação de projetos no Congresso.
A melhora do rating para o País também tem reflexo positivo para as empresas brasileiras, seja na captação de recursos para novos investimentos, no alongamento de dívidas ou na expansão dos negócios.
No longo prazo, não tenho dúvidas da volta do tão sonhado e necessário investment grade. Lembro da época em que morei em Singapura, entre 2015 e 2021, quando vários investidores institucionais da região Ásia-Pacífico tinham interesse em comprar títulos de renda fixa de empresas brasileiras, porém, não era possível alocar os ativos em seus portfólios, uma vez que o Brasil não possuía a classificação de risco em grau de investimento.
O processo de recuperação do investment grade é longo, mas terá reflexo positivo nos preços dos ativos e na expansão do mercado de capitais, atrairá mais investimentos para os projetos de logística e infraestrutura do Brasil e, consequentemente, contribuirá na geração de emprego e renda para a população brasileira.