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Luiz Dias Guimarães

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Pérolas que não criamos

O sucesso pode ser caminho para o fracasso. O que estamos fazendo com as novas gerações? Pergunto-me que seres verdadeiramente humanos estamos criando – ou deixando que se criem – enquanto vivenciamos nosso sucesso profissional, encantados com as inovações tecnológicas à nossa frente e desafiados pela competição.

No ambiente em que vivo somos 1 por cento, a ponta do iceberg sócio-econômico deste imenso país de miseráveis. Curtimos o conforto e satisfação por tudo que galgamos e podemos propiciar às nossas famílias.

Mas o que nos favorece nos prejudica, é o mantra oriental. E vice-versa. Como lembrou Rubem Alves, ostra feliz não faz pérola. Ao sofrer com a invasão de um grão de areia, o crustáceo, para se proteger, passa a envolver o grão com uma resina que acaba nos encantando em colares. O sofrimento e esforço da ostra, portanto, é que dá boas pérolas. 

O sucesso profissional nos envaidece e deve sim ser orgulho para nossos filhos. Mas é fundamental que eles entendam que o sucesso não é deles, e requer sua própria construção.

Recentemente vi um vídeo em que uma jovem é hostilizada por colegas que a chamam de riquinha. Ao que ela respondeu: “Rico é o meu pai. Eu não tenho nada”. Lúcida a menina que tem a percepção exata de sua dimensão e o desafio que a vida lhe proporcionou ao dar-lhe conforto e condições básicas para fazer sua própria pérola.

Enquanto muitos de nós mergulhamos na batalha cotidiana para ascender cada vez mais e alcançar o sucesso, acabamos deixando de lado — por falta de tempo ou distorção própria de valores — nossas crianças. Acima de serem presenteadas com iPhones e viagens à Disney, precisam aprender a distinguir valores.

Nos ambientes da escola, do clube e dos amigos com os quais convivem, essas crianças crescem se sentindo num fantástico mundo que um dia, provavelmente, não será mais seu.

A SUV à porta da escola e as memoráveis viagens de férias às vezes levam à construção de seres visivelmente toscos. E quando muito, ao negarmos — coisa muito rara — algo desejado pelo filho, nos limitamos à velha frase: “Não reclame, há muita criança que não tem nem o que comer!”

Isso, de tão banalizado, não surte o menor efeito na criança, não a tira de seu conforto, não combate a síndrome do pensamento acelerado, não dá qualquer vantagem para a próxima postagem no TikTok ou Instagram. Essa criança sem dúvida, nesse momento, se sente a mais infeliz do universo e se envergonha por não ter aquilo que os colegas possuem e a escola nada faz para romper essa sanha consumista.

Às vezes geramos seres que se julgam superiores. E se habituam a praticar bullying com os demais. 

São crianças que se acham inteligentes. Não precisamos dessa inteligência imposta anos a fio pela fracassada pedagogia brasileira que só serve para alcançar boa pontuação no vestibular e nada mais. 

Certamente 70 por cento do que me enfiaram goela abaixo nos bancos escolares nunca utilizei e nem lembro mais. Desde uma simples equação de segundo grau. Se houvesse decidido ser engenheiro, aí sim teria que mergulhar na Matemática. A mim bastam as quatro operações e quando muito regra de três.

Há de se distinguir, portanto, o significado da inteligência. Desprezo a inteligência associada ao acúmulo de informação. Enalteço a inteligência vista como sinônimo de sabedoria. Burro é quem não pratica a humildade, a simplicidade e o amor ao próximo que nos traz sucesso enquanto espécie humana.

Não espero que sejamos todos minimalistas, mas que nossos filhos sintam-se felizes com o que possuem e com o que são graças a seus próprios esforços.

Infelizmente, porém, nós pais e mães temos cada vez menos tempo e somos cada vez mais insensíveis para os seres que estamos construindo enquanto exercemos nosso trabalho em empresas, hospitais e tribunais. 

O sucesso muitas vezes nos inebria. E mal sabemos que ao festejá-lo tanto, estamos trilhando um melancólico caminho para um derradeiro fracasso.

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