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Luiz Dias Guimarães

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Por lagoas e lembranças ao Sul

Buquebus descarta se instalar no Dique Mauá. A notícia de El País bastou para um turbilhão de lembranças. E daí? Daí que se tratam dos ‘hermanos’ do Uruguai e por pouco não somos um único país e um povo só.

E daí que desde o ministro Tarcísio de Freitas, e agora o Marcelo Sampaio, com o apoio entusiasmado do  embaixador Guillermo Valles , trabalhamos para recompor pontes e acessos, e implantar finalmente a hidrovia na Lagoa Mirim. Que interessa para a produção uruguaia e muito também para o Porto do Rio Grande (RS). Entre as obras, está a ponte histórica Barão de Mauá. Outra vez Mauá? Dique, ponte…sim, e banco também, pois foi nosso barão que fundou o Banco do Uruguai depois do Banco do Brasil.

Brasil e o Uruguai compartilham mais de mil quilômetros de fronteira e mantêm comércio bilateral de US$ 3 bilhões por ano. Somos unidos por laços históricos, econômicos e culturais. ”O que queremos é ver essa hidrovia operando e a região fronteiriça, sobretudo no sudeste gaúcho e no nordeste do Uruguai, prosperando”, disse o ministro Marcelo Sampaio.

E o que eu e o buquebus temos a ver com isso? O buquebus nada a ver comigo. Seu criador, o argentino naturalizado uruguaio López Mena, que criou o buquebus em 82, precisa expandir o terminal, mas rejeita instalar um novo no Dique Mauá porque os vizinhos não o querem lá. López Mena propôs que a Prefeitura de Montevidéu escolha, entre muitos projetos, um novo local que ele se compromete a construir custe quanto custar. De preferência, é claro, no porto.

Tenho laços históricos com o Uruguai, daí o turbilhão de lembranças. Em 75, a juventude e pouco dinheiro enfiaram-me em um  ônibus  de São Paulo, sul abaixo,  até chegar a  Punta Del Este e ser confundido no cassino com um tupamaro, guerrilheiro uruguaio, graças à minha imponente barba. Mas confesso, foi uma das melhores viagens da minha vida, olhando pela janela a Lagoa dos Patos. Quis um dia viver naquela choupana, da qual não desgrudava os olhos, perdida entre as ondas do mar e o gado que pastava calmamente.

Depois de ter me explicado em Punta, embarquei em Colônia para Buenos Aires. Seria a primeira visita das dezesseis que fiz à capital argentina, inebriado pelos acordes chorosos do bandoneon. Digo carinhosamente que o tango nasceu em Montevidéu, por obra do francês Carlos Gardel e o santista Alfredo Lepera. Até se tornar patrimônio nacional portenho. Minha admiração é tal que troquei a valsa pelo tango na festa de meu casamento.

Foi em um ‘buque’ que atravessei, madrugada adentro, a Baía do Prata. Não era ainda um ‘bus’, mas um pequeno navio com direito a tosco camarote.

O buquebus veio sete anos depois, e agora, atraque onde atracar, que leve muitas lembranças afetivas de três povos irmãos. Torço para que os esforços do Tarcísio, do Marcelo e do Guillermo virem realidade. Pois os novos caminhos não estarão levando apenas jovens com cara de tupamaros a terras internacionais, mas trazendo o que aquela gente produz.

O projeto vai viabilizar o acesso de embarcações uruguaias ao porto gaúcho por meio da conexão hidroviária entre a Lagoa Mirim e a Lagoa dos Patos. A dragagem e sinalização serão pelo canal de São Gonçalo, que conecta ambas as lagoas, no trecho entre o Canal do Sangradouro (Extremo Norte) e o Canal de Acesso ao Porto de Santa Vitória do Palmar (Extremo Sul).

O ministro Marcelo Sampaio tem pressa e quer finalizar o processo até o final do ano. Os estudos estão sendo revisados para apresentação ao Tribunal de Contas, publicação do edital pela Antaq e agendamento do leilão. A expectativa é que Argentina e Paraguai se associem num segundo momento a essa rota de integração de produtos, irmãos e histórias. Esse será o destaque do Mercosul Export, edição pioneira que abrirá em Montevidéu a temporada de fóruns regionais do Brasil Export em 2023. O presidente do Conselho Sul Export, Jesualdo Silva, está pessoalmente empenhado no tema, tal sua importância para sua região.

Quando isso tudo acontecer, o arroz do norte uruguaio poderá chegar ao Porto do Rio Grande, para lucro de ambos ‘hermanos’. E quem sabe eu possa voltar a percorrer aquelas paragens que um dia me fizeram sonhar em lá viver. Que seja ao som de violinos e bandoneons, provocando as mais latinas emoções como senti num tempo perdido pelas lagoas e o Prata sem buquebus.

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TAGS hidrovia Mercosul Ministério da Infraestrutura navegação Uruguai

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