Quem é você na fila do pão? Uma reflexão sobre a síndrome do impostor
“O Impostor sente que precisa provar todos os dias, não aos outros, mas a si mesmo que é obrigado a ultrapassar limites imaginários, cada vez maiores. Além da consequente exaustão que esse comportamento exerce sobre o corpo e a mente, o profissional afetado corre o sério risco de perder muitas oportunidades de crescimento profissional, por conta desse medo”
“Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo”
Trecho de Coração Tranquilo, canção de Walter Franco.
Você já deve ter ouvido falar em Síndrome do Impostor, padrão psicológico que causa sensação contínua de ansiedade, gerada pela insegurança, dúvidas, em relação à própria capacidade de obter sucesso profissional ou pessoal.
Autores a definem como uma “incapacidade de internalizar o sucesso”. Os afetados por essa síndrome entendem – erroneamente – que os bons resultados acontecem com eles por mera questão de sorte. Por causa disso, consideram-se uma fraude, que pode ser descoberta a qualquer momento. Sentem-se Impostores.
O interessante é que os “gatilhos” são disparados justamente nos momentos em que o profissional recebe uma promoção ou função de liderança que inclua maior responsabilidade ou visibilidade. O Impostor sente que precisa provar todos os dias, não aos outros, mas a si mesmo que é obrigado a ultrapassar limites imaginários, cada vez maiores. Além da consequente exaustão que esse comportamento exerce sobre o corpo e a mente, o profissional afetado corre o sério risco de perder muitas oportunidades de crescimento profissional, por conta desse medo.
Engenheiro que sou, não tenho formação técnica para discutir causas para esse mal, mas, baseado em minha experiência de mais 26 anos como Executivo de Recursos Humanos, posso dizer que, embora essa síndrome só tenha sido diagnosticada recentemente, existe – sem essa denominação – há bastante tempo. O nome que usamos hoje apareceu em 1978, quando as pesquisadoras Pauline Rose Clance e Suzanne Imes criaram o termo síndrome do impostor ou do impostorismo.
Não sendo psiquiatra ou psicólogo, não posso, tampouco, recomendar tratamentos (devo orientá-lo a procurar um deles se você sente os sintomas desse distúrbio). Mas posso dizer que o centro dessa síndrome passa pelo autoconhecimento. Como dizia Sócrates (o filósofo, não o jogador de futebol), “Conhece-te a ti mesmo”.
Talvez o que estejamos vendo hoje, num mundo dominado por tantas e tantas questões da saúde emocional, seja uma “evolução” (ou involução?) da insegurança natural, que todos nós temos. Todos os dias. Quem não se olha no espelho e pergunta a si mesmo quanto vale de verdade, profissionalmente falando? A maioria de nós, minutos depois, segue a vida, conscientes de nossos limites verdadeiros.
O suposto Impostor, não. Ele sempre “acha” que poderia ter feito mais, que não atingiu resultados, que poderia ter apresentado uma performance melhor. Mas isso é realmente verdade? O que dizem os números? Quais eram as metas verdadeiras? Trabalhar atentamente com fatos e dados é uma boa forma de saber quem somos, de verdade.
Outro fator a ser trabalhado é “carpe diem” (aproveite o dia). O Impostor relembra vivamente, em momentos de vitória, de seus momentos de fracasso passado (quem não os tem?), para justificar sua impotência imaginária naquele momento. O passado não volta, o futuro ainda não nos pertence. Só estamos filosoficamente vivos no momento presente. Então, vamos manter o foco no “agora”.
No fundo, no fundo, o Impostor compete consigo mesmo, mas considera fortemente as pessoas que o cercam. Então, outro comportamento a ser combatido é a preocupação exagerada com os outros e suas opiniões. Eu usei mal muito do meu tempo, preocupando-me com isso. Esqueça! É impossível agradar a todos. Agrade, com responsabilidade, a você mesmo e àqueles que realmente se importam com você. Os demais, bem, são os demais.
Um ponto, sobre o qual já escrevi em outros artigos, mas repetirei aqui, porque é algo que me incomoda demais: não dê muita importância às redes sociais. Elas são ótimas fontes de informação e de entretenimento. Só. Não dá para comparar as nossas vidas reais com os posts fictícios onde todos são felizes cem por cento do tempo. Isso não existe, logo não pode nos causar sensação de inferioridade. É muito mais provável que os verdadeiros impostores sejam os caçadores de likes que habitam nas redes. Fuja deles e viva a vida real, feita de muitos momentos felizes e outros, nem tanto. Mas todos verdadeiros.
No fim do dia, a escolha sempre será nossa. Só nossa. Lembra-se da história do copo meio cheio ou meio vazio? Pois é. A escolha é nossa.