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Maria Cristina Gontijo e Bruna Carolina Santos Gonçalves

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Roraima e os desafios para a consolidação de um hub logístico no Arco Norte do Brasil

Para muitos brasileiros, além da questão indígena, Roraima é somente mais um estado na região amazônica, cuja capital, Boa Vista, passou a ser protagonista da forte migração venezuelana que ocorre por aproximadamente uma década, devido à crise econômica e humanitária que assola o país vizinho.

O que pouco se sabe é que o estado nos últimos anos vem se fortalecendo como grande pólo de cultivo e exportação de soja, passando a garantir não só a segurança alimentar da Região Norte, mas também a de países vizinhos. Segundo dados da Secretaria de Planejamento (Seplan), foram registrados em 2018 o plantio de 18.000 hectares de soja no estado. Em 2022, os números passaram para 98.500 hectares. As projeções para 2023 são de 120.000 hectares cultivados, com a expectativa de 360.000 toneladas de soja.

Tal progresso é resultado, nos últimos anos, da somatória de esforços entre iniciativa privada, governo estadual e federal, por meios de ações de regularização fundiária, investimento em novas tecnologias de plantio e obediência as normas ambientais, o que passou a trazer segurança jurídica para investimentos na região do bioma amazônico.

Por outro lado, ainda existem desafios burocráticos para que o estado possa ter o protagonismo logístico que a geografia apresenta. O crescimento do agronegócio trouxe a necessidade de escoamento e armazenamento para os players do setor no estado de Roraima. Um dos maiores desafios reside na expectativa da ligação e saída para o Oceano Atlântico junto ao porto de Georgetown, na Guiana britânica, por meio da rota terrestre e fluvial para que as cargas possam ser escoadas.

Atualmente, a viagem entre Boa Vista e a Guiana por terra tem previsão estimada de 12 horas por rodovias rudimentares e sem infraestrutura, além de balsas, necessárias para que o deslocamento por terra ocorra. A rota disponível pela via fluvial e, posteriormente, marítima, para o escoamento da soja de Roraima, ainda se constitui na saída pelo Porto de Manaus. São aproximadamente 11 horas de viagem por terra até a chegada ao porto fluvial antes de chegar ao Oceano Atlântico. 

Para tanto, em agosto de 2019, o governo brasileiro, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), realizou reunião técnica bilateral com representantes da Guiana para discutir novos projetos para melhorias do acordo de cooperação entre Brasil e Guiana para o transporte de cargas e passageiros (ratificado em 2005), além da pauta estar presente também junto ao Ministério da Infraestrutura como medida necessária para a melhoria dos acessos entre Brasil e demais países da América do Sul. O estado passou a receber incentivos e obras começaram a sair do papel. As ações diplomáticas entre os países, que começaram a se fortalecer em 2005, passaram a se desenvolver de forma mais assertiva. 

O projeto de ligação entre Brasil e Guiana se tornou uma premissa não só para a competividade do agronegócio e consolidação do estado roraimense como um hub logístico no país, mas para o desenvolvimento econômico e social da região amazônica e da comunidade caribenha como um todo. Por meio da construção de um terminal de armazenamento, a cidade de Lethem (Guiana) teria papel fundamental também no aumento das relações comerciais com demais países da comunidade caribenha, em decorrência da ampliação da exportação de soja, carne e milho para a região caribenha.

Além da construção dos acessos entre Brasil e Guiana, o hub logístico também busca consolidação na medida em que houver a continuidade da construção do Linhão de Tucuruí no trecho Manaus a Boa Vista, além das obras de recuperação da BR-174 de Manaus a Pacaraima pelo atual governo.

A INFRA S.A., empresa pública federal responsável pelo apoio em projetos e construção de infraestruturas deve assumir protagonismo neste processo. Para tanto, a pauta precisa prevalecer junto ao Ministério dos Transportes e o diálogo com a iniciativa privada e com o país vizinho por meio do fortalecimento dos acordos internacionais por meio dos governos estadual e federal.

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TAGS bioma amazônico crise econômica e humanitária escoamento e armazenamento Governo estadual e Federal região amazônica Região Norte

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