Saída pela margem esquerda
Autoridades, empresários e especialistas dos setores portuário, de transportes, logística e infraestrutura têm chamado a atenção nos últimos anos para a questão dos acessos terrestres ao Porto de Santos. Eles alertam para o risco de um colapso devido aos gargalos logísticos que têm dificultado o escoamento eficiente das cargas. E uma das principais soluções propostas, se não a principal, é a construção de uma nova rodovia ligando a Grande São Paulo à região da Baixada Santista.
E quando se fala em uma ligação Planalto-Litoral, vem logo à cabeça as duas principais rodovias do Sistema Anchieta-Imigrantes que levam os motoristas do interior e da capital paulista para a praia: a via Anchieta e a rodovia dos Imigrantes. Normal, portanto, que se aponte a construção de uma terceira pista da Imigrantes como a principal alternativa para os caminhoneiros que seguem para o Porto de Santos. Lembrando que hoje eles só podem descer pela Anchieta, a mais antiga do sistema.
Mas será que não haveria outras vias melhores, mais viáveis? Há quem ache que sim. E isso foi exposto em um painel muito interessante do workshop “Debate sobre uma nova ligação do planalto à Baixada Santista”, promovido pelo Instituto de Engenharia e realizado no último dia 19. Na ocasião, os participantes foram unânimes ao afirmar que seria bem melhor uma conexão com a margem esquerda do Porto de Santos, do lado de Guarujá. E não uma terceira pista da Imigrantes, que, a exemplo das outras duas, conduziria à margem direita, em Santos.
Uma das participantes do painel, a gerente da empresa ALG Tamara Gaspar, citou até estudos publicados pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) dando conta de que 60% dos contêineres passam pela margem esquerda.
A ideia é que a nova ligação Planalto-Baixada parta do trecho do Rodoanel Leste conectando-se à Cônego Domênico Rangoni, outra rodovia do Sistema Anchieta-Imigrantes, mas que dá acesso direto a Guarujá.
Quem também defendeu essa conexão, tanto no workshop como em entrevista ao BE News foi o coordenador da Divisão Técnica de Navegação Interior e Portos do Instituto de Engenharia, José Wagner Ferreira. Ele especificou que a ligação partiria de Suzano, na Zona Leste da Região Metropolitana de São Paulo, atravessaria a Serra do Mar e chegaria à Cônego Domênico Rangoni.
Segundo ele, essa alternativa é interessante porque ajudaria a mitigar de forma significativa o problema dos gargalos nos acessos ao Porto de Santos e porque também contribuiria para o desenvolvimento das cidades das zonas leste da Grande São Paulo, como Suzano, e do próprio Estado, como o Vale do Paraíba.
Ainda de acordo com ele, outra região que seria contemplada é o sul de Minas Gerais. É o segundo maior polo do Estado, tanto de desenvolvimento industrial quanto de plataformas logísticas. Os caminhões que sairiam de lá seguiriam pela rodovia Fernão Dias até o trecho do Rodoanel Leste onde seria construída a nova ligação, facilitando o acesso ao Porto de Santos.
Foi por esse motivo que ele, ao discorrer sobre o projeto no workshop, disse a seguinte frase: “Isso não é uma rodovia de São Paulo, nem de Santos. É uma rodovia do Brasil”.
Agora, seja qual for o projeto, seja qual for o trajeto, já passou da hora de isso sair do papel. E essa urgência foi muito bem traduzida pelo CEO do Brasil Export, Fabrício Julião, nesse mesmo workshop. “Muitos me perguntam se eu aprovo o projeto A, B ou C. E eu digo que aprovo todos. Temos que apoiar todas as iniciativas apresentadas”.
Que qualquer uma delas vire realidade o quanto antes.