Sucesso profissional: o Ensino Superior é a única opção?
Parece-me um caminho natural, que não carrega com tanta responsabilidade a decisão de escolher uma carreira, sendo ainda tão jovem, desconhecendo as inúmeras possibilidades que o mercado de trabalho oferece hoje em dia. O próprio Senai, que citei acima, declara que 42% dos estudantes dessa faixa etária, pouco ou nada conhecem sobre cursos profissionalizantes.
“Sonhar é acordar-se para dentro”
Mario Quintana
Quero acompanhar o poeta Mario Quintana nessa afirmação, questionando um sonho que habita a imaginação de nós brasileiros há algumas gerações: o diploma universitário. E a ideia de que ele é o passaporte, talvez o único e melhor– e esse é o meu ponto – , para uma vida profissional de sucesso e, por consequência, o progresso socioeconômico. Não é verdade.
Há outros caminhos, como empreender, por exemplo. Ou a formação em Nível Técnico ou Tecnológica.
Por que estigmatizamos esses cursos, como algo de menor valor profissional?
Como é comum dizer que “o que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”, fui buscar por lá elementos para construirmos juntos a nossa análise. Os jovens americanos estão vivendo um fenômeno chamado “Toolbelt Generation”, ou seja, a geração disposta a usar o cinturão de ferramentas, típico da mão de obra que põe a mão na massa ou orienta diretamente o pessoal que o faz.
E por que se questionam? Porque muitos estão entendendo que o custo médio de US$ 40.000 investidos na formação superior, somado ao estresse de pagar os financiamentos, não compensa. Os números mostram que, desde o início da pandemia, cerca de 900.000 jovens optaram por não se matricularem numa Universidade.
Quatro em cada dez afirmam que a preocupação com o pagamento do débito afeta negativamente sua saúde emocional. Oito em dez afirmam que esse é um “enorme fardo” a ser carregado.
Quais são os outros números desse cenário? O custo da formação em nível técnico naquele país vai de US$ 3.600 a US$ 16.000, dependendo do tipo, e leva cerca de um ano para ser concluído. Um encanador (ou um profissional de instalação de aquecimento residencial) ganha em média US$ 61.550 anuais. O salário médio de um técnico é de US$ 48.060, pelo mesmo período, segundo o US Bureau of Labor Statistics.
Há um contraponto a essa conjuntura? Sim. Um estudo da Universidade Georgetown mostra que, até 2031, a compreensão completa e correta de 72% das atividades laborais dos postos de trabalho vai exigir nível superior de estudos. Leia-se capacidade de pesquisar. O mesmo estudo mostra que, ao final da carreira, um profissional de nível superior terá ganhos de US$ 1,2 milhão acima do profissional de nível médio.
E aqui no Brasil?
Aqui o aspecto financeiro pesa menos na decisão. Há muitas opções de qualidade com baixo custo. O aspecto cultural influencia mais.
Os números oficiais mostram que apenas 11% dos jovens entre 19 e 24 anos, a idade de fazer a opção sobre a carreira que seguirão, optam pelo Ensino Técnico. Em países como Alemanha, Suíça e Cingapura, esse número é de 44%. Quatro vezes mais.
Até aqui, não fiz julgamento de valor. Só apresentei os números.
Daqui para frente, farei o contrário: a defesa dos ensinos Técnico e Tecnológico como opção concreta de início de carreira, uma vez que os conhecimentos e habilidades que eles fornecem permitem uma inserção mais rápida e com qualidade no mercado de trabalho.
Nada impede que, mais tarde, com disciplina e dedicação, o acesso à Universidade seja feito também. Eu mesmo segui esse caminho: passei pela Aprendizagem Profissional no Senai, pelo curso técnico na mesma Instituição e – já trabalhando – para a universidade.
Parece-me um caminho natural, que não carrega com tanta responsabilidade a decisão de escolher uma carreira, sendo ainda tão jovem, desconhecendo as inúmeras possibilidades que o mercado de trabalho oferece hoje em dia. O próprio Senai, que citei acima, declara que 42% dos estudantes dessa faixa etária pouco ou nada conhecem sobre cursos profissionalizantes.
Outro argumento contra o certo desprezo que temos sobre os cursos técnicos e tecnológicos é que eles são voltados para áreas básicas do conhecimento. Não é verdade!
O Senac/RJ está lançando um programa denominado Etim – Estudo Técnico Integrado ao Médio – que oferece opções nas áreas de Administração, Multimídia e Inteligência Artificial. O Centro Paula Souza e as fatec’s e etec’s oferecem outro grande número de opções, que incluem Nutrição e Dietética, Gestão de Eventos, Gastronomia e Hospedagem.
As empresas passam a olhar esse mundo com outros olhos também. A Tetrapak, pela primeira vez, inclui níveis técnicos em seu programa chamado Futuros Talentos, com oportunidades nas áreas de Mecatrônica, Elétrica, Controle & Automação e Robótica.
Há um mundo de opções, variadas e sofisticadas, à disposição de quem tiver a visão de olhar esse universo, que é muito mais amplo do que os casos que cito aqui.
Já há uma luz no fim do túnel. De 2022 para 2023, houve uma alta de 12% nos ingressos aos cursos de Educação Profissional e Tecnológica.
Vamos acompanhar esses números, mas as palavras são disposição, disciplina e vontade de aprender e crescer. São elas que definirão o sucesso. Na vida, não apenas na escola.