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Luiz Dias Guimarães

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Tribos da involução

No mercado de trabalho, o setor de telemarketing será o mais afetado pela Inteligência Artificial, dizem os especialistas. Ainda bem, neste planeta em que a tecnologia compromete nossa sensibilidade e nossa inteligência. Estamos ficando imbecis nesse admirável mundo novo tribal.

O milênio trouxe avanços na ciência,  mas também a involução humana. As crianças são menos inteligentes que os pais, fato inédito na humanidade. E pior: despertou nosso lado mais primitivo ao adotarmos costumes antes só existentes em povos originários, como tatuar o corpo e pendurar argolas na orelha, nos lábio e no nariz.

Na era das redes sociais, tenho saudade dos balcões de padaria, onde se difamava apenas a boca pequena. Saudade também da bolinha de gude, do pião e das bonecas. Hoje, as bonecas são as próprias meninas, algumas já adultas, que cultuam o narcisismo no Instagram e fazem dancinhas no TikTok. Problema não é a tecnologia, é o quanto ela dá margem a nos tornarmos tão medíocres. A isso já chamam de tiktokização.

O icônico artista Andy Warhol, do século passado, disse que um dia todos teriam seus 15 minutos de glória e exposição. E o iluminado sociólogo Umberto Eco foi além, ao afirmar que as redes sociais deram voz aos imbecis. 

Nem tudo é tão ruim, eu sei. Mas confesso que fico muito triste com o que acontece hoje em dia. Não é só o telemarketing que vai perder empregos para a IA. Especialistas citam também professores, especialmente de línguas, de História , de Direito, profissionais de Contabilidade e vai por aí afora. Não está claro ainda o impacto disso tudo. Criam-se milhares de vagas na área de TI e perdem-se em outras. Em alguns casos, o robô substitui o humano, em outros a IA apenas auxilia os profissionais, como em diagnósticos mais precisos.

Sou do tempo em que inteligência era palavra única. Hoje temos a humana, a emocional e a artificial, e esta pode ser um perigo, como alertaram recentemente mais de mil especialistas ao se depararem com os avanços do GPT4. Sei de um caso em que um homem, ao se abrir com o chat sobre seu casamento, recebeu um conselho: separe-se dela.

Tínhamos a Barsa, hoje o Google. Mas nos bancos escolares, muitos professores descarregam dados sem qualquer serventia. E pouco instigam, pouco fazem nossas crianças pensarem, tampouco lerem.

Lado bom da substituição da inteligência humana pela artificial é deixarmos de sermos meros reprodutores de dados e informações, para nos ocuparmos mais com a competência do pensamento crítico, pouco explorado a se observar pela nossa idiotização.

Governantes agem para conter a torneira nefasta das redes sociais, que, ao desaguarem tanta besteira, estimulam o efeito manada nas crianças e adolescentes, para cumprirem desafios no TikTok como Baleia Azul e agora o Ameace sua Escola. 

O efeito manada está também em outras redes, onde os robôs alimentam a formação de verdadeiras tribos. Muitas vezes sem aprofundamento ideológico, mas muito mais por superficiais convicções. E aí vemos tantos conflitos mundo afora.

O embate ideológico sempre existiu, é reflexo do pensamento crítico e se baseia nos valores universais. Mas o que se vê muitas vezes são simples comportamentos irracionais. E isso acontece porque, não bastassem os efeitos sobre o cognitivo, há também sobre o emocional. 

Às vezes, penso que estamos ficando insensíveis e desumanos. Enviar roupas a flagelados depois da tragédia não nos torna necessariamente melhores. Muitas almas estão doentes, esse é o fato. E só quando contivermos os efeitos maléficos das inovações, poderemos reencontrar o caminho. Que nossos netos nos superem  em inteligência. E tribo volte a ser expressão da História na Barsa.

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TAGS inteligência artificial mercado de trabalho setor de telemarketing TikTok

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