Uma verdade que não pode ser ignorada
Alguns processos têm dominado os principais portos internacionais nos últimos anos. A crescente digitalização de procedimentos e operações, o incentivo à inovação tecnológica, a adoção de soluções sustentáveis e com menor impacto ambiental e a busca por uma maior eficiência administrativa estão entre as atuais tendências do setor, especialmente em países desenvolvidos. Outra delas é o desenvolvimento de planos de resiliência climática, já elaborados por vários complexos marítimos europeus (especialmente aqueles localizados na região do Mar do Norte, como Roterdã), asiáticos (chineses, inclusive) e norte-americanos (nas costas Oeste e Leste).
Esses planos reúnem diagnósticos sobre como as mudanças climáticas impactam e vão impactar os respectivos portos e que ações devem e podem ser adotadas para proteger as instalações e as operações.
Tal preocupação sempre se fez presente nos grandes complexos. Mas, curiosamente, era ignorada no sistema portuário brasileiro. Sobre isso, um executivo de uma companhia docas chegou a dizer que é difícil dar atenção a algo cujos grandes reflexos só serão percebidos em algumas décadas, especialmente quando há problemas mais gritantes e presentes, como a falta de acessos ferroviários às zonas portuárias. Diante do comentário, um pesquisador brasileiro respondeu que este era o momento de se analisar esses riscos, sim, pois os primeiros impactos, como a maior frequência de fenômenos climáticos intensos (fortes ressacas, grandes tempestades), já eram observados.
Polêmicas à parte, apenas no início da década passada, o debate que estava restrito ao mundo acadêmico chegou ao Governo Federal, que elaborou o estudo Brasil 2040, mapeando os riscos das mudanças climáticas para o País. Mas em 2013, às vésperas dos resultados dessa pesquisa serem anunciados, ela acabou engavetada.
Esse tema só voltou à tona anos depois, então pelas mãos da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), como destaca o diretor substituto da órgão, José Ribas Fialho, que trata dos riscos climáticos aos portos em entrevista exclusiva ao BE News nesta edição.
Como Fialho destaca, “a nossa infraestrutura portuária está sofrendo o impacto das mudanças climáticas”. E ironicamente, “foi percebido que há pouca iniciativa dos portos para se preparar ou para enfrentar as mudanças climáticas”.
A entrevista de Fialho mostra que Já passou da hora de os portos brasileiros começarem a tratar as mudanças climáticas e seus impactos com seriedade, analisando suas eventuais vulnerabilidades e como reduzi-las. Estudos iniciais já foram feitos pela Antaq, mas cabe às autoridades portuárias os aprofundarem, levando em consideração suas características geográficas, e se prepararem para se proteger.
Em jogo, estão as próprias instalações portuárias e sua capacidade para operar e atender às demandas da economia do País, está o próprio setor portuário, estratégico para o País.. O alerta está sendo dado e ignorar o problema é a pior das respostas.