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Luiz Dias Guimarães

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Você, um avatar

Cuidado, você pode ser um avatar. Não delete, seria suicídio!

Achamos que somos seres únicos abençoados pelo deus em que acreditamos. Seja um velhinho de barba, um gordinho careca sempre sentado de pernas cruzadas, seja quem for, até o Sol ou muitos outros personagens nos quais acreditamos e depositamos nossa fé e nossas esperanças. 

James Webb, o todo poderoso telescópio lançado a mais de um milhão de quilômetros da Terra, mostrou que existem milhões ou bilhões de galáxias no céu sob o qual namoramos, sonhamos ou corremos da chuva. James é um mensageiro com notícias inquietantes e assustadoras. Já achou galáxias que existiram há 700 milhões de anos após o Big Bang. 

A Via Láctea é apenas um grãozinho nesse universo atemporal. As imagens captadas por James são de milhões de anos atrás. O conceito de tempo parece não existir do nosso jeito.

O que é o tempo, afinal? Marcador da rotina diária? Da nossa idade?  Do próximo encontro com a namorada ou do vencimento do carnê? Começo a desconfiar que o tempo não existe, pois é uma relativa percepção. O que vemos no céu aconteceu há muito tempo ou quem sabe ainda acontecerá. Na prática, serve para o pessoal da logística calcular a distância para a carga. Serve também para os astrofísicos calcularem a distância em anos-luz.

E nós preocupados com a reunião de amanhã cedo. Talvez já tenha acontecido, apenas estamos atrasados em sua admissão. Louco, não, James?

Pior: James parece querer nos dizer ‘ Vocês não são únicos!’ O filme ET fez tanto sucesso porque deu vida e sentimento a um monstrinho. A  ficção demonstra que pode não ser ficção, mas sim antevisão, premonição, previsão, ou qualquer coisa mais real do que vemos à nossa frente. 

São muitas as revelações e revoluções. O que Orwell disse em 1984 acontece agora. Sorria, você está sendo filmado! Huxley tentou nos prevenir. Já há lugares regulamentando os carros voadores e nos Estados Unidos estão aceitando encomendas desses veículos como apareciam nos Jetsons. Espere poucos anos apenas para pedir um deles, autônomos, na janela do seu apartamento. Como um uber.

Mas também não é preciso voar. A pandemia mostrou que dá para ser um profissional virtual, em ‘home office’, enquanto não surge a transposição física de um lugar pra outro por um comando mental, tampouco a ubiqüidade. 

James não só mostrou que há mi ou bilhões de outras galáxias – ou havia ou haverá -, mas também captou vapor d’água e, ironia, dióxido de carbono por aí, e eu juro que não fomos nós terráqueos.

Como ainda acreditar que somos únicos, mesmo por aqui? A paleontologia já mostrou que o Mamute do interessante A Era do Gelo não foi nada perto de tantas outras espécies que já circularam pela rua onde moramos. 

Acabam de ser descobertas pegadas de dinossauros feitas há 116 milhões de anos em terras norte-americanas. América do Norte e América do Sul só se uniram recentemente, o que provocou  intercâmbio de espécies, após surgir o istmo do Panamá, mas outros ‘rex’ já existiam por aqui. 

O solo latino-americano começou a receber humanoides quando América do Sul e África eram uma coisa só. E uma das várias espécies humanas – das seis ao menos – caminhou para cá. Os achados contestam Darwin, brilhante na definição da evolução das espécies. Mas pelo jeito não viemos do macaco. Somos outros símios. 

 Será que nosso universo não é apenas o núcleo de um átomo na célula do meu cachorro? Ou vice-versa. Será que em alguma das 37,2 milhões de células de meu corpo, compostas de átomos que já se sabe não são indivisíveis, existe vida além de vírus, fungos e bactérias?

Cientistas canadenses acabam de constatar que a mais antiga forma de vida foi uma esponja! Uma esponja do tamanho de um grão de areia.

Agora surge a história do metaverso. E eu fico mais intrigado ainda. Já de muito nos víamos transportados para o mundo ficcional nos livros, no palco, no cinema e na tevê. Aí surgiram as redes sociais que abriram nossos recônditos subterrâneos e deixaram que falássemos o que não diríamos cara-a-cara. Até fizemos amizades e recebemos likes.

O Second Life, programa surgido há uns dez anos, permitiu viver imaginariamente outra vida. Começava a nascer o metaverso. Hoje o mundo se prepara. Deixaremos de ser nós mesmos para vivenciar todos nossos desejos, nossas opiniões, nossas frustrações e ódios, por meio de um avatar. Já há reuniões e cirurgias no metaverso. E soube que até  aconteceu processo jurídico de estupro virtual. Avatar safado esse!

Felipe Neto põe os adolescentes a assisti-lo ‘jogar’ num programa desses com seu avatar interagindo com os fãs. E não satisfeitos com a transposição para o mundo virtual, os criadores fizeram a conexão do virtual com o real. A rede Americanas acaba de lançar uma loja no metaverso. A ideia é que seu avatar possa comprar uma geladeira e você recebê-la de verdade em sua casa!

Diante de tudo que a ciência tem-nos revelado, continuo crendo em um deus. Alguém inventou tudo isso, não é possível! Pode ser uma entidade suprema ou um mecanismo natural que, através da energia eletromagnética, faz milagres, inspirações e premonições com inúmeros elétrons soltos por aí. Afinal, cada vez mais acredito na energia tão presente quanto o oxigênio.

É tudo tão louco, tão surpreendente e inovador que até a palavra avatar vem com roupagem nova. Avatar é hoje o auto-personagem que criamos nesse ambiente virtual. Mas originalmente, para os hindus, avatar é um ser superpoderoso e sobrenatural que volta-e-meia se corporifica. Talvez sejam nossos santos e os filhos de deus que admiramos e nos quais cremos.

Quem sabe, enfim, nós sejamos de fato o inverso do que supomos. Simplesmente um avatar na tela de um imenso computador. E o metaverso talvez seja na verdade este mundo que nós, meros mortais, supomos existir. 

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