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Luiz Dias Guimarães

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Vultos imortais nas cidades que se reinventam

As cidades são como nós. Carregam sua história como vivenciamos lembranças, às vezes necessitando de terapia para nos recompor. Cidades, quanto mais antigas, deitam no divã da revitalização urbana.

Assim é com Gênova, a milenar cidade portuária do Mar da Ligúria, no Mediterrâneo, que por séculos foi palco de bem-sucedidos mercadores competindo entre si, com palácios às custas do que traziam das Índias.

Só que nem tudo foram sempre luxuosas flores. Sua basílica que o diga, exibindo réplica da bomba que a atingiu, mas não explodiu, para lembrar o quanto genoveses sofreram com a guerra.

Não bastassem invasões e cruzadas, Gênova traz marcas medievais, árabes e renascentistas, numa miscelânea de edificações que foram ocupando desordenadamente o estreito espaço entre a montanha e os trapiches.

Por bom tempo, no século passado, recorreu a cirurgiões plásticos para apagar as cicatrizes da Grande Guerra. E agora se revitaliza com moderno waterfront, repleto de navios de cruzeiros e turbas de turistas a se encantarem com os palácios.

Mas o que mais me chama a atenção é a presença de Cristóvão Colombo. Os genoveses nunca deixaram de sonhar e ousar.

No Palácio Turci, erguido pelos Grimaldi há séculos, sede da Prefeitura desde 1850, seu salão principal ostenta a imagem de Colombo, disputando a atenção com a imensa tela do veneziano Marco Polo, desbravador também, cuja presença me fez lembrar a rivalidade com Veneza na conquista de especiarias e mares.

Na Europa, os vestígios da História são a alma de sua gente. Em alguns dias, numa romaria por Portugal, confirmei que as figuras notáveis jamais são esquecidas. Como Pedro I, o Pedro IV dos tropeiros, alcunha dos cidadãos do Porto, e Vasco da Gama para os moradores de Sines.

Na Universidade de Coimbra, reverencia-se nosso José Bonifácio, que foi deles também por alguns anos, assim como os igualmente santistas e irmãos Alexandre e Bartolomeu de Gusmão, o Padre Voador.

Nós, humanos,  simples mortais, cultivamos nossa memória afetiva com nossos pais e avós e as primeiras lembranças da infância.

As cidades europeias  cultivam sua história tornando-a um produto turístico. Uma história escrita num livro cujas páginas são as ruas, edificações e seus vultos. E por isso, sem esquecer dores e alegrias, exaltam figuras notáveis e tratam de rearranjar o espaço com novas atrações estéticas como um bolo.

Onde as cerejas têm nomes de quem para nós parecem meras lendas humanas mas são, para sua gente, imortais.

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TAGS luxuosas flores Mar da Ligúria Mediterrâneo terapia

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