Utilização do software viabiliza melhor planejamento das manobras dos navios (crédito: Divulgação/Porto de Pecém)
Região Nordeste
Pecém avança como o porto da energia verde
Complexo cearense já conta com 17 empresas interessadas em explorar produção de hidrogênio verde em sua área. As mais adiantadas planejam iniciar atividades em 2026
LEOPOLDO FIGUEIREDO
Pecém, no Ceará, se prepara para se tornar o porto da energia verde no Brasil. E a fim de atingir essa meta, sua direção aposta nas próprias características do complexo e, em especial, nos projetos relacionados com hidrogênio verde (H2V) que vem negociando nos últimos meses. Em entrevista exclusiva ao BE News, o presidente do Complexo Industrial e Portuário de Pecém, Danilo Serpa, admite que esta é uma jornada que não se limita ao território brasileiro.
“Temos o nosso protagonismo nacional e estamos trabalhando para nos tornarmos um grande fornecedor mundial de hidrogênio verde. Essa é uma tendência mundial. Está surgindo uma matriz energética sustentável e Pecém integra esse processo”, afirmou Danilo Serpa.
O hidrogênio verde é a denominação dada ao combustível hidrogênio (H2) em sua versão “verde”, ou seja, quando é produzido utilizando fontes de energia “limpa”, sem emissão de poluentes como o CO2, e renováveis, como ´é o caso da eólica (ventos) e da solar. Esse é um tipo de combustível cuja demanda só vai aumentar, especialmente diante dos compromissos assumidos pelos países no Acordo de Paris, que prevê a redução de emissões de gases do efeito estufa.
A revolução das energias verdes é um dos temas que será debatido no Nordeste Export 2022, evento regional do Brasil Export – Fórum Nacional de Logística e Infraestrutura Portuária que começa hoje, em Salvador. Seus debates serão transmitidos pelo site do BE News. (confira mais detalhes na página 7).
“Nos últimos anos, vem surgindo no planeta a demanda por uma matriz energética sustentável e o hidrogênio verde atende essa necessidade com perfeição. Para produzir hidrogênio, você tem de fazer a hidrólise da água, quebrando sua molécula (H2O) em gás hidrogênio (H2) e gás oxigênio (O2) e, para o combustível ser verde, esse processo deve utilizar energia limpa. E o Ceará tem energia eólica e solar, que podem até ser utilizadas conjuntamente”, explicou o executivo.
Levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgado no início deste ano aponta que 58% da matriz energética do Ceará é de fontes renováveis. No estado, da atual potência instalada de 5,14 gigawatts (GW), 2,48 GW (48,32%) vêm de parques eólicos e 498 megawatts (9,68%) das usinas solares.
Serpa ainda lembra que “temos energia e, em Pecém, temos nosso parque industrial, inclusive com nossa Zona de Processamento de Exportação (ZPE), que é uma free zone (área onde a produção voltada ao mercado externo recebe isenções tributárias). Ou seja, temos espaço para as fábricas de hidrogênio verde, temos um porto pronto para exportá-lo. Reunimos as condições para sermos o principal produtor de hidrogênio verde do Brasil e um grande fornecedor mundial. E o mercado já reconhece isso”
Demanda mundial
O presidente do Complexo de Pecém também destaca a demanda mundial pelo combustível verde, citando que a Europa vai necessitar de 32 gigawatts de energia verde a partir de 2030, devido a seus compromissos de descarbonização, ou seja, de redução do uso de fontes de energia que emitem gases do efeito estufa, como o CO2. E o complexo cearense tem o potencial de produzir até 12 gigawatts.
Esse cenário não é ignorado pelo mercado. A oferta de áreas e fontes de energia limpa e a localização estratégica – trata-se de um dos portos brasileiros mais próximos dos mercados do Norte do globo – já levaram o complexo industrial e portuário cearense a firmar, até o mês passado, 17 memorandos de entendimento com empresas interessadas em se instalar no local para produzir H2V. Algumas até já firmaram um pré-contrato de reserva de área. E os mais adiantados já planejam iniciar a produção do combustível limpo em 2026.
De acordo com o diretor-executivo de Engenharia de Pecém, Fábio Abreu, quando totalmente implantados, apenas esses 17 projetos terão uma capacidade de 10 gigawatts.
Parceiro europeu
Essa cadeia de negócios já conta com players estratégicos na Europa. Sócio do Governo do Ceará no Porto de Pecém (ele detém 30% das ações do empreendimento) e com uma equipe auxiliando o complexo cearense no projeto do combustível verde, o Porto de Roterdã, nos Países Baixos, o principal do Hemisfério Ocidental, já se prepara para se tornar o centro de recepção e distribuição do H2V brasileiro na Europa.
Sobre o transporte do hidrogênio verde para a Europa,o presidente do Complexo Industrial e Portuário de Pecém, Danilo Serpa, explica que, após a sua hidrólise e produção, o combustível é transformado em amônia (NH3) e, assim, exportado para seu destino final, onde é revertido para H2V. “Até então, é essa a tecnologia que a gente tem. Mas já sabemos que vários países, como Canadá, Japão e Estados Unidos, pesquisam novas formas para transportar o hidrogênio”, explicou.
Movimentação
O Porto de Pecém foi o segundo complexo marítimo em tonelagem de carga movimentada no ano passado, na Região Nordeste. Segundo levantamento da Autoridade Portuária e números atualizados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq, o órgão regulador do setor), 22.400.202 toneladas passaram por seus terminais em 2021. Em primeiro lugar, ficou Itaqui (MA), com 31,025 milhões de toneladas. Em terceiro, Suape (PE), com 22,079 milhões de toneladas.