O valor total do plano Safra é de R$ 275 bilhões, 9,1% a mais do que na edição passada. Desse montante, 15,8% serão destinados à agricultura familiar. No total, as ações previstas pelo governo somam R$ 85,7 bilhões para a agricultura familiar, um investimento 10% maior em relação à safra 2023/2024. Foto: Ematur/GO
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Plano Safra agrada setor, mas ainda enfrenta desafios para crédito
Especialistas dizem que plano é mais sustentável, mas ainda tem dificuldade na liberação de recursos
O anúncio do aguardado Plano Safra 2024/2025, realizado pelo governo federal na última semana, trouxe boas perspectivas para a agricultura familiar e chegou ao patamar recorde de R$ 76 bilhões, 6,2% a mais do que o da safra passada e um recorde histórico. O valor, comemorado pelo setor, no entanto, ainda traz desafios segundo especialistas em finanças.
O anúncio da criação de uma nova linha destinada à aquisição de motocultivadores, microtratores e implementos agrícolas de pequeno porte com juros de 2,5% ao ano também é um dos destaques que trouxe ânimo para o segmento.
“O pequeno agricultor precisa de incentivos do governo para poder manter e ampliar sua produção. Com os estímulos do Plano Safra ele poderá adquirir novos equipamentos para assim otimizar seu trabalho, aumentar sua produtividade e consequente lucratividade”, afirma o coordenador de Vendas e Marketing da Agritech, empresa voltada à fabricação de veículos para pequenos agricultores, Cesar Roberto Guimarães de Oliveira.
Conforme divulgado pelo governo federal, a liberação de R$ 76 bilhões envolve as linhas de crédito do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Além disso, cerca de 10 linhas de financiamento de crédito rural tiveram redução dos juros, como a de produção de alimentos como feijão, arroz, mandioca, leite, frutas e verduras, que passou de 4% para 3%.
“Estes incentivos auxiliam na manutenção das atividades da agricultura familiar, que enfrentam grandes desafios no campo dos investimentos, pois, na maior parte dos casos encontram dificuldades para acesso ao crédito para compra de máquinas e insumos”, explica Oliveira.
Limpo
O valor total do plano Safra é de R$ 275 bilhões, 9,1% a mais do que na edição passada. Desse montante, 15,8% serão destinados à agricultura familiar. No total, as ações previstas pelo governo somam R$ 85,7 bilhões para a agricultura familiar, um investimento 10% maior em relação à safra 2023/2024.
O Plano Safra da Agricultura Familiar 2024/25 entra para a história como o mais agroecológico também. A taxa de juros para a produção orgânica, agroecológica e de produtos da sociobiodiversidade será de 2% no custeio e 3% no investimento.
Outro destaque foi o lançamento do edital do programa Ecoforte, em seu maior valor histórico (R$ 100 milhões), para apoiar projetos de redes de agroecologia, extrativismo e produção orgânica. Outra iniciativa lançada foi o Campo à Mesa, um edital de R$ 35 milhões voltado a fomentar iniciativas que promovam a transição agroecológica.
Na visão do especialista em finanças Mariano Soares, o Plano traz importantes iniciativas voltadas para a adoção de tecnologias modernas, visando aumentar a eficiência produtiva e reduzir o impacto ambiental.
“As políticas de financiamento incentivam práticas agrícolas sustentáveis, como a integração lavoura-pecuária-floresta, e a adoção de tecnologias modernas para aumentar a eficiência produtiva e reduzir o impacto ao meio ambiente”, diz.
Desafios
Apesar do aumento significativo dos recursos, os médios e grandes produtores ainda enfrentam dificuldades consideráveis para acessar esse crédito, segundo o especialista.
Para ele, a burocracia excessiva na análise para obtenção do crédito, as exigências rigorosas de garantias reais e a avaliação estrita da capacidade de endividamento continuam sendo obstáculos significativos. Essas barreiras, de acordo com Soares, limitam o acesso ao financiamento, especialmente para pequenos e médios produtores.
“A análise exige comprovações como plano de plantio detalhado e laudo técnico de lavoura. Exige também garantias reais, como imóveis ou maquinário, um obstáculo significativo, especialmente para pequenos e médios produtores que podem não ter bens suficientes que suportem a obtenção do crédito, além da avaliação rigorosa da capacidade de pagamento, limitando o acesso para aqueles com histórico de endividamento elevado, baixa margem de lucro ou histórico de inadimplência”, conclui.