Região Sudeste
Porto Hack Santos: inclusão, conexão e pertencimento no porto do futuro
É o que almejam as mulheres profissionais do setor que participaram dos painéis do Porto Hack Santos, no primeiro dia do evento, no Terminal Marítimo de Passageiros Concais, no Porto de Santos
O porto do futuro deve ter inclusão e diversidade, conexão com as cidades e despertará a sensação de pertencimento na população. Esse é o desejo comum manifestado por profissionais que atuam no setor portuário, mulheres e homens, que participaram do primeiro dia do 2º Porto Hack Santos, no Terminal Marítimo de Passageiros (Concais), em Outeirinhos, no Porto de Santos (SP), ontem.
Com o tema “Conectividade Exponencial”, o evento é promovido pela Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (ABTRA) e organizado pelo Instituto AmiGU. Ele reúne 50 competidores divididos em dez times, que encararam dois desafios e devem apresentar soluções tecnológicas a eles: um ligado ao projeto Port Community System e o segundo – disputado, mentorado e julgado exclusivamente por mulheres – para prospectar novos modelos de negócio para recintos alfandegados. O time vencedor será conhecido no final da competição, neste domingo (31), às 17 horas. O prêmio é de R$ 25 mil.
Durante a abertura do encontro, o diretor-executivo da ABTRA, Angelino Caputo, disse que a tecnologia é uma aliada ao desenvolvimento e à eficiência na prestação do serviço logístico pelos terminais. “Se o porto for organizado, eficiente e competitivo, consegue a carga. Só que a eficiência depende da integração entre os atores e uma das principais condições para que haja essa integração é o compartilhamento de informações entre esses atores”, comentou, ao falar sobre os sistemas de tecnologia da informação utilizados na logística da carga.
Em paralelo e em adição à maratona, acontece a Expo “Um porto para o futuro”, composta por painéis inéditos para discutir empregabilidade nos portos, a relação porto-cidade, inovação tecnológica, entre outros temas.
A conectividade também foi o tema da palestra realizada pela CEO do Juicyhub, Ludmilla Rossi, que iniciou logo após a abertura do evento e foi o fio condutor do painel “Porto Hack Delas”, do qual participaram mulheres que se destacam no setor portuário. Uma delas foi a diretora da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Flávia Takafashi, “Não tem como falar de porto do futuro sem falar de acolhimento e conexões. Que a comunidade seja acolhida pelo porto cada vez mais e vice-versa” disse.
Outra participante do painel foi a fundadora do HUB Mulheres no COMEX, Carolina Marchioli. “Estamos aqui para fazer a conexão acontecer nessa relação porto-cidade. Que os terminais se conectem cada vez mais com as pessoas, com a cidade. O porto do futuro é um porto de conexões”, declarou.
Já a primeira operadora de portêiner da DPW Santos e do Porto de Santos, Fabiana Nascimento, enfatizou: “O porto do futuro é o da diversidade, que se escolha um profissional pela qualificação, independentemente da cor e do sexo. Esse é o porto do futuro”.
“O setor portuário tem grandes oportunidades para mulheres”, declarou a gerente de marketing do Terminal de Grãos MMW, do porto de Mykolaiv, a ucraniana Daria Chestina, que migrou para o Brasil fugindo da guerra em seu país e que participava do painel.
A diretora-executiva do Instituto Praticagem do Brasil, Jacqueline Wendpap, citou o projeto de educação que implementou no Paraná, conectando o Porto de Paranaguá às escolas. “Plantei uma semente no Porto de Paranaguá. Criamos o programa Porto-Escola. Todas as crianças de 10 a 11 anos passam um dia do ano letivo no porto e assim eles começam a entender um pouco da relação do porto com a cidade. O porto do futuro que eu desejo ver é um porto integrado com a cidade. É o porto que acolhe. É o porto do acolhimento em harmonia no espaço urbano em que ele se encontra”, disse Jacqueline.
“Que mais mulheres possam estar trabalhando com a gente. Eu também quero um porto mais inclusivo, que dê mais oportunidades para mulheres”, ressaltou a gerente jurídica da Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP) do Porto do Itaqui, Gabriela Heckler.
A mediadora do painel, Fernanda Machado, que é coordenadora-geral de Gestão de Portos da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da Infraestrutura finalizou o debate comentando: “Eu espero um porto mais acolhedor, diverso e integrado a todas as cidades portuárias”.
Hamburgo, na Alemanha, é modelo de integração porto-cidade, dizem especialistas
O Porto de Hamburgo, na Alemanha, e sua estrutura estratégica, dentro da zona urbana, foi o tema em destaque durante o segundo e último painel “Um porto para todos”. “É o terceiro maior porto da Europa e tem uma sinergia muito grande porto-cidade. O porto está localizado no meio da cidade e a relação é muito fluida. Ele foi estruturado de uma forma que as pessoas consigam ver e conviver de forma harmônica”, afirmou a representante no Brasil da American Association of Port Authorities (AAPA), Raquel Kibrit, uma das debatedoras convidadas.
A gerente jurídica da EMAP/Porto do Itaqui, Gabriela Heckler, que morou cinco anos na Alemanha, mencionou a integração do porto de Hamburgo com a cultura. “Hamburgo é conhecida pelo porto e pelos musicais. É a Nova York da Alemanha. São seis musicais fixos da Disney, que ficam do outro lado da margem, na parte do porto. Então, as pessoas que compram o ingresso dos musicais obrigatoriamente atravessam a via em um barco para o outro lado. É uma via livre para a população no mesmo canal onde os navios cruzam. E essa relação porto-cidade é harmônica”, comentou.
“Para a gente criar uma identidade como existe em Hamburgo, por exemplo, esse senso de pertencimento, a gente precisa saber o que busca no país. A partir do momento que a gente tiver todo mundo sentado à mesa, todos os players, todas as autoridades, estados, municípios, Governo Federal e a sociedade, a gente consegue criar essa sensação de pertencimento”, disse a jornalista e apresentadora programa Porto & Negócios, da Santa Cecília TV, Natalie Nanini.
Primeira e única gerente de operações da Multilog, Dunya Markiz disse que as empresas precisam investir em pessoas para conectá-las ao setor portuário. “Quando a gente fala de pertencimento, tecnologia e capital humano, como estará a nossa geração daqui a 10 anos? Interessada ou não em trabalhar nos portos? Se a iniciativa privada não tiver este incentivo, esta preocupação, ela será a primeira a sentir uma crise de mão de obra porque a gente não está fazendo essa conexão com a comunidade, não está desenvolvendo pessoas para que elas tenham interesse em trabalhar no porto, aliado à tecnologia. Nós vamos sentir essa dor se não fizermos esse investimento”, ressaltou Dunya.
“Quando a gente fala em inclusão, não pode culpar a iniciativa privada e o poder público, tem quer ser uma via de mão-dupla”, comentou o especialista em operação portuária de terminais, Marcelo Falcão.
Falcão destacou que a conexão com o porto começa na sala de aula. “No Ensino Fundamental tem que ter uma matéria voltada para o porto, para que a pessoa possa fazer uma escolha assertiva. Porque para trabalhar no porto precisa ter paixão. O porto paga um dos melhores salários, mas não pode ser só isso. A gente tem que fazer por amor. É um trabalho de base. É preciso ensinar o fundamento para o adolescente”, afirmou.
A mediadora do painel, Milena de Castro, que é gerente de comunicação da Abtra, falou sobre a campanha que será lançada em breve para dar mais visibilidade ao setor portuário. “A Abtra, em conjunto com várias associações empresariais do setor, está a alguns meses de lançar uma campanha nacional de valorização da imagem dos portos. Uma campanha, ainda tímida, nas redes sociais. Cinco entidades empresariais do setor vão fazer uma campanha conjunta com as empresas filiadas”.
PROGRAMAÇÃO
31/7 (domingo)
- 10h | Painel “Empregabilidade”
Presenças confirmadas: Elaine Póvoas, diretora de marketing e alianças na inventCloud; Jhenyffer Coutinho, CEO na Se Candidate, Mulher!; Flávia Marcon, gerente de marketplace do Magazine Luiza; Evelyn Santo de Lima, gerente de planejamento de operações da Santos Brasil; Micheli Junco, CTO b2mamy; e Tatyane Luncah, educadora e mentora de empresas e CEO da agência Grupo Projeto Digital.
- 11h45 | Painel “Transformação digital”
Presenças confirmadas: Angelino Caputo, diretor-executivo da ABTRA; Beatriz Rinn, CIO da Cisa Trading; Claudia Marquesani, CIO da PETZ; Juliana Rodrigues, gerente de TI da ABTRA; e Erika Faria, gerente de produto da Logcomex.
- 14h30 | Painel “Inclusão sociodigital”
Presenças confirmadas: Marco Riveiros, fundador do Instituto AmiGU; Jessica Felix, desenvolvedora Javascript; Vanessa Keite de Souza, presidente da ONG Amigos da ZN e Líder de Comunidades; Celso Azevedo, COO – I2A2 – Institut d’Intelligence Artificielle Appliquée; Leonardo Delfino, CEO Criando Valor, Tecnologia & Inovação; e Antonio Celso, professor da Fatec São Paulo.
- 17h | Final do Hackathon – apresentação dos pitchs (soluções tecnológicas) pelas dez equipes; avaliação do júri institucional e técnico; e anúncio dos vencedores
- 19h | Encerramento
Detalhes da programação: https://www.portohacksantos.com.br/ e https://www.umportoparaofuturo.org.br/. Interessados em participar, devem se inscrever em: https://bit.ly/cadastrostaffportohack.