O trecho concluído fica entre Estrela D´Oeste (SP) e Porto Nacional (TO), tem 1,537 km
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Porto seco de Anápolis deve viabilizar operação de contêineres
FNS atenderá toda a cadeia do agro, mas também operações com contêineres e carga geral
O Porto Seco de Anápolis, em Goiás, pode viabilizar a primeira operação de contêineres a ser feita pelos tramos central e sul da Ferrovia Norte-Sul (FNS), inaugurados no último dia 16, no Terminal Rodoferroviário da concessionária Rumo S.A., no município de Rio Verde (GO).
O trecho concluído fica entre Estrela D´Oeste (SP) e Porto Nacional (TO), tem 1,537 km, e era o último que faltava para que a FNS fosse concluída em seu traçado completo, que tem ao todo 2.257 quilômetros de trilhos e liga São Paulo ao Maranhão, na cidade de Açailândia.
Para o diretor de Assuntos Regulatórios da Rumo, Guilherme Penin, “provavelmente”, a primeira operação do trecho entregue da FNS será de contêiner, pela proximidade da ferrovia com o Porto Seco de Anápolis.
“O tramo atenderá não só toda a cadeia do agronegócio, mas também de carga geral. E temos perspectiva muito boa para contêiner, provavelmente a primeira operação será de contêiner pela proximidade com o Porto Seco de Anápolis, em Goiás. Tem um projeto também de contêineres, no Maranhão, em Davinopólis, em obras. Ou seja, são empreendimentos que precisavam apenas da conexão com a ferrovia. Agora é só questão de operacionalizar”, explica Penin.
A conclusão da FNS pode aumentar também a capacidade do escoamento de carga da região Centro-Oeste para o Porto de Santos (SP), já que ao chegar a Estrela D´Oeste (SP), os trilhos se conectam com a malha ferroviária paulista, que acessa o complexo portuário santista.
A ferrovia completa, aponta Penin, permitirá aos produtores do Norte do Goiás, Tocantins e Sul do Maranhão escolherem se as cargas serão destinadas ao Sudeste ou ao Nordeste, para o Porto do Itaqui.
“Para o produtor é uma questão de observar a competitividade, o custo e a eficiência dos sistemas”, diz o diretor.
Para ativar a ferrovia, a Rumo investiu R$ 4 bilhões em obras de infraestrutura, terminais e material rodante.
Divididas em três tramos – sul, central e norte – a via é operada pela Rumo e pela VLI – responsável pelo trecho entre Açailândia (MA) e Porto Nacional (MA).
NORTE SUL
A Ferrovia Norte-Sul abrange quatro das cinco regiões do Brasil (Centro-Oeste, Norte, Sudeste e Nordeste) e demorou 36 anos para ser concluída. Ela foi projetada para se tornar a espinha dorsal do transporte ferroviário do Brasil, integrando de maneira estratégica municípios produtores da região Centro-Oeste a cidades com acesso ao mar, como Santos, litoral de São Paulo, e Itaqui, na costa do Maranhão.
A conclusão da ferrovia permite, por exemplo, que Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, três estados com forte produção de commodities, como soja, milho e algodão, exportem seus produtos pelos portos de Santos ou do Itaqui.
A inauguração oficial, no último dia 16, em Rio Verde, esperava a presença do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que não pôde comparecer devido às condições climáticas que não permitiram que o avião presidencial levantasse voo da Base Aérea de Brasília. A diretoria da Rumo decidiu, então, adiar a inauguração e prometeu nova data para a cerimônia.
Confira mais detalhes sobre a FNS em entrevista com o diretor de Assuntos Regulatórios da Rumo, Guilherme Penin.
Mesmo sem a inauguração oficial do último trecho que faltava para a conclusão da Norte-Sul, ele já começa a operar?
Sim, a ferrovia está pronta, com os 1.537 quilômetros entregues. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) já recebeu todos os relatórios de comissionamento e a fase de testes vai até julho, quando a ANTT deve liberar para o tráfego comercial. No sentido Rio Verde e São Paulo ela já opera, agora passa a estar operacional também de Rio Verde sentido Porto Nacional, que era o trecho que faltava.
A conclusão desse trecho pode impactar no aumento da capacidade de escoamento de carga para o Porto de Santos?
Com certeza. No ano passado, fizemos 7 milhões de toneladas pela ferrovia operando apenas até Rio Verde. Agora, integrados à malha nacional, à malha paulista, que faz o acesso ao Porto de Santos, iniciamos as discussões com os produtores locais, não só de grãos, mas também projetos de combustíveis, fertilizantes, mineração, diversos tipos de carga,e contêiner.
E qual a estimativa para a capacidade de carga?
Ainda é difícil estimar qual será a capacidade de carga, mas sem dúvida aumenta e muito. Agora, o quanto disso vai ser captado pela ferrovia depende muito do mercado local, de quanto os produtores locais vão querer acessar a ferrovia. Mas a ferrovia é sim um agente indutor do aumento da produção regional e existem diversas estruturas próximas à ferrovia que podem rapidamente começar a operar por ela. Nós inauguramos dois terminais em 2021, o primeiro no Sul de Goiás, em São Simão, e o segundo em Rio Verde. Esses dois terminais fizeram no ano passado 7 milhões de toneladas. Com essa inauguração, se você pensar que ela vai potencializar novos terminais no centro e norte de Goiás e em todo o Tocantins, certamente tem um potencial muito grande de absorver novas cargas por ferrovia.
Existem projetos em discussão para atrair movimentação?
Sim, temos vários projetos em discussão com parceiros do estado de Goiás e Tocantins para o desenvolvimento de novos projetos logísticos nessas regiões. Uma, que já é realidade concreta desde o ano passado, é o fertilizante. Os trens que saem de Rio Verde, descem para Santos com soja, milho, farelo de soja, e voltam carregados com fertilizantes importados que entram pelo Porto de Santos. Chegando em Rio Verde, O fertilizante vai para uma fábrica aqui perto (Rio Verde) e é distribuído aos produtores de Goiás. Outra atividade é a movimentação de combustível. Aqui na entrada do terminal (da Rumo, em Rio Verde), existe uma obra de um terminal de combustível que vai fazer as duas vias também. O combustível vem da refinaria de Paulínia pela Norte Sul, descarrega na tancagem que está em obra neste momento, para posterior distribuição em Goiás, e na volta, leva etanol de milho e cana para a refinaria. Então teremos fluxo de líquidos nos dois sentidos – uma realidade que vai se concretizar tão logo essa obra de terminal seja concluída, prevista para o ano que vem.
A Ferrovia Norte Sul é capaz de se conectar também com a região Sul do país?
Toda a ferrovia no Sul do Brasil é em bitola de 1 metro, diferente dessa de 1m e 60. Existe uma conexão, mas ela não é operacional porque teria que fazer um transbordo na malha paulista, na região de Campinas, para um trem de bitola de 1 metro que acesse à malha Sul. Em tese seria possível nestes moldes.
É correto dizer que a conclusão da FNS facilita aos produtores do Centro-Oeste o acesso ao Porto do Itaqui, no Maranhão?
Já existe a operação para o Itaqui na Norte Sul lá em cima, no Maranhão, operada pela VLI. Para que a Rumo levasse cargas daqui (GO) até o Itaqui, teria que pedir direito de passagem. A beleza dessa integração ferroviária que está sendo feita hoje é que a região do meio ao norte de Goiás, todo o Tocantins e o Sul do Maranhão agora têm duas opções de escoamento: tanto pode descer para Santos como pode subir para o Itaqui. É questão de competitividade, custo e eficácia dos sistemas.
(*) A repórter Vanessa Pimentel viajou a Rio Verde (GO) a convite da Rumo Logística