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Região Sudeste

“Portos desempenham papel estratégico no lançamento de empresas azuis”

9 de julho de 2022 às 12:17
Bárbara Farias Enviar e-mail para o Autor

O diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria do Estado do Rio de Janeiro (Caerj), o cônsul honorário da Etiópia, Mario Scangarelli, avalia a relevância da participação do setor no fomento da economia azul no Brasil

Os portos têm papel estratégico no desenvolvimento da economia azul tanto no transporte de mercadorias quanto no turismo. A afirmação é do diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria do Estado do Rio de Janeiro (Caerj), o cônsul honorário da Etiópia, Mario Scangarelli, em entrevista exclusiva ao jornal BE News.

Scangarelli visitou Portugal entre os últimos dias 21 e 30 de junho, participando de eventos, conhecendo empresas e instituições que são referências no setor de comércio e indústria e debatendo a economia azul, voltada às riquezas provenientes do uso sustentável dos recursos dos oceanos.

A agenda começou pelo Global Innovation Summit, conferência que discutiu desafios referentes à tecnologia para o verde, transição digital e estratégia e elaboração de políticas. Houve apresentações sobre o Atlantic Smart Ports Blue Acceleration Network (AspBAN) — plataforma que transforma os portos em hubs de economia azul. Por fim, participou da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, realizada por Portugal e Quênia, de 27 de junho a 1º de julho.

“Os portos são uma das principais interfaces com o oceano, podendo desempenhar um papel estratégico como plataformas de lançamento para uma nova geração de empresas azuis. O Brasil, com um imenso litoral e uma forte vocação empreendedora, tem um potencial incrível que não podemos desperdiçar, e é nisso que apostamos”, afirmou o diretor executivo da Caerj.

Os portos brasileiros têm potencial para implementar negócios voltados à economia azul?

O potencial é enorme, temos que identificá-los! Precisamos investigar a dinâmica de institucionalização da sustentabilidade ambiental nos portos brasileiros e avaliar a forma como a integração do conceito da economia azul está em nossos portos, se limitada ou potenciada. Os portos desempenham um papel essencial no desenvolvimento da economia azul como ligação entre os espaços marítimo e terrestre, sendo um dos principais setores a se desenvolver na economia azul, não só no transporte de mercadorias, mas também de pessoas e turismo. Nos últimos anos, o conceito de economia azul desenvolveu-se como um paradigma sólido para a gestão abrangente e sustentável das zonas marinhas e costeiras e dos seus recursos naturais. Um dos seus princípios fundamentais é a coexistência coerente e otimizada de todos os setores de atividade, preservando a longo prazo a qualidade dos bens e serviços dos ecossistemas.

A Caerj liderou a viagem. Por que Lisboa foi escolhida para estar na programação?

Portugal está muito mais avançado do que o Brasil em economia azul, tanto que o ministro da Economia (Pedro Siza Vieira) implantou uma Secretaria do Mar face à importância desta pauta para a economia do país. Além disso, tivemos a oportunidade de conhecer o maior especialista em economia azul da Europa, o professor Álvaro Sardinha, que deu uma aula à comitiva sobre geração de receitas com o uso sustentável do mar. A escolha também se deveu a Portugal sediar o Fórum dos Oceanos da ONU que foi um excelente aprendizado para todos. É notória a importância da economia azul para a Europa e o Brasil precisa adotar este modelo de negócios com urgência. Tivemos a oportunidade de conhecer iniciativas e projetos desenvolvidos pelos portugueses que serviram de inspiração para darmos a largada em eventos e ações conjuntas para o desenvolvimento dessa economia no Brasil. Vamos utilizá-la como uma força produtiva que melhore a qualidade de vida e a renda e transforme o país em referência para outras nações.

Quais oportunidades de negócios sustentáveis foram conhecidas em Portugal e podem ser desenvolvidas no Brasil?

Tivemos a oportunidade de entender que tudo pode ser reaproveitado, desde que usemos a tecnologia existente no mundo para evitar poluir nossos rios, lagos e oceanos. Conhecemos muitos negócios interessantes e que funcionariam bem no Brasil, como, por exemplo, uma empresa holandesa que recolhe plásticos dos oceanos para transformar em produtos para utilização nos próprios oceanos, além de rios e lagos. A Secretaria de Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Rio de Janeiro (SEAS) aproveitou o Fórum da ONU para assinar o Acordo de Cooperação Técnica com a Águas de Portugal, uma excelente troca de experiências para o Comitê Guandu. E o mais importante: a vice-presidente da Caerj, Lindália Junqueira, em conjunto com a SEAS, trará para o Rio de Janeiro, o primeiro Bluetech da América Latina, conectando organizações corporativas do setor portuário e marítimo com startups para desenvolver projetos de inovação.

A Caerj pretende aprofundar estudos para viabilizar negócios voltados à economia azul?

Sim. E não só estudos e capacitação em oportunidades de negócios oriundos da economia azul, mas, principalmente, identificar quais setores podem ser beneficiados e impactados e buscar qualificação profissional, em especial para os jovens. A Caerj vai trazer para o Brasil o maior especialista no tema, o professor Sardinha que citei há pouco, para ser o ponto alto dessa qualificação.

Ao participar Conferência dos Oceanos da ONU, em Lisboa, qual é o balanço que o senhor faz sobre os conceitos e as iniciativas de mercado já implementadas na Europa voltadas à economia azul?

A Europa está muito avançada em relação à América Latina, por isso, a participação nestes eventos é estratégica para que as iniciativas pública e privada possam unir esforços para analisar os potenciais e implementá-los no Brasil. Precisamos ter o compromisso de preservar e combater a poluição marinha. No caso do plástico no oceano só aumenta, são 8 milhões de lixo descartados nos oceanos por ano. Sem uma ação urgente, esse número deve triplicar até 2040. Tivemos a oportunidade de ouvir especialistas para que ações possam ser tomadas para limpeza rápida dos oceanos. Debateu-se o desafio de obter tecnologias para reduzir os microplásticos que são liberados quando as roupas são lavadas. Preservar a vida marinha é fundamental para o equilíbrio do ecossistema global. Portanto, precisamos estabelecer uma meta de criar uma economia por meio do oceano que seja resiliente, sustentável, beneficie a todos, promova segurança alimentar e ajude a combater a poluição dos mares e a crise climática.

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