Agronegócio
Produtores agrícolas temem impactos a médio prazo
Invasão da Ucrânia pela Rússia eleva preço do petróleo Brent acima de US$ 100. Agronegócio prevê alta nos fertilizantes e risco de desabastecimento
A invasão e os ataques da Rússia à Ucrânia, iniciados ontem, já afetam o mercado financeiro. O preço do barril de petróleo Brent disparou e atingiu o pico de US$ 105,79 no início da tarde desta quinta-feira. Foi a maior alta desde 2014.
Apesar dessa valorização, o setor de transportes ainda não fala em aumentos no valor dos combustíveis e nos fretes. Já os produtores agrícolas do Sul do Brasil esperam uma majoração dos preços dos fertilizantes e não descartam risco de desabastecimento, caso a Rússia, principal fornecedora desse insumo no Brasil, saia do mercado devido ao conflito.
A Rússia responde por aproximadamente 24% do total de fertilizantes importados no Brasil. A Associação das Empresas Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs) não descarta risco de desabastecimento de fertilizantes a partir de maio, caso o conflito na Ucrânia se arraste pelos próximos meses. A associação diz que o setor tem estoque disponível, mas que está em alerta por causa da safra de verão, cujo plantio ocorre entre os meses de junho e julho, para colheita a partir de novembro e escoamento entre dezembro deste ano e fevereiro de 2023.
“Nós não descartamos o risco de desabastecimento, porque a Rússia é o principal fornecedor do agronegócio brasileiro. Hoje, o agronegócio importa mais de 30 milhões de toneladas de fertilizantes, sendo que aproximadamente 30% vêm da Rússia, algo em torno de 9,3 milhões de toneladas”, estima Roges Pagnussat, presidente da Acergs e do Sindiagro (Sindicato Intermunicipal do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios e de Produtos Químicos para Lavoura do Estado do Rio Grande do Sul).
Pagnussat afirma que, embora os produtores brasileiros também importem fertilizantes de países como a Arábia Saudita, França e China, deverão enfrentar alta de preços e falta de insumos específicos, se a Rússia suspender o fornecimento. “Caso a Rússia deixe de fornecer os fertilizantes, os demais países vão vender mais e elevar os preços. É lei da oferta e da procura. Então, o setor vai comprar o produto mais caro e esse custo adicional será repassado ao cliente.
Outro problema é que importamos três tipos de fertilizantes, os potássicos, os nitrogenados e os fosfatados. Os potássicos em maior quantidade e eles vêm da Rússia”, salienta.
Segundo o diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, desde o início da tensão entre a Rússia e a Ucrânia, o agronegócio vem buscando fontes alternativas para importar fertilizantes. “As soluções já estão sendo antecipadas. Cerca de 80% dos produtos já vêm de outros países. É uma questão, apenas, de aumentar a participação deles. Claro que, quando você tira um fornecedor que responde por 20%, pode acarretar um aumento de preços. Essa é uma consequência para os nossos custos. Mas, por outro lado, o nosso agronegócio é muito competitivo e, certamente, repassará esse aumento de custos aos seus clientes, o que também poderá representar um pequeno acréscimo na nossa inflação”, afirma Gleisner.
Para o representante da cadeia cerealista da Região Sul, Roges Pagnussat, ainda não foi definido quem poderá substituir a Rússia enquanto fornecedor. “Os outros países fornecedores são fracos em comparação à Rússia, nos tipos de fertilizantes e no volume de produção, Não atendem, no quadro atual, o mercado brasileiro. Não é uma alternativa interessante caso a Rússia suspenda o fornecimento”, afirma.
O Brasil também importa adubo de Belarus e da Ucrânia, este último país, alvo dos atuais ataques russos. Mas, segundo Pagnussat, e a importação desses países é ínfima.
Trigo para mercado interno?
Os produtores de trigo do Rio Grande do Sul projetam entregar 4 milhões de toneladas em 2022, volume superior
à safra de 2021, que atingiu 3,6 milhões de toneladas, de acordo com o presidente da ACERGS, Roges Pagnussat. “A produção de 2021 e a produção projetada para 2022 superam a média da série histórica em torno de 1,5 milhão de toneladas”, afirma.
Pagnussat diz que o trigo produzido no Rio Grande do Sul é para exportação. “Somos grandes produtores de trigo e exportamos para outros países porque o câmbio nos dá um preço melhor”. Mas, não descarta atender o mercado interno, em caso de escassez do grão importado. E cita o caso do Nordeste, por exemplo, que importa trigo da Argentina e da Ucrânia.
Sopesp
O Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) se manifestou em nota. “Para o Sopesp, reconstruir a paz e o diálogo entre as partes são pontos de extrema importância para o cenário atual. A entidade vem acompanhando as consequências e os impactos na chegada das commodities em alta (trigo e fertilizantes), além do preço do petróleo. O momento pede uma solução rápida para evitar maiores problemas nos fluxos de importação e, também, de suprimentos para o Brasil”, declarou.