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“Sopesp é referência no cenário nacional”
Gislaine Heredia nasceu no Rio de Janeiro e veio pequena para São Paulo, época em que sua brincadeira preferida era ser professora de Português, com direito a caderninho com nomes dos alunos. Com 15 anos começou a estagiar em um escritório de advocacia e quase trocou o velho sonho na hora de escolher a faculdade, mas prevaleceu Letras na USP, já que para tentar Direito no Largo São Francisco teria que arcar com custos de cursinho, o que não tinha condições na época.
Com 17 anos entrou na faculdade e logo depois se casou. A gravidez e as dificuldades que acompanham a chegada do primeiro filho fizeram com que abandonasse os estudos no segundo ano. “Eu era muito nova, entrei na paranoia que minha vida tinha acabado, achando que nunca mais poderia voltar a estudar, eu me desesperei. Parei com tudo e fiquei cuidando da minha filha até que completasse 4 anos. Então resolvi fazer Direito na Universidade São Judas e resgatar o tempo em que fiquei afastada”, conta.
Como já estava trabalhando como técnica de seguros, atuando na área de transporte marítimo, começou a conhecer melhor e a se identificar com o setor portuário. Tem pós-graduação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em Processo Civil e especialização em Direito do Trabalho Marítimo e Portuário pela Universidade Santa Cecília.
Gislaine se encontrou no Direito e incorporava esse conhecimento no trabalho com seguros: “Comecei a fazer ressarcimento por conta própria, acompanhava os processos jurídicos. Terminei a faculdade com quase 30 anos, queria continuar na seguradora como advogada e não como técnica de seguros, mas tive que assumir as duas funções”.
Depois foi para um grande escritório de advocacia também na área de seguros e, em seguida, para o Banco Santos como advogada responsável pela área de seguros e contencioso. “Fui galgando posições e fiquei até a empresa fechar. Veio o convite para montar o jurídico da Santos Brasil, onde fiquei por sete anos”.
Com a saída da Santos Brasil, montou o Heredia Advogados Associados há dez anos em Santos, mas continua morando em São Paulo. Desde 2015 é assessora jurídica e negociadora sindical do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo. Faz parte do Conselho Jurídico do Brasil Export, da Academia Brasileira do Direito Portuário e integra na OAB São Paulo a Comissão de Direito Marítimo, Portuário e Aduaneiro.
Contando com uma boa equipe de advogados em Santos, Gislaine explica que atende ao Sopesp 90% do seu tempo. Veste a camisa do Sopesp, que completa 30 anos em dezembro, com orgulho: “É um sindicato patronal bastante representativo com uma estrutura enxuta, mas eficiente. Quando fui chamada já conhecia o trabalho e a estrutura, tinha atuado como conselheira indicada pela Santos Brasil, acho que fui a única mulher conselheira até agora”.
Em sua atuação, acompanha a legislação portuária e dá respaldo para todos os operadores portuários associados, estudando as ações jurídicas e processos judiciais que podem impactar as atividades, os dissídios coletivos dos sindicatos dos trabalhadores de Santos e questões regulatórias. “Também temos comitê e grupo jurídico com as associadas, onde podem ser discutidos diversas questões no âmbito local e nacional. O trabalho no SOPESP também a aproximou da FENOP, onde foi possível conhecer melhor a operação portuária em outros estados, participando como coordenadora adjunta do comitê jurídico da FENOP.
Gislaine revela a mudança de perfil do sindicato nos últimos anos: “O Direito Marítimo e Portuário exige atualização constante, a legislação e a jurisprudência sofrem alterações constantes, é muito dinâmico, principalmente porque atuamos em várias frentes. O Sopesp é bastante representativo no cenário local e nacional, convivemos com questões relacionadas a capital e trabalho, como exclusividade nas contratações, treinamento, negociações, dificuldades locais, como acessos, infraestrutura portuária, dragagem, dentre outros”.
O reconhecimento veio com muito trabalho, modernização e o desafio de mudar paradigmas, ela diz: “O presidente Regis Prunzel e diretor executivo Ricardo Molitzas são muito atuantes e são vozes respeitadas no setor. Hoje o Sopesp tem um reconhecimento nacional, participando em muito no cenário portuário, não é mais só a questão capital e trabalho, ampliamos a atuação para aquilo que pode impactar os associados do SOPESP dentro do cenário do país”.
Para ela, muita coisa mudou e para melhor: “Ainda temos um grande desafio que é a negociação coletiva junto aos sindicatos. As relações trabalhistas são delicadas, mas o Sopesp ouve muito mais, sentamos para discutir com os sindicatos laborais e conseguimos este ano fechar quatro convenções coletivas, um fato inédito”.
A filha Bianca está com 31 anos, é publicitária e quis ficar bem longe do direito: “Ela criança dizia que eu trabalhava demais, que eu andava com livros pesados para cima e para baixo”, comenta a mãe. Os programas favoritos de Gislaine são encontrar os amigos, recebê-los em casa e dar muitas risadas. Ainda há tempo para filmes e para restaurantes. Em São Paulo, um de seus restaurantes preferidos é o espanhol Pepe, no Ipiranga: “Como eu e meu namorado somos descendentes de espanhóis, lá não tem erro”.