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Bombardeio no Líbano: o Irã controla o Estreito de Hormuz e segundo Ramalho, poderia, em retaliação a eventuais ataques, fechar a passagem, interrompendo o comércio de petróleo (Foto: Amr Abdallah Dalsh via Agência Brasil)

Internacional

Tensão no Oriente Médio pode desestabilizar mercado de petróleo

Atualizado em: 7 de outubro de 2024 às 4:15
Yousefe Sipp Enviar e-mail para o Autor

Ataques a instalações no Irã e fechamento do Estreito de Hormuz são riscos que podem elevar preços e colapsar fornecimento global

Os preços do petróleo registraram alta nesta semana, impulsionados pelos recentes conflitos no Oriente Médio e pela possibilidade de Israel realizar ataques a instalações petrolíferas no Irã. O país é um dos principais produtores mundiais da commodity, e uma ação militar pode afetar a oferta global, além de impactar o Estreito de Hormuz, passagem estratégica para o escoamento do petróleo produzido pelos países do Golfo.

Em entrevista concedida ao BE News na sexta-feira (4), o professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, do Instituto de Relações Internacionais (IREL) da Universidade de Brasília (UnB), analisou as possíveis consequências desses eventos para o setor de infraestrutura. Para ele, os riscos de aumento nos preços dos combustíveis são reais e podem ocorrer de duas maneiras.

“A primeira seria a realização de bombardeios no Irã. Isso desorganizaria o mercado global de petróleo”, afirmou o especialista.

Ramalho explica que, apesar das sanções impostas ao Irã e à Rússia, ambos ainda vendem petróleo por meio de mercados paralelos, beneficiando países como Índia e China com preços mais baixos. Um ataque ao Irã, que ocupa um papel central na produção global, poderia desestabilizar esse cenário, com impacto direto na oferta da matéria-prima.

Outro fator que preocupa é a questão logística. Ramalho destaca que o Irã controla o Estreito de Hormuz e poderia, em retaliação a eventuais ataques, fechar a passagem, interrompendo o comércio de petróleo na região. “Isso significaria um colapso no fornecimento”, alertou o professor, lembrando que cerca de 40% do comércio global de petróleo transita por essa rota.

Os contratos futuros de petróleo encerraram a sessão da bolsa de valores norte-americana de sexta-feira (4) com alta registrada. New York Mercantile Exchange (Nymex), o WTI para entrega em novembro teve um aumento de 0,90%, atingindo US$ 78,05 por barril. Por sua vez, o Brent com vencimento em dezembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), subiu 0,55%, alcançando US$ 74,38 por barril.

No acumulado da semana, o WTI apresentou uma elevação de 9,35%, enquanto o Brent registrou um aumento de 9,42%. Apesar dos riscos, Ramalho observa que as tensões no Oriente Médio não levaram, até agora, a um aumento significativo nos preços do petróleo. 

Ramalho detalhou essa estabilidade por dois fatores principais: a desaceleração da economia global e a expectativa de queda no consumo, resultado das medidas para conter a inflação, especialmente nos Estados Unidos e em outros países que têm elevado suas taxas de juros. Adicionalmente, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tem ajustado sua produção na tentativa de sustentar os preços em meio à redução da demanda.

Comércio exterior

Antônio Jorge Ramalho mencionou ainda que “o Brasil depende mais de derivados do petróleo do que do petróleo em si”. Ressaltando a necessidade de aumentar a capacidade de refino do país, atualmente atrasada, para suprir a demanda por fertilizantes.

Ramalho frisou que “a alta dependência da China como parceiro comercial representa um risco geopolítico”. Para mitigar isso, ele sugere que o Brasil diversifique suas relações comerciais e produza internamente o que necessita, incluindo fertilizantes químicos e biológicos.

O professor destacou que “a América do Sul, fisicamente isolada de conflitos internacionais, pode se tornar um mercado atraente”, especialmente se forem implementadas estratégias fiscais e tributárias adequadas. “Portanto, se soubermos entender esse processo, talvez possamos, inclusive, do ponto de vista econômico, nos beneficiar muito, embora, do ponto de vista humanitário, isso não interessa a ninguém”, finalizou Ramalho.

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