O aprofundamento do canal de acesso do complexo foi abordado pelos debatedores no painel “Principais desafios para o Porto de Santos - Análise da Concessão de Acessos”Crédito: Reprodução/DP World Brazil
Região Sudeste
Terminais cobram aprofundamento do canal do Porto de Santos
Representantes apontaram desvantagens causadas às operações pela falta de calado
Representantes de terminais portuários instalados no Porto de Santos (SP) cobraram urgência na realização da obra que prevê aumentar a profundidade do canal de acesso ao complexo de 15 metros para 17 metros, em duas etapas, ressaltando que a discussão já tem quase uma década.
O tema foi abordado no painel “Principais desafios para o Porto de Santos – Análise da Concessão de Acessos”, exposto no VI Congresso Brasileiro de Direito Marítimo e Portuário, promovido pela Associação Brasileira de Direito Marítimo e Portuário (ABDM) e pela Universidade Santa Cecília, em Santos, na quinta-feira (17). O evento segue nesta sexta-feira, com encerramento às 18h30.
Participaram da conversa Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária de Santos; Ricardo Molitzas, diretor executivo do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp); Caio Morel, diretor executivo da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres (Abratec); Fabio Siccherino, CEO da DP World Santos; Antonio Carlos Sepúlveda, CEO da Santos Brasil; e Jacqueline Wendpap, diretora executiva do Instituto Praticagem do Brasil. A moderação foi feita por Natalie Nanini, diretora de Jornalismo do Sistema Santa Cecília de Comunicação.
Questionado sobre as desvantagens causadas pela demora em aumentar o calado do canal do Porto de Santos, o que permitiria operações com navios maiores, Sepúlveda disse que o custo maior de frete é uma delas.
Ele também destacou que os navios atracados no terminal chegam a esperar nove horas pela subida da maré que permita o tráfego seguro.
“Tem operações em que os navios movimentam 3 mil contêineres em 24 horas, 30 horas, só que o navio chega a esperar nove horas pra poder ter uma janela de maré e conseguir sair do cais. Isso consome infraestrutura”, pontuou.
Com a dragagem de aprofundamento concluída, esse tempo poderia diminuir para 2h ou 2h30, apontou o CEO da Santos Brasil. “Se a gente resolve isso (aprofundamento) e consegue trocar de navio a cada duas horas por berço, é como se construíssem no Porto de Santos, da noite para o dia, mais dois berços. Traria de forma quase que imediata grande eficiência ao comércio exterior brasileiro”, detalhou.
Fabio Siccherino, CEO da DP World Santos, destacou que a dragagem de aprofundamento, caso seja concluída, fomentaria também a cabotagem.
“A gente reequilibra nossa matriz logística porque consolida Santos como hub port na costa brasileira e eu consigo fazer a distribuição (das cargas) pela cabotagem”, explicou, ressaltando em seguida que se a obra não for feita, o porto pode perder o protagonismo de hub port e as cargas podem migrar para outros estados em um processo natural de mercado.
Questionado sobre como a Autoridade Portuária pretende lidar com a questão, Pomini garantiu que a dragagem de aprofundamento será feita em dois anos. O que falta decidir é quem fará a obra, se o setor público ou privado. Citou ainda que o debate levanta a questão sobre um possível aprimoramento na legislação visando flexibilizar a burocracia que é imposta aos gestores públicos.
“Nós não confiamos na gestão pública e em razão disso criamos tantas normas. Talvez se estudarmos uma forma de atribuirmos transparência, conseguiríamos devolver credibilidade aos gestores públicos”, declarou o presidente da estatal.
Ele reafirmou que não é contrário a nenhum tipo de concessão, mas que são necessários estudos que embasem a decisão, evitando principalmente o aumento das tarifas portuárias. Também se disse aberto a possíveis novos modelos, entre eles a possibilidade de vincular o aprofundamento do canal na parceria público-privada da construção do túnel Santos-Guarujá.
Para Caio Morel, da Abratec, a solução ideal seria se a dragagem de aprofundamento fosse feita pelo poder público, e a de manutenção pelo privado. “Dragagem de aprofundamento é cara e se for feita pelo privado, obviamente o preço irá subir”, citou.