O advogado mineiro Gabriel Ribeiro Fajardo com apenas 30 anos de idade já enfrentou dois grandes desafios decorrentes de tragédias marcantes: o rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais, em 2015, e as enchentes no Rio Grande do Sul em abril/maio de 2024. Foto: Divulgação
Estilo BE
Um jovem idealista à frente de grandes projetos
O advogado mineiro Gabriel Ribeiro Fajardo com apenas 30 anos de idade já enfrentou dois grandes desafios decorrentes de tragédias marcantes: o rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais, em 2015, e as enchentes no Rio Grande do Sul em abril/maio de 2024.
Atualmente é secretário-adjunto da reconstrução do Rio Grande do Sul e é uma das lideranças desde maio à frente do Plano Rio Grande, o programa de Reconstrução, Adaptação e Resiliência Climática, criado para atenuar os impactos causados pelas enchentes que assolaram o Estado o ano passado.
Antes de ser chamado para atuar inicialmente como secretário-adjunto de parcerias e concessões do RS, foi subsecretário de transporte e mobilidade de Minas Gerais, superintendente de transportes e assessor chefe de relações intragovernamentais e responsável por projetos emblemáticos como o Rodoanel de Belo Horizonte, a linha 2 do metrô e o programa concessões rodoviárias, que mudaram e ainda vão mudar mais a face urbana das cidades e da infraestrutura mineira.
Geriu ainda, àquela época, o transporte coletivo metropolitano e intermunicipal de ônibus, as rodovias concedidas e os aeroportos mineiros em meio à pandemia da Covid-19. Recebeu, recentemente, o prêmio Gente que transforma, da Fundação Lemann.
Desde que chegou a Porto Alegre está bem adaptado, fez amigos e está entusiasmado com o que faz: “Nosso trabalho envolve todos os processos de reconstrução, de resiliência e de preparação do Estado para que novos possíveis eventos climáticos não tenham as mesmas consequências. Coordenamos, enquanto Secretaria, um fundo criado de 14 bilhões de reais para esse plano. Foi um esforço hercúleo de todos nos primeiros meses, principalmente quando era preciso lidar com a parte emergencial de salvar vidas, levar as pessoas para os abrigos. Esse foi um trabalho liderado pelo Vice-Governador e pelas forças de resposta. Depois, com a criação da Secretaria da Reconstrução, começamos a estruturar o plano de ações de médio e longo prazo”.
Todo o processo está bem adiantado, ele conta. Pelo regime de contratação integrada estão tocando os projetos para contenção das cheias, reforçando a segurança pública e a defesa civil com as medidas institucionais necessárias. “Conseguimos aprovar um projeto de lei para fazer o encadeamento de todas as ações, estamos construindo um centro integrado de operações do Estado para que tenhamos um lugar de atuação em tempo integral, além da reconstrução efetiva na recuperação de estradas e toda parte de reurbanização de cidades. Isso é um trabalho meritório de todas as secretarias de Estado, sob liderança do nosso Governador”.
Quando ocorreu a tragédia, mesmo sem luz durante três dias e 20 dias sem água em casa, Gabriel não parou um segundo com sua equipe. “Além da infraestrutura era preciso cuidar da questão emocional. As doações que chegaram de todo o Brasil e exterior foram fundamentais para a resposta rápida. Ficamos sem o centro administrativo do Estado, ficamos sem sistemas que caíram. Nesse primeiro momento de grande dificuldade, esse movimento de fora para dentro, do Brasil abraçar o Rio Grande do Sul, foi uma resposta essencial”, diz.
Acostumado com a garra dos mineiros, ele comenta que o gaúcho também é surpreendente: “Quando recebi o convite aceitei sem nunca ter pisado em Porto Alegre, mas logo me apaixonei pelo Sul. É um povo muito aguerrido, disposto a trabalhar, são bravos em todos os sentidos, para brigar e para se reerguer, um traço cultural muito marcante. Eu me senti em casa ao ter um Estado com personalidade parecida com o meu”.
Formado e com mestrado pela Universidade Federal de Minas Gerais, e professor do Insper e da Fundação Dom Cabral, até agora Gabriel sempre trabalhou no setor de infraestrutura, projetos públicos privados e concessões. Começou a dar aulas muito cedo na área de capacitação de gestores públicos e continua com muito prazer.
Chegou a atuar em um escritório de advocacia em São Paulo até ser chamado para a integrar um programa da Fundação Renova, projeto que foi criado pela Samarco na ocasião do desastre em Mariana: “Viajei a cidades mineiras e capixabas que foram atingidas na Bacia do Rio Doce para capacitar os gestores municiais. A empresa estava indenizando as cidades, mas os gestores não sabiam como contratar as obras, como fazer projetos, precisavam entender os processos burocráticos da gestão pública”.
Para ele, Direito era a única opção de profissão e só prestou vestibular na universidade federal de Minas. Assumir posições firmes faz parte do seu DNA, era sempre escolhido como representante da turma na escola, presidente de comissões e orador oficial.
A liderança é natural. Chefiou com sucesso uma equipe de 73 pessoas, todas mais velhas, quando estava no transporte e mobilidade de Minas Gerais. “Nunca me senti amedrontado com o tamanho dos desafios e sempre fui muito legitimado pelas minhas equipes de trabalho. Aqui no Sul vem sendo uma jornada marcante, o governador Eduardo Leite é muito aberto e tem sido uma experiência muito positiva.”.
Mesmo com muitos problemas pela frente, é otimista com o futuro do Rio Grande do Sul: “Vejo com muita prosperidade. Ao mesmo tempo em que foi uma enorme tragédia, foi também uma janela aberta de possibilidades para virar a chave, de organizar as pessoas em torno de um objetivo comum e construir uma nova realidade. O importante é deixar legados não de governo, mas de Estado, para que os ciclos políticos não atrapalhem o futuro. Temos que deixar como marcas o constrangimento para que as pessoas não descontinuem boas políticas e seja necessário um retrabalho”.
Investir tanto na vida profissional é uma constante na vida de Gabriel. Participa de eventos, dá cursos e palestras sobre parcerias público-privadas. Acha que passar um final de semana à toa é demais. “Conheço 26 estados do Brasil, mas a trabalho. Certa vez, de férias em Nova Iorque, acabei fazendo reunião online no Central Park. Sou daqueles que não consegue ver uma série ou ler um livro, não dá tempo. Não acho isso bonito, mas é um desafio para mim. Ainda tento ler quando estou no avião, mas agora colocaram wifi e piorou”, brinca.
Mesmo assim, garante que a prioridade é a família: “Sei que tenho um dever de casa que é também cuidar da minha saúde, e não descuido”.