Divulgação
tecnologia & inovação
Web Summit : Um turbilhão de emoções e experiências
“Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”: foi assim que me senti nos quatro dias de imersão do Web Summit. Múltiplos ambientes, múltiplas conexões, pessoas diversas, experiências plurais, atmosfera eletrizante, por vezes me bateu a tal da FOMO (Feeling of Missing Out), aquela sensação de estar perdendo algo, e por vezes escolhi JOMO (Joy of Missing Out). Aproveitei o momento e fui surpreendida e extasiada com aprendizado, networking e experiência.
O Web Summit aconteceu pela primeira vez no Rio de Janeiro e é uma celebração da crescente importância do Brasil e da América Latina no cenário tecnológico global. Este é uma das maiores e mais influentes conferências de tecnologia do mundo, reunindo empreendedores, investidores, líderes de empresas e entusiastas da tecnologia para discutir o presente, o futuro e compartilhar ideias inovadoras. Nesta edição, os principais debates foram sobre IA (inteligência artificial), suas possibilidades e limites éticos, Web3, ESG, criptomoedas, blockchain e o desenvolvimento de habilidades humanas, como criatividade e comunicação.
Diferente dos habituais eventos de tecnologia, o Web Summit teve 42% do público formado por mulheres (grande mérito do Women in Tech, que proporcionou um mega desconto nos ingressos femininos). Além disto, um grande número delas também subiu ao palco, o que foi lindo. Foi especial pra mim a presença em peso das MCIOs, grupo voluntário do qual faço parte e tem como meta impulsionar mulheres em tecnologia. Fomos brindadas com a palestra de sua presidente, Ione Coco, sobre este tema na Arena Senac, local que, inclusive, deu show de inclusão, oferecendo tradução para libras e transmissão ao vivo no YouTube.
Nem só de alegrias, vivemos no evento. Os primeiros dias foram desafiadores com falhas no som, falta de alimentos nos foodtrucks e grandes filas para tudo, tudo mesmo. As masterclasses, que eram sessões de 45 min com conteúdos mais ricos, viraram artigos de luxo, com filas de mais de 2 horas.
A saída do Rio Centro, na terça-feira, foi um caos. Protagonizamos cenas de pessoas andando feito zumbis em vão pelos portões e redondezas, atrás de um Uber sem sucesso. A organização melhorou gradualmente e terminou deixando espaço para um quero mais.
Agora vamos às alegrias: o grande presente do evento foram as pessoas e conexões. As trocas entre pavilhões, no gramado, nas filas, nos stands e nas palestras. Estive com talentos que sigo e conheço há anos no virtual, amigos com quem compartilho a jornada de tecnologia e carreira, outros que admiro e tive o prazer de conhecer melhor e outros, ainda, que lá descobri e definitivamente trarei pra minha rede de colaboração.
As startups tiveram espaço pra brilhar no evento, desde os pitchs até os stands, que foram organizados por seed stage, early stage e growth. Estiveram lá 974 startups, representando 28 indústrias, de 42 países. Faltou um espaço dedicado às logtechs. O maior foco foi em marketing, educação, cripto, finanças e saúde. A edtech Jade Autism foi a vencedora na competição de startups, com o propósito de promover educação inclusiva por meio de um software que ajuda crianças e adolescentes com TEA (Transtorno do Espectro Autismo).
IA foi o tema mais quente. Compartilho aqui um pouco das minhas experiências :
– Um app em 18 minutos. Foi assim que Thomas Dohmke, presidente do GitHub, mostrou o poder da ferramenta CoPilot, fazendo uma demonstração ao vivo. Ele acredita que a criatividade dos desenvolvedores deve ser usada para tarefas complexas, enquanto a IA pode acelerar o desenvolvimento em até 10x.
– A grande questão “A IA vai substituir o homem?” foi assim respondida com brilhantismo por Gabriel Challita, em sua masterclass : “O maestro continua existindo, mas a tecnologia ajuda a afinar os instrumentos. Profissões de repetição vão ter que mudar para outros espaços”.
– Mesmo os grandes não conseguem inovar sozinhos. É necessário humildade e pensar em maneiras de trazer soluções interessantes “de fora para dentro”, construindo ecossistemas colaborativos. Essa foi a mensagem da Embraer, da Vivo e do Itaú.
– “O ChatGPT parece aquele tio que aparece nos feriados, enche a cara e fala com confiança sobre temas de que ele não faz a mínima ideia. Pode ser engraçado nas reuniões de família, mas não devemos levar a sério. Não podemos transformar um chatbot numa ferramenta de pesquisa para nos informar sobre fatos reais”, disse Meredith Whittaker, presidente do app Signal. Dei risada e fiquei com a reflexão : “Será?”
– A palestra de Rebecca Parsons, CTO da Thoughtworks, clamou por assumirmos nossa responsabilidade sobre a tecnologia – afinal, tecnologias são moralmente neutras, o bem ou mal vem do ser humano. Algumas ações práticas: crie um guideline e metodologias pra tecnologia responsável, invista em proteção de dados, privacidade e transparência, elimine (ou audite) algoritmos tendenciosos, diversifique a força de trabalho, implemente um acessivo e inclusivo design.
– Aprendemos que a segurança deve ser ensinada às pessoas como um hábito.
Jeff Shiner e Brittany Kaiser destacaram que 80% das brechas de segurança ocorrem devido a sites com problemas e à reutilização de senhas. Ao discutir a relação entre IA e segurança da informação, percebemos que a IA pode ser uma faca de dois gumes.
– Sobre financeiras, teve papo com o presidente-executivo do Banco Itaú, Milton Maluhy Filho, que falou sobre o banco do futuro. Ele ressaltou, como receita de sucesso: gerar valor a nível individual ao cliente; atrair e reter talentos, em especial das próximas gerações; renovar a cultura das grandes empresas de fora pra dentro, através de startups cuidando para manter a autonomia e independência; e assumir responsabilidade sobre mudanças climáticas e a renovação da matriz energética.
Enfim, depois dos quatro dias, a certeza é que as conexões humanas e a inovação em rede suportada por todas estas tecnologias exponenciais podem criar futuros fantásticos, e precisamos trilhar este caminho com ética, inclusão, segurança e de forma sustentável. O Web Summit sempre esteve na minha lista de eventos desejados e assim seguirá. Agora teremos até 2028 pra vivenciá-lo em terras cariocas. Que venha 2024, pois sai de lá com gostinho de futuro.
A coluna tecnologia & inovação é uma contribuição do Conselho Brasil Tech Export, presidido pelo diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Angelino Caputo.