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Nacional

Lockdown na China atrasa entrega de cargas no Brasil

23 de abril de 2022 às 13:39
Bárbara Farias Enviar e-mail para o Autor

Ao menos sete navios de contêineres estão atrasados ou tiveram suas viagens canceladas na rota Ásia-Brasil

O lockdown imposto na China para contenção da forte onda de contágio da Covid-19 já provoca congestionamentos na logística dos portos do país e atrasa embarques e desembarques de cargas no Brasil. Os principais portos chineses, Xangai e Shenzhen, estão sobrecarregados e as operações de navios estão atrasadas ou foram canceladas. Analistas ouvidos pelo BE News afirmam que o lockdown já encarece os fretes marítimos e poderá, em breve, escalar ainda mais a inflação no Brasil.

Segundo dados do Ministério da Economia, a China é o principal parceiro comercial do Brasil. O país asiático é o maior fornecedor de produtos ao Brasil e, também, o maior importador das mercadorias brasileiras. No primeiro trimestre do ano, as exportações brasileiras para o país asiático, Hong Kong e Macau cresceram 9,9%, totalizando US$ 20,14 bilhões. Já às importações registraram um crescimento 32,9%, totalizando US$ 14,91 bilhões, no período de janeiro a março deste ano.

Especialista em transporte marítimo, o sócio-diretor da Solve, Leandro Barreto, afirmou que o lockdown na China já impacta o comércio com o Brasil. “Há uma desaceleração devido à queda das utilizações dos navios de exportação e atrasos/cancelamento de navios de importação”, constatou.

Barreto disse que ao menos sete navios que desembarcariam cargas no Brasil estão atrasados ou foram cancelados. “Navio parado é capacidade a menos no mercado. Tem pelo menos sete navios atrasados ou cancelados nos últimos três meses, isso equivale a 10% da capacidade dessa rota (Ásia-Brasil). Tem congestionamento, mas os armadores estão esperando para encher os navios”, explicou Barreto.

Barreto disse que o Porto de Xangai não tem mais capacidade para receber cargas perigosas ou contêineres reefer, os refrigerados, o que já impacta nas exportações de carne do Brasil para a China. “Os chineses afirmam que os portos operam normalmente, mas a produtividade caiu muito. Os pátios estão muito cheios, não tem tanto caminhoneiro trazendo ou levando carga embora. Os portos estão sobrecarregados. O navio chega e não tem onde descarregar. Isso já está afetando as exportações”, afirmou Barreto.

Segundo Barreto, os impactos já são fortemente sentidos no Brasil e no mundo porque Xangai é o maior porto mundial em movimentação de contêineres, seguido por Shenzhen. Enquanto Xangai é vocacionado para vestuário, calçados, entre outras mercadorias diversas, Shenzhen movimenta eletrônicos.

Em 2021, a rota Ásia-Brasil movimentou, em carga conteinerizada, 1,4 milhão de TEUs em importações (média 115 mil TEUs/mês) e 724 mil TEUs em exportações (média 60 mil TEUs/mês).

No entanto, as interrupções no comércio internacional entre a China e o Brasil desaceleram a escalada de preços do frete marítimo. Segundo Barreto, atualmente, o frete por contêiner está custando, em média, US$ 6 mil, muito abaixo dos US$ 10 mil praticados na virada do ano devido à queda na demanda de carga transportada. Contudo, esse valor é praticamente o dobro dos US$ 3 mil cobrados antes da pandemia.

“A gente já está vendo atrasos e cancelamentos na saída da Ásia e queda abrupta do frete. O frete que estava na casa dos US$ 10 mil, hoje custa entre US$ 5 mil, US$ 6 mil. Isso mostra que a demanda caiu. A demanda está fraca porque as fábricas chinesas estão paradas e os portos não estão embarcando tudo. Então, para o armador não sair com frete mais baixo e navio menos cheio, pois ele perde duas vezes, ele está segurando o navio nos portos”, afirmou Barreto.

O advogado Emanuel Pessoa, especializado em Direito Econômico Internacional, avaliou que a redução de oferta do frete pode elevar o preço do mesmo e das mercadorias, mas, no Brasil, com a pontual desvalorização cambial do dólar, o impacto desse aumento poderá ser menor. “A diminuição da oferta de frete encarece o frete, e a gente pode esperar aumento do preço do produto importado. Talvez, isso não chegue tão fortemente ao consumidor brasileiro porque o dólar, no Brasil, está se desvalorizando. Talvez, possa haver, aí, uma compensação. Mas, rigorosamente, se o câmbio estivesse estável, o que deveríamos esperar, sim, seria um aumento do preço de vários produtos que vêm da China, o que se refletiria na inflação”, explicou.

Pessoa observou que mercadoria parada no porto gera custo de armazenamento. “É muito provável que, num futuro próximo, se essa situação perdurar, a gente tenha aumento de preço de produtos no Brasil, especialmente, os industrializados, em função do que ocorre na China”, disse ele.

“Há dificuldade de saída de mercadorias da China, nesse momento, já compradas, contratadas e até mesmo pagas pelo Brasil”, afirmou Pessoa.

Gargalo logístico em Xangai não terá fim em curto prazo, diz Centronave

Os gargalos logísticos nos portos chineses, especialmente, o de Xangai, não serão solucionados em curto prazo, segundo avalia o Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave).

“No que diz respeito aos lockdowns que vêm ocorrendo na China, especialmente em Xangai, o maior impacto logístico observado até o momento tem sido na logística terrestre interna do país, no modal rodoviário”, afirmou o diretor-executivo do Centronave, Claudio Loureiro de Souza.

“Ainda é prematuro prever quando ocorrerá a normalização da cadeia logística na China. Há diversos fatores a serem considerados, principalmente a duração desse surto da variante ômicron e das medidas governamentais que serão tomadas, sendo certo que as autoridades estão atuando da melhor forma possível e por elas entendidas como as mais adequadas em cada caso, levando em consideração todo o contexto sanitário, operacional, logístico e industrial”, disse Souza.

Souza avaliou que o congestionamento logístico interno, na China, não será equacionado imediatamente após o fim dos lockdowns. “Outra preocupação a ser considerada, no futuro, será a possível sobrecarga de volumes acumulados de contêineres e o possível congestionamento na armazenagem de mercadorias assim que os lockdowns forem sendo encerrados e as restrições removidas”, salientou.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as autoridades chinesas estão enfrentando o maior surto de Covid-19 desde o início da pandemia, com uma variante híbrida de duas cepas da ômicron. Diante desse novo recorde de infecções, as autoridades de Xangai – onde se localizam os mais importantes terminais de contêineres do mundo – adotaram uma série de medidas rigorosas para controlar o contágio, causando interrupções significativas nas atividades locais de fabricação e transporte, o que inevitavelmente adiciona uma pressão extra no sistema logístico terrestre interno do país.

Segundo avaliações divulgadas recentemente, cerca de 200 milhões de pessoas e mais de 20 cidades chinesas estariam sob lockdown total ou parcial, com suas entradas e saídas rodoviárias bloqueadas total ou parcialmente. Com isso, o transporte terrestre interno do país foi bastante afetado e a cadeia interna de suprimentos está sob grande pressão.

O índice Caixin China General Manufacturing PMI, que mede o desempenho geral da produção do país, teve queda em março de 2022, com as taxas mais baixas vistas desde fevereiro de 2020.

Outro fator a ser considerado é que a testagem realizada na população e nos trabalhadores, incluindo os motoristas de caminhão, fazem com que as mercadorias se acumulem nos depots e instalações de armazenagem, inclusive nos portos. Esses são os principais fatores que estão resultando em um gargalo logístico interno e começando a gerar atrasos no transporte marítimo, devido ao acúmulo de bens e mercadorias parados.

Uma pesquisa publicada em 1º de abril pela Câmara de Comércio Americana com a participação de 167 empresas associadas — 120 das quais mantêm operações em Xangai — mostrou que 57% dos entrevistados sofreram interrupções em suas cadeias de suprimentos.

“Na semana passada, uma das principais empresas de transporte marítimo internacional avisou a seus clientes que as medidas de bloqueio poderiam restringir os serviços de transporte em até 30%. Diante desse cenário, algumas montadoras localizadas em Xangai e empresas portuárias anunciaram que estão começando a utilizar o ‘modelo de trabalho em ciclo fechado’, em que os trabalhadores dormem no local de trabalho para evitar o risco de infecções externas”, informou Souza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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