O presidente da Apex, Jorge Viana, deu a polêmica declaração durante o seminário organizado pelo Centro Brasileiro de Relações InternacionaisCrédito: Divulgação/Apex
Nacional
Câmara quer explicações de Alckmin sobre a fala do presidente da Apex
Em passagem pela China, Jorge Viana disse que a agricultura e a pecuária ocupam áreas provenientes do desmatamento na Amazônia
O vice-presidente e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, pode ser convocado na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados para explicar as falas do presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Jorge Viana, na última semana, durante passagem pela China.
Viana disse na ocasião que a agricultura e, sobretudo, a pecuária ocupam áreas provenientes do desmatamento na Amazônia.
“Quero dar números bem objetivos. Falei que 84 milhões de hectares foram desmatados. Para que essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária; 6 milhões para agricultura de grãos. E 15 milhões (são) de floresta secundária”, declarou.
O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) é o autor do requerimento de convocação que será analisado na próxima semana. A Apex é subordinada ao ministério de Alckmin.
“Causa-nos espanto o presidente do órgão responsável pela promoção das exportações brasileiras fazer uma declaração desse tipo em um evento feito justamente para promover o agronegócio brasileiro frente ao nosso maior mercado internacional. É espantoso não só pelo local em que foi feito. Mas, também, por repetir argumentos que não condizem com a realidade do agronegócio brasileiro”, disse o parlamentar.
Jorge Viana deu essa declaração durante o seminário organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Centro para a China e Globalização (CCG). Ele fazia parte do grupo brasileiro liderado pelo ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, que contava com mais de cem empresários ligados ao agronegócio.
“Se nós reconhecermos o que já foi feito de equivocado, teremos maiores condições de defender aquilo de bom que estamos fazendo na Amazônia ou procuramos fazer”, concluiu.
Reações
Desde então, a afirmação tem gerado repercussão negativa em Brasília. A ex-ministra da Agricultura e atual senadora Tereza Cristina (PP-MS) chamou de “insensatez” a fala do presidente da Apex.
“Que Apex é essa que acusa o agro de desmatar a Amazônia diante de nossos maiores clientes, na China? Querem derrubar de uma só vez a imagem do país, o saldo comercial e o PIB? É muita insensatez!”, disse.
O deputado Pedro Lupion (PP-PR), que assumiu recentemente a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), disse no Plenário da Câmara dos Deputados que a fala de Jorge Viana foi completamente “sem propósito e danosa à nossa economia e ao nosso país”.
Em nota, a FPA disse que “é intangível o estrago que um porta-voz brasileiro, responsável pela promoção das exportações, faz ao se permitir macular toda a pesquisa, tecnologia e precisão implantados pelo setor agropecuário, numa premissa ultrapassada desprovida de informações científicas e oficiais”.
A Frente também defendeu os números do agronegócio brasileiro com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “A área de uso do território nacional para agricultura e pecuária somam 27,8%, atrás de países como China, (55,1%), Alemanha (46,6%), Estados Unidos (41,3%) e Argentina (39%)”, diz a nota.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) enviou ofícios aos ministros Mauro Vieira, das Relações Exteriores; Geraldo Alckmin e Carlos Fávaro, expressando preocupação com a postura do presidente da Apex.
Para o presidente da confederação, João Martins, a posição é contrária aos objetivos da Apex-Brasil de promover as exportações e atrair investimentos para setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio.
O presidente da Apex, Jorge Viana, foi procurado pelo portal BE News para falar sobre o assunto, mas, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não ia conceder entrevistas por incompatibilidade na agenda.