O terceiro painel de ontem do Norte Export tratou da Zona Franca de Manaus e o cenário de reindustrialização no Brasil com viés regionalCrédito: Antonio Pereira
Norte Export
Zona Franca de Manaus está nos planos do novo governo, diz superintendente
Perspectivas para o polo industrial, que está prestes a completar 60 anos, foram discutidas em painel do Norte Export
A Zona Franca de Manaus e o cenário de reindustrialização no Brasil com viés regional foram tema do terceiro painel do segundo dia de debates do Fórum Norte Export 2023, realizado em Manaus (AM). Para a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o diálogo com o Governo Federal tem sido positivo nos primeiros meses do ano, enquanto que o setor industrial quer mais agilidade em tirar os projetos do papel.
Se aproximando dos seus 60 anos de existência, a Zona Franca de Manaus é um dos grandes pilares econômicos do Amazonas, e também do Brasil. Segundo Marcelo Souza Pereira, superintendente interino da Suframa, a mais recente transição de governos foi, em sua visão, muito benéfica pensando em planos futuros.
“Nas transições de governo, a Zona Franca de Manaus precisa se reafirmar sempre. É uma curva de aprendizado onde ela sempre começa do zero no primeiro dia do governo, seja qual ele for, para assim podermos dizer o que é a Zona Franca, para que ela serve e por que será útil. Nós já entramos no planejamento deste governo, que já sabe os pontos fortes e fracos, e o que precisa melhorar para torná-la mais competitiva”, analisou.
Para o superintendente da Suframa, o mesmo vale para a reindustrialização, no qual o Governo Federal já tem o seu plano, e beneficiará a região Norte com novas parcerias.
“Em janeiro já fomos convocados pelo Ministério da Indústria para participar do planejamento da estratégia de reindustrialização, que desde 2015 foi praticamente abandonado. Nós definimos uma pauta de reindustrialização, verde e tecnológica, que se alinha aos interesses da Zona Franca. Estamos em um momento de estreitar relações, entrar nesse planejamento, no mapa da indústria do futuro, para que a gente possa começar a tratar com parceiros internacionais”, afirmou.
Marcelo afirmou que a Suframa pleiteou junto ao Governo Federal a inclusão do Ministério das Relações Exteriores no Conselho de Administração da Superintendência. Entre as pautas que virão a ser discutidas em Brasília, já neste mês de abril, estarão tratativas de como alcançar portos do Pacífico, reduzir rotas para escoamento de produção e dialogar em como transformar plantas produtivas de Manaus em plantas já autorizadas para processos de exportação.
“Precisamos tratar de rotas de escoamento de produção. Nós temos o modal mais promissor do mundo, que é o aquaviário. Mas nós subutilizamos esse modal. É um grande problema que precisamos enfrentar”, disse.
Olhar industrial
Augusto Cesar Barreto Rocha, diretor adjunto da Federação da Indústria do Estado do Amazonas (FIEAM) defendeu que Manaus é, sim, uma cidade industrial. Dados informam que a atividade industrial no Amazonas corresponde a 36% do Estado, números maiores do que em estados do Pará e São Paulo, por exemplo.
“Manaus tem um modelo de muito êxito. A participação industrial vai até um pouco na contramão da desindustrialização, mas a indústria é muito forte em Manaus. É um modelo de sucesso, mas que pode ter muito mais se parar de ser atacado pelo próprio Brasil. A discussão atual é como se nosso competidor fosse São Paulo, ou Acre, quando na realidade deveria ser China, Estados Unidos, Bangladesh, qualquer outro país estrangeiro que está competindo pelo mercado global das indústrias. A gente precisa parar de se posicionar como se fosse estranho ter indústria em Manaus”, analisou.
Para ele, a infraestrutura na região Amazônica existe, é presente, mas é preciso um olhar diferente para alavancar maiores investimentos no setor e que projetos futuros consigam, enfim, sair do papel e não ficar somente em “discussões infinitas”.
“As parcerias e projetos do Governo Federal são fundamentais. Manaus está em uma situação privilegiada, onde podemos chegar em Brasília, mas também em toda a região norte da América do Sul. A cidade está estrategicamente bem posicionada para ser um hub aéreo na América do Sul, que é um projeto que se discute há décadas e fica em discussão. A lógica que nós temos tratado Manaus é quase um estorvo e algo negativo para o Brasil, sendo que, pelo seu posicionamento, todas as economias dos países vizinhos podem ser atendidas por aqui”, afirmou.
Representando o Governo do Estado, o secretário-executivo de Desenvolvimento, Gustavo Igrejas, afirmou que a Zona Franca passou a ter expertise no assunto industrialização.
“Existem paradigmas de que a Zona Franca precisa se reinventar, com viés do turismo, de diversificação e substituição da matriz. Só que essa substituição representa trocar um modelo que faturou 35 bilhões de dólares. Se fosse um país, representaria um dos 100 maiores PIBs do mundo”, comentou.
O painel teve apresentação de José Vitor Mamede, diretor-executivo do Brasil Export, que defendeu que todos os pontos apresentados para discussão precisam ser elaborados e trabalhados pelo desenvolvimento econômico da região e o futuro do Brasil.