Angelino Caputo, presidente do Brasil Tech Export e diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra)
tecnologia & inovação
Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0 – Onde estamos
Todo mundo sabe que a inovação tecnológica hoje em dia não para. A todo momento, alguém inventa algo inovador e o mercado corre para tentar se adaptar, sob o risco de ficar literalmente para trás em seu modelo de negócios.
Mas já houve um tempo em que os grandes saltos inovadores podiam ser claramente identificados, provocando grandes transformações econômicas, tecnológicas e sociais. Isso foi bem claro nas três revoluções industriais que antecederam a atual, onde as tecnologias emergentes tornavam praticamente obsoletas as anteriores.
A Primeira Revolução Industrial ocorreu entre o final do século XVIII e o começo do século XIX, com o surgimento das máquinas a vapor. Isso permitiu a mecanização da agricultura e da indústria têxtil. No final do século XIX, tivemos a Segunda Revolução Industrial, com o advento da eletricidade, o que possibilitou a produção em larga escala pelas fábricas. Já no final do século XX, tivemos a Terceira Revolução Industrial, com a chegada da informática, da microeletrônica e o avanço acelerado das telecomunicações. Hoje em dia, tudo está “no sistema” e, se o computador estiver fora do ar, ninguém faz mais nada!
Aí, por volta do ano de 2014, alguém observou a explosão de diversas tendências tecnológicas emergentes e declarou: “Estamos atravessando a Quarta Revolução Industrial. A forma como todos nós trabalharemos e nos relacionaremos jamais será a mesma!”
E quais eram, na época, essas tecnologias? Internet das Coisas, Big Data, Blockchain, Inteligência Artificial, Impressão 3D, Realidade Virtual/Aumentada e, mais adiante, entrou o assustador Metaverso.
Mas e aí, como está se desenvolvendo essa revolução? Se considerarmos literalmente o termo Indústria 4.0, ou seja, as principais inovações tecnológicas das áreas de automação e tecnologia que são aplicadas no “chão de fábrica”, na manufatura em si, é certo que já tem muita coisa funcionando. Várias máquinas, hoje, já trabalham sem a necessidade de um operador humano, exercendo funções cada vez mais complexas. Dessa forma, as indústrias puderam passar a contar com a execução, de forma automatizada, de tarefas que antes eram consideradas exclusivas do intelecto humano, fazendo isso por meio de algoritmos que possibilitam que as máquinas examinem um número exorbitante de dados em uma altíssima velocidade.
Ou seja, dá para ver que IoT, Big Data e Inteligência Artificial já chegaram lá.
Às vezes, um operador humano ainda ajuda a máquina. Em recente visita que fizemos ao Porto de Singapura, descobrimos que um operador remoto “controla” simultaneamente oito portêineres, que são aqueles enormes guindastes que colocam e tiram os contêineres dos navios.
Essa já foi uma evolução da situação que observamos em 2019, no mesmo porto, onde o mesmo operador controlava quatro portêineres. Mas o que impressiona é saber que, no projeto de expansão do porto, a relação vai ser de um operador humano para 20 portêineres, ou seja, as máquinas estão ficando cada vez mais independentes e dispensando a ajuda humana.
Saindo do uso mais profissional ou empresarial e olhando do ponto de vista das pessoas físicas, ainda não observamos muitas mudanças significativas. Um ou outro indivíduo possui um dispositivo wearable (vestível), como um relógio cheio de sensores ou óculos digitais, mas nada que esteja popularizado para o cidadão comum. O tal de Metaverso, então, parece que foi mais um fogo de palha, assim como o seu predecessor, o Second Life. O Facebook até correu para mudar seu nome para Meta, mas pelo visto ficou por aí mesmo, ou restrito aos joguinhos, como o Roblox ou Sandbox.
Quem de fato tem feito sucesso no âmbito popular é a Inteligência Artificial. Essa, sim, está se consolidando como a principal tecnologia da Quarta Revolução Industrial. A maioria das pessoas já sabe o que é o ChatGPT ou até já deu uma brincadinha com ele.
Mas nada está garantido. Parece que já não fazem mais revoluções industriais como antigamente. A partir de agora, a única coisa constante será a mudança e nós é que teremos de ter velocidade para nos adaptarmos e absorvermos essas inovações que todos os dias nos surpreendem.