Porto de Sines funcionaria como um estratégico centro de transbordo, recebendo gás dos EUA e distribuindo para o resto da Europa
Portugal
Portugal quer Sines como o porto do gás natural para Europa
Primeiro-ministro António Costa confirma tratativas com Polônia e Alemanha para complexo marítimo se tornar hub do combustível no continente
O Porto de Sines, em Portugal, poderá se tornar um estratégico centro de transbordo para distribuição de gás natural liquefeito (GNL) aos países europeus. As negociações entre Portugal, Polônia e Alemanha para desenvolver uma via de abastecimento alternativa ao gás russo estão avançadas.
Em recente entrevista à rádio portuguesa Antena 1, o presidente do Conselho da Administração dos Portos de Sines e do Algarve (APS), José Luís Cacho, garantiu que o complexo portuário tem capacidade para se tornar um entreposto de distribuição de gás natural para a Europa, reduzindo a dependência energética em relação à Rússia em até 20%.
Cacho coordenou o grupo de trabalho que avaliou as condições para transformar o porto em uma espécie de “autoestrada de gás natural para a Europa” e garante que, do ponto de vista técnico, Sines tem capacidade para exercer esse papel, segundo divulgou a Antena 1.
O administrador do Porto de Sines estimou os investimentos necessários. “Varia entre 3 milhões e 100 milhões de euros de investimentos, sendo 3 milhões de euros no curto prazo e 100 milhões de euros para investimentos em equipamentos, infraestruturas marítimas e ampliação das instalações que temos hoje”, afirmou Cacho.
Há cerca de 10 dias, o presidente do Conselho de Administração declarou à agência de notícias AFP que “Sines tem condições para chegar a 10 milhões de toneladas”. “É preciso duplicar as atuais infraestruturas para atingir esses números, mas os investimentos são relativamente pequenos e, se for tomada agora uma decisão, podemos ter a sua concretização dentro de um ano ou dois”, salientou à época.
José Luís Cacho disse que o projeto prevê a construção de um depósito de gás natural liquefeito (GNL) no terminal da REN – Redes Energéticas Nacionais, que tem um custo estimado em 30 milhões de euros.
Segundo o executivo, Portugal e Espanha podem encaminhar até 20% das necessidades de gás da Europa por via marítima e através de um gasoduto de ligação à Argélia.
Na última sexta-feira (20), o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, confirmou que as negociações com os governos da Polônia, Alemanha e de outros países da União Europeia estão “ao mais alto nível”.
“Precisamos de respostas imediatas: estamos a discutir com o governo polaco, assim como com outros governos europeus, a possibilidade de utilizar o Porto de Sines como uma plataforma de transferência a partir de grandes navios metaneiros para outros de médias e pequenas dimensões. Esses navios menores terão melhores condições para operar nas zonas mais congestionadas do Mar do Norte e do Báltico”, declarou o primeiro-ministro português.
“O estudo técnico está completo” e trata-se de “uma solução viável, flexível e alternativa, pois Sines tem uma posição geográfica central no Atlântico”, disse uma fonte do governo, que acrescenta que “os portos do Norte da Europa estão muito congestionados e acomodar um número grande de navios de maior capacidade é um risco”.
O governo português defende que Sines — o porto europeu de águas profundas mais próximo da costa dos Estados Unidos — pode ser uma porta de entrada para o GNL de países como EUA, Nigéria e Trinidad e Tobago.
Polônia interessada
O primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, confirmou que o seu país está interessado num acordo de cooperação com Portugal. “A Polônia está a tornar-se um centro de gás, por isso, se pudéssemos obter gás adicional dos nossos vizinhos ocidentais ou do Sul, que seria distribuído para a Polônia, estaríamos mais interessados neste tipo de cooperação com Portugal”, disse, após encontro com Costa.