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No escritório de Flávia, menino não entra
Com apenas 26 anos de idade, Flávia Fardim Antunes Bringhenti foi coordenar o departamento jurídico da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa, hoje Vports). Bonita, inteligente, engraçada e apaixonada pela profissão que escolheu, Flávia enfrentou um ambiente majoritariamente masculino. Não foi nada fácil, mas mesmo assim ficou durante dez anos, tempo de aprendizagem pessoal e profissional.
“Não havia qualquer tipo de sororidade, os homens não tinham paciência para ensinar e compartilhar informações. O cais também era um ambiente masculino, como é até hoje, e não abriam espaço para uma jovem se colocar. Quando eu ia buscar escritórios de advocacia na área portuária, só encontrava homens também. Era um espaço inóspito para uma mulher e senti que seria difícil eu frutificar ali”.
Envolvida com as questões portuárias, resolveu fazer um esforço extra. “Fui buscar especialização em Unisantos, na cidade de Santos (SP), e viajava todo final de semana, e nessa fase meu marido foi muito parceiro com nossa filha pequena. Comecei a ler muitos livros do setor, escrever artigos, participar de fóruns e audiências públicas, acompanhar de perto o trabalho da Antaq e do Ministério dos Transportes”.
Dos tempos da Codesa traz laços profissionais e pessoais que vêm até hoje: “Minha escola foi lá, ao lado de trabalhadores portuários e empresários que dedicaram e dedicam a vida ao porto, eles me ensinam e me inspiram todos os dias.
Flávia faz questão de dizer que nunca foi assediada e com o tempo mostrou sua competência. “Quando eu saí, percebi que 20 anos depois a situação era a mesma: faltavam mulheres na área. Resolvi que, quando tivesse condições, só empregaria mulheres”.
Quando saiu da Codesa foi atrás do sonho e abriu com a sócia Nathália o Fardim & Burian Advogadas Associadas. Hoje são dez mulheres atuando em consultorias para nichos específicos na área portuária. “Tenho o maior orgulho de falar nisso, é um escritório de excelência e no meu cantinho estou fazendo a diferença para muitas mulheres que trabalham comigo e que tiveram oportunidades”.
Integrante do Conselho Jurídico do Brasil Export, Flávia vai presidir um painel do Sudeste Export, marcado para os dias 28 e 29 de agosto em Belo Horizonte. O debate será sobre as nuances e limites da regulação no setor portuária e o papel de todos os poderes envolvidos. “É importante considerar a autoregulação como um fomento de políticas públicas para o setor”.
Nasceu e mora em Vitória, Espírito Santo, embora divida o tempo com muitas viagens a trabalho. “É uma cidade maravilhosa, é uma ilha muito parecida com o Rio de Janeiro, sem os problemas estruturais e temos tudo por aqui”, diz orgulhosa.
Flávia veio de uma família de professores e o sonho do pai era que fizesse Medicina. Até tentou o vestibular, mas resolveu que Direito era o seu caminho. Formou-se em 1998 na Universidade de Vila Velha e seu primeiro estágio, voluntário por um ano, foi no escritório do genro de um advogado amigo de infância do seu avô, que era caminhoneiros. Quando saiu para assumir o cargo no porto, já estava coordenando o departamento trabalhista.
Atualmente é assessora jurídica da Federação Nacional das Operações Portuárias – Fenop, coordena o jurídico do Comitê Nacional de Ogmos (Órgão de Gestão de Mão de Obra), é advogada do Ogmo do Espírito Santo, do Sindicato dos Operadores Portuários do Espírito Santo e diversos terminais portuários. “Temos uma atuação empresarial forte na área de terceirização de serviços na área portuária e basicamente no direito da regulação, infraestrutura e modais portuário e ferroviário”.
Como participante do assessoramento de proponentes no BID da Vports, e próxima da Antaq, da Secretaria de Portos e do Ministério da Infraestrutura na área de concessões e arrendamentos, fala com propriedade sobre a privatização da Codesa: “. Estamos muito apreensivos, foi um projeto piloto do governo passado, nós trabalhamos muito para alterar algumas questões no edital e na forma; na maioria não fomos atendidos. Infelizmente, ainda não aconteceu”.
Em setembro vai fazer um ano que o contrato de concessão do porto foi assinado e Flávia explica que na prática ainda não ocorreu nenhuma modificação: “Óbvio que temos que dar tempo para que as coisas aconteçam, vemos com bons olhos o time que a Vportos está montando com executivos experientes contratados para tocar a administração do porto”.
A expectativa para o próximo ano é a criação de incentivos, com uma política tarifária mais ajustada à situação do porto de Vitória. “Esperamos que as reduções de tarifa, como determinado em Santos e Rio de Janeiro aconteçam aqui também para que os operadores portuários e os terminais possam ter mais condições de competitividade e atrair cargas e receitas”.
Flávia nunca pensou em fazer concurso público e garante que a lida diária com o Direito Marítimo e Portuário é fascinante e está totalmente realizada. Leitora voraz, lê pelo menos um livro por semana, e Jane Austen é sua autora preferida. A paixão pela literatura é tanta que já chegou a perder avião lendo na sala de embarque.
A outra paixão é música: “Faço tudo com música. Eu, meu marido Franklin e minha filha Valentina somos fãs de rock, viajamos o mundo atrás de bandas de rock como Kiss e Iron Maiden, entre outras. Chego no show de camiseta preta, maquiagem escura. Algumas pessoas me encontram e estranham o visual”, conta.
Flávia se diz muito organizada sem ser chata, mas não consegue lidar com falta de rotina e coisas fora de lugar. “Sou uma pessoa que arruma cama de hotel”. Libriana com ascendente em escorpião, passa longe do temperamento indeciso do signo solar e seu lema de vida é a frase que usou no convite do aniversário de 45 anos: A vida é de quem se atreve a viver. “Eu sempre fui atrevida, saí de um bairro de subúrbio da grande Vitória e graças a meus pais que me proporcionaram valores e boa formação conquistei meus objetivos”.