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Bernadete, no comando das finanças da APS
Wlademir Bacellar era de Belém do Pará e oficial da Marinha Mercante. Na cidade portuária de Itajaí conheceu Sulamita Brüning e se apaixonaram, foi amor à primeira vista. Como ele achava Santos a cidade mais linda do mundo, resolveram morar aqui. Pais de Bernadete Bacellar do Carmo Mercier, passaram para a filha o amor pela cidade.
Mestre e Doutora em Direito pela Universidade Católica de Santos, Bernadete é a primeira mulher a ocupar o cargo de Diretora de Administração e Finanças da Autoridade Portuária de Santos, e desde o início do ano está entusiasmada com os desafios. A empresa era velha conhecida: foi Superintendente e Gerente Jurídica de 2009 a 2015.
Conheceu Márcio França, atual ministro de Portos e Aeroportos, na faculdade, e quando ele assumiu a Prefeitura de São Vicente, em 1997, fez o convite para que ela conduzisse a Assessoria Jurídica. Foi Secretária de Negócios Jurídicos da Prefeitura de 2001 a 2004 e de 2017 a 2020. Como Assessora Parlamentar de França na Câmara Federal, ficou entre 2007 a 2008. De 2021 a 2023 atuou na Assessoria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Guarujá.
A experiência no setor público é grande, mas não esconde que a grande paixão é dar aulas. É Professora Titular de graduação em Direito das cadeiras de Ciência Política e Direito Constitucional I da Universidade Santa Cecília, desde 2000. “Nunca parei de dar aula, é vocacionado, eu me realizo muito como professora”, diz.
Quem deu o empurrão definitivo para o Direito foi o professor de Matemática Vincenzo Bongiovanni, nas aulas do cursinho. “Pelas minhas posturas, ele dizia que eu deveria ser advogada. Eu sempre fui engajada em várias lutas, participei do Comitê de Defesa da Amazônia, fui da Pastoral da Juventude na época do movimento novo da igreja pela opção preferencial pelos pobres, levava abaixo-assinado contra a instalação de usina nuclear na reserva da Jureia. Minha tese de doutorado foi sobre regularização fundiária e urbanização de favela, tenho um livro sobre o tema e também trabalhei nesse setor na Prefeitura de São Vicente”.
Para Bernadete, a questão pública traz muitos desafios: “Uma prefeitura como a de São Vicente, por exemplo, luta com muita dificuldade, não é como Santos e Guarujá, que têm um porto como grande gerador de emprego, renda e tributos. No Jurídico, tínhamos que fazer o possível para garantir arrecadação, facilitar parcelamentos e benefícios aos contribuintes para que o Poder Público pudesse se autogerir”.
Desde abril na APS, ficou muito feliz ao aceitar o convite do Ministro Márcio França. “Administração e finanças são dois ramos importantes, a diretoria cuida de pagamentos, pessoal, formação, treinamento, licitações e pregões, contratos administrativos e toda parte de contabilidade. Há uma preocupação grande da empresa em incentivar o conhecimento, fazer parcerias com universidades e com a parte sociocultural. Reabrimos o Museu do Porto e outras atividades virão”.
Trabalhar com Pomini é muito produtivo, segundo ela: “O Presidente é dinâmico, faz reuniões diárias, ele nos motiva com seu exemplo. Logo se inteirou da atividade portuária, foi visitar os terminais e conhece os problemas com profundidade”.
Bernadete explica que percebeu muitas diferenças nessa nova fase da empresa. “Era uma economia mista e virou estatal, a legislação é outra, seguimos a Lei das Estatais, o nosso orçamento interno também foi ampliado. Antes dependíamos de aporte da União para investimentos maiores, mas hoje não há essa dependência. A missão é dar mais execução ao orçamento, ver o que as áreas precisam para ir adiante nos projetos”.
Atualmente a APS tem várias metas: “Queremos tornar a empresa segura para os funcionários e dar apoio aos treinamentos. Outro objetivo é criar um núcleo de inovação, para incentivar a apresentação de projetos, dar bolsas, abrir para a academia, é bem vasto”.
A prioridade é fazer um concurso para mais de 200 vagas até o final do ano. “A gestão anterior promoveu demissões incentivadas, só que o corpo funcional ficou desfalcado, todas as áreas reclamam que estão sobrecarregadas. Pedimos as autorizações necessárias e estamos formando a comissão para escolher a fundação que vai ficar à frente”.
Outro ponto é realizar as obras de investimento que não foram feitas, como a melhoria das perimetrais, dragagem de aprofundamento, implantação do VTMS, além do Túnel de ligação seca Santos e Guarujá. “A equipe precisa de mão de obra para ajudar nos projetos em andamento, planejamento de novas ações, tem a questão dos leilões para os quais se fazem necessários estudos de viabilidade técnica econômica para fundamentá-los visando arrendamentos futuros ou prorrogações contratuais”.
Sobre o túnel, comenta que o Governo Federal definirá melhor a modelagem: “Primeiro pensou em obra pública, com aporte da união, agora como Parceria Público Privada. Já previmos para o ano que vem verbas orçamentárias para fazer os estudos, posto que precisamos ainda ter um custo da obra o mais próximo possível da realidade em razão das alterações propostas pelas cidades nas desembocaduras, para quando for feita a licitação internacional o parceiro privado tenha conhecimento do valor mais aproximado. Não será uma PPP Administrativa, porque o parceiro privado cobrará a tarifa e terá como reaver senão todo, mas grande parte do investimento; o parceiro público só aporta o que faltar, e se faltar”.
Uma boa notícia é que a empresa está gastando com dragagem menos do que o previsto no orçamento, o processo tem sido muito eficiente e só é necessário refazer pontualmente alguns trechos.
Quanto ao VTMS (Vessel Traffic Management Information System ou Sistema de Gestão de Tráfego de Embarcações), Bernadete informa que há verba para começar os estudos ainda esse ano, mas o processo vai até 2025, provavelmente: “É um sistema complicado, vai agilizar e monitorar todo o tráfego de navios. A Praticagem faz isso conosco, eles têm o sistema de monitoramento. Parte do serviço continuará sendo feito por eles, a condução é serviço nato deles e há necessidade de ser feito. Nossa parte será melhorar o monitoramento para o tráfego”.
Assim como seus pais escolheram Santos, Bernadete nem pensa em sair da cidade. Gosta de caminhar na praia e andar de bicicleta. “Só olhar o horizonte e ver o mar, os jardins, dá uma paz muito grande”. O marido Carlos Eduardo e os filhos Guilherme (que mora em Washington) e Isabel, também advogada, são sempre as prioridades e as grandes alegrias da vida.