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Cris Dutra, batalhando pelas mulheres dos portos

23 de setembro de 2023 às 7:56
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

 

 

Gerente Executiva da Federação Nacional das Operações Portuárias (FENOP) há sete anos, Cris Dutra deixou Porto Alegre no ano 1999 e chegou à Brasília com a cara e a coragem. Acompanhando o marido que foi transferido e com o filho Juliano muito pequeno, ela sofreu para encontrar trabalho, mesmo com a experiência de muitos anos atuando na área de gestão de pessoas, em um hospital de Porto Alegre: “Foi um parto, não conhecia ninguém na cidade, mandei currículo para tudo quanto é lado, aqui em Brasília não adianta competência, é só indicação ou concurso”, explica.

Após nove meses de busca, finalmente conquistou uma posição no Hospital Oftalmológico de Brasília. Inicialmente foi para a área de agendamento de cirurgias, mas em um curto período de tempo virou administradora do hospital. O trabalho era exigente, com horários irregulares, ausência de folgas nos finais de semana e pouco tempo disponível para cuidar do filho. Cris estava exausta e decidida a deixar o setor privado: “Praticamente, eu tinha a chave do hospital, comandava todos os setores, mas estava completamente esgotada”.

A formação em Letras não afastou o sonho da vida inteira de fazer Psicologia. “Sempre fui psicóloga dos amigos, todo mundo me chama para falar de problemas. No meu primeiro emprego formal, fui secretária no Hospital de Clínicas (HCPA) na área de Psiquiatria. Eu estava com 22 anos e meu chefe dizia que eu tinha jeito, queria que eu fizesse Psicologia. Mas preferi aperfeiçoar o Inglês e atuar na área de eventos também”. 

Mas seu caminho continuou distante da Psicologia quando,  em 2003,  veio o convite de um grande amigo para trabalhar no primeiro governo Lula, no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), do Ministério dos Transportes. “Apesar de ser de Porto Alegre, nunca tinha visto um porto na minha vida. Depois do DNIT, passamos todos para o então criado Departamento Aquaviário, no mesmo Ministério. Em 2007, quando criaram a Secretaria de Portos Nacional de Portos, fui convidada para trabalhar no Departamento de Revitalização e Modernização Portuária, onde fiquei até 2015. Nesse Departamento comecei a trabalhar com temas da área de Saúde e Segurança, desenvolvi e participei de projetos de Proteção e Preparação para o Enfrentamento de Pandemia nos Portos, foi minha maior realização no setor público”.

Como tantas pessoas que chegam ao setor portuário e se apaixonam, com ela não foi diferente. São 20 anos de atividade portuária e mudanças significativas na carreira. “Descobri um curso de graduação chamado Ciência da Educação e percebi que era exatamente o que eu desejava. Como eu já tinha Letras, ganhei de brinde fazer mais um semestre e me formei em Pedagogia com um olhar macro para a educação. Depois ainda fiz Gestão Pública e Engenharia e Gestão Portuária”, revela. É autora do livro Saúde e segurança do trabalhador portuária”, tem artigos publicados em revistas e diversas apresentações em Congressos sobre a área de Qualificação e Saúde e Segurança no Trabalho Portuário.

Como participou de movimentos políticos em Porto Alegre e se envolvia com as questões sociais e raciais, o olhar acadêmico se voltou para o baixo nível de escolaridade dos trabalhadores portuários: “Era uma época em que só se falava em infraestrutura portuária, dragagens, grandes obras. Era um outro universo e as pessoas não viam o ser humano dentro do porto. Hoje eu tenho certeza de que plantei essa semente, essa discussão foi permeando minha vida toda. Sempre trabalhei sem bandeira de partido”.

Depois dos dois primeiros meses de incerteza, deixou o bairrismo de lado e aprendeu a amar Brasília plenamente: “A cidade me acolheu, é muito gostoso viver aqui. Meu atual marido tem uma chácara, vamos muito para lá, gosto da natureza, e meu lugar predileto em Brasília é o Parque da Cidade. Essa é a cidade onde meu filho cresceu, da minha janela enxergo a Catedral, moro perto do trabalho”.

Nos últimos meses, Cristina se envolveu em um novo projeto: o Movimento Mulheres&Portos, uma iniciativa que teve sua origem na FENOP e agora conta com a participação de quase 90 mulheres de portos de todo o Brasil. “Eu sempre mantive essa discussão sobre a participação das mulheres também no Ministério, na área técnica, éramos em minoria. Meu Diretor na época, um homem feminista, nos respeitava muito, nas reuniões, quando pediam café, ele dizia que nós não estávamos lá servir café para ninguém. Fazia questão que nos chamassem também de doutoras.  Incrível como isso ainda existe. Nosso projeto foi muito bem acolhido pela FENOP. Quando falei para o Presidente Sérgio Aquino sobre a idealização a criação dessa proposta, ele foi o primeiro a apoiar e um dos nossos grandes incentivadores”.

Cris observa que ainda é um assunto desafiador, inclusive para mulheres que não se sentem confortáveis discutindo-o em um ambiente exclusivamente feminino. À frente do movimento estão as idealizadoras Daniela Pinheiro (Salvador), Diretora Financeira, Shana Bertol (Paranaguá), Diretora de Marketing e Comunicação, Silvana Alves (Paranaguá) Diretora Jurídica, Ana Barbosa (Itaqui)  na Diretoria de Desenvolvimento e Cris assumiu a Diretoria Institucional. 

A missão é estimular o protagonismo feminino no setor portuário e marítimo, em vários passos: criar uma rede de apoio no grupo promovendo troca de informações; impulsionar mulheres a ingressarem e seguirem carreira no setor; promover ações para acelerar a equidade de gênero e o empoderamento feminino; fomentar práticas de aprendizagem para contribuir na capacitação de mulheres na carreira portuária.

A proposta é promover essa discussão entre mulheres, sem necessariamente concentrar-se exclusivamente na liderança, embora também seja voltada para líderes. “Queremos que uma trabalhadora avulsa que trabalha na beira do cais também participe. É um desafio, mas temos um retorno muito positivo quando visitamos os portos. Agora estamos organizando a identidade jurídica do grupo e  um dos nossos objetivos principais é fazer um mapeamento mais apurado dessas mulheres, condições de trabalho, por categoria e/ou atividade, escolaridade. Com esses dados podemos elaborar e implementar políticas públicas voltadas para mulheres do setor. O grupo é um alicerce de troca de experiências, rede de currículos e informações, e sem competição”, completa.

Em dezembro, durante o encerramento das atividades da Fenop haverá uma reunião das integrantes, e caso alcancem o patrocínio necessário, estão programando um grande encontro em 2024. Para Cris, mais um motivo para se relacionar e continuar com seu lema de vida; “Graças a Deus tenho muitas amizades, isso facilita no diálogo de engajamento de novas mulheres ao grupo. Quero que todos se deem bem, sem puxar o tapete de ninguém”. 

Mulheres que desejarem participar podem entrar em contato com Cris por meio do whatsApp. (61) 99988-4064 e e-mail: mulheresportos@gmail.com 

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