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A indústria é o caminho para o Porto de Santos

18 de novembro de 2023 às 12:13
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

 

O advogado, professor e vereador licenciado Bruno Orlandi, Secretário Municipal de Assuntos Portuários e Emprego, não se contenta em vistoriar as obras de longe. Ele realmente participa de tudo, como em visita recente a uma empresa do porto, em que subiu num portêiner, balançando de uma altura de 40 metros.

Essa é uma das suas características marcantes, o envolvimento. Agora o Porto de Santos é o seu foco de ação, embora como vereador tenha defendido bandeiras como a descentralização do porto e a retomada de cruzeiros marítimo após a pandemia.

Falar de porto é constante: “Desde a faculdade em São Paulo é assim. Quando você vai para lá as pessoas têm duas certezas: que você entende tudo de porto e que vai na praia todos os dias. Respondia muitas perguntas. E também a praia de Santos nos acompanha, até em viagens, quando no meio de praias maravilhosas bate a saudade da nossa”. 

Com muitos projetos pela frente na Secretaria, ele destaca a importância de manter a relação porto-cidade, com interlocução em várias áreas, com Marinha, Antaq e iniciativa privada, entre outros. Entre as iniciativas, está a abertura do retorno do Canal 6, na Ponta da Praia, em frente à empresa ADM: “Temos pequenas ações como essa, mas que impactam a vida dos santistas”, diz.

O grande sonho é conseguir criar em Santos a Zona de Processamento de Exportação. E os primeiros passos já foram tomados: “Santos está se preparando para ter a estrutura e trazer indústrias com baixo impacto ambiental e alto valor agregado. Com a ZPE conseguimos reduzir o custo da cadeia logística e garantir vários incentivos fiscais. E só falta a autorização do governador do Estado para que exista também o incentivo do ICM. Com isso, teremos um preço de produto mais competitivo no Exterior, diminuindo  a carga tributária”.

E há outros benefícios, como a geração de empregos. Orlandi explica que há estudos indicando que a cada um emprego da indústria convencional a indústria de exportação traz quatro e remunera melhor. “Hoje, as operações portuárias são muito ligadas à automatização. Será necessário qualificação para os novos postos de trabalho voltados para a área de tecnologia, que é essencial para o fortalecimento e a competitividade do porto, mas temos que garantir emprego para a massa que será substituída”.

Ele cita o exemplo da China, que tem sete entre os dez maiores portos do mundo e conta com mais de 2500 ZPEs. “No mundo funcionam mais de cinco mil; aqui no Brasil temos apenas 11 e apenas uma em funcionamento avançado, que é Pecém”.

O processo para criar uma ZPE não é fácil. A primeira fase já foi realizada: o pedido para alteração na legislação, a Lei de Ocupação da Área Continental. “Nosso objetivo é que até o início do ano seja encaminhada essa alteração para aprovação na Câmara Municipal. Uma vez aprovada, volta para o prefeito sancionar e alterar algumas destinações específicas. Depois será a vez do estudo de viabilidade econômica, e já conversamos com a Infra SA e com o Ministério de Portos e Aeroportos, em Brasília. A previsão é obter esse estudo no primeiro semestre de 2024”.

Cumprindo esses dois requisitos, será possível entrar com o projeto. “Esperamos que até o fim do ano que vem seja possível ingressar com o projeto no Governo Federal. A ideia é sensibilizar indústrias de alguns segmentos como uma montadora, por exemplo, para baixar o preço de veículos que poderão ser exportados por aqui. Outra é atrair indústria de cápsulas de café. O Brasil é um dos maiores exportadores de café do mundo, mas a Alemanha que não tem um pé de café usa o nosso café e é um dos maiores exportadores de cápsulas para o mundo inteiro. Queremos ver o Porto de Santos nesse contexto”.

A expansão de outros portos não preocupa o secretário. “Santos continua batendo recordes anualmente. O agronegócio tem crescido muito e outros portos, como no Arco Norte, cresceram junto.  Nosso Porto de Santos só no ultimo ano movimentou mais de 160 milhões de toneladas, é navio entrando e saindo o tempo todo. Temos o maior complexo do Hemisfério Sul”.

Entre os desafios do porto, a dragagem de manutenção sempre vem à tona. Orlandi opina: “O grande problema é que a nossa legislação é muito travada. O prazo de cinco anos para uma licitação é pequeno, às vezes os outros concorrentes entram com ações que travam o processo E o nosso porto, que depende de uma dragagem de manutenção e aprofundamento, acaba sendo refém  desse engessamento da legislação nacional”.

Ele defende o aumento do prazo com uma previsão maior, mais perene, sem tantos entraves burocráticos para funcionar bem, mesmo que seja uma concessão com a iniciativa privada, para não atrapalhar a condução do serviço. “A Autoridade Portuária me parece que segue esse caminho, acredito que teremos o aprofundamento do canal de navegação a partir do ano que vem”.

Outro ponto que merece atenção é levar o tema porto para as escolas: “Você já viu alguém falar que quer analista de comércio exterior? Operar contêiner? Ser CEO da MSC? Os jovens não têm essa proximidade com o porto no dia a dia. Em 2023 entra em vigor o projeto da Prefeitura, capitaneado pela Secretaria de Assuntos Portuários, junto à  Secretaria de Educação e Autoridade Portuária, para levar o ensinamento portuário nas escolas do município”.

O convênio está homologado e será assinado em breve. Técnicos Secretaria e da APS vão falar para estudantes do Ensino Fundamental II. A proposta inclui  levar  os alunos para fazer uma visita dentro do canal em uma embarcação. “Uma escuna vai para a praia, mas não tem um barco que leve as crianças para conhecer o porto. Agora teremos”.

Ainda no tema porto-cidade, o Parque Valongo é a grande estrela: “Vamos usar os armazéns deteriorados em área federal degradada, já conseguimos a cessão das áreas. O projeto consta de armazéns do 1 ao 4 em com espaço para bares e restaurantes, áreas de contemplação, de lazer, acesso à linha d’água que hoje não existe. Há até a possibilidade de mudança do terminal de passageiros para o parque”.

Orlando revela que já está revitalizado o relógio  da mesma marca do Big Bem, de três toneladas, que está guardado e será colocado em uma torre de 30 metros nesse mesmo espaço. “Ou seja, teremos toda a estrutura voltada para atrair turistas e os santistas, incluindo uma área de acolhimento para ver um pôr do sol espetacular. É o elemento máximo da relação porto-cidade, mais emblemático impossível. As obras estão caminhando, as empresas já alocaram os recursos necessários, zero de recursos da Prefeitura. Tudo totalmente custeado com recursos da iniciativa privada”.

Nascido e criado em Santos, apaixonado por praia, cresceu jogando bola. Palmeirense convicto, costuma frequentar estádios ao lado do pai, de quem herdou o amor pelo time. E além do porto e do futebol, Orlandi adora viajar e curtir a esposa Josi e os filhos Isabella, Juliane e Bruno. “Para eles é preciso reservar tempo, senão eles cobram mesmo”. 

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TAGS Antaq Bruno Orlandi Marinha PORTO DE SANTOS Secretário Municipal de Assuntos Portuários e Emprego