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Universidade é diferente de escola e de empresa

Atualizado em: 11 de dezembro de 2023 às 12:17
Augusto Cesar Barreto Rocha Enviar e-mail para o Autor

Este texto não terá uma conclusão absoluta, pois é fruto de uma conversa interrompida. Como é difícil compreender a instituição Universidade. Elas existem faz séculos, são reguladas por leis rígidas, formam profissionais em todas as áreas do conhecimento, são fundamentais para o desenvolvimento e, corretamente, são exigidas de uma modernização constante, com professores que ficam mais velhos a cada ano e alunos com aproximadamente a mesma idade, ingressando periodicamente. Ao mesmo tempo, nem todos entendem o quanto são fundamentais para a construção do futuro.

O tripé Ensino, Pesquisa e Extensão vem sendo instado a produzir também a inovação, inserindo esta nova dimensão. Se, por um lado, a inovação é fundamental, por outro, como transformar um não empresário em um empresário? Como respeitar as áreas onde a inovação não é o aspecto central, como as humanidades em geral, mas que possuem caráter fundamental na formação de um país?

Perdemos, na última semana, o prof. Ennio Candotti, que foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), dirigia ativamente o Museu da Amazônia (Musa) e ainda elaborava planos formais para o futuro da Amazônia, que não teremos a oportunidade de apreciar. Tive a honra de ter compartilhado várias reuniões com ele – um democrata – onde deliberávamos sobre este difícil encontro da inovação com a Amazônia.

Seguimos nas universidades: com estruturas formais contando detidamente quantas horas o professor passa na sala de aula (como numa escola), com portarias e práticas que dificultam ou impedem a reposição de professores que se aposentam ou morrem, com pouco ou nenhum orçamento para formação após o doutoramento, como se o professor virasse um “iluminado” e não precisasse mais estudar. Há ainda uma ânsia, esperando que o professor tenha a condição de: ensinar, fazer pesquisa, publicar em periódicos Qualis A, fazer extensão, orientar alunos em TCC, PIBIC, dissertação, tese, estágio supervisionado, monitoria e por aí vai – tudo ao mesmo tempo. 

Neste contexto, a inovação ora me soa como uma piada, ora como a grande oportunidade, dependendo do dia, interlocutor e do quanto ele entende da lógica e das métricas que norteiam uma universidade ou um empreendimento. Como, em sã consciência, um administrador de empresa esperaria que o mesmo profissional tenha as seguintes características simultâneas: criativo e que organize a burocracia, que lide com as depressões do orientado, faça palestras e delibere com a imprensa, a sociedade, o empresário e fique atento aos prazos, nos diversos colegiados e reuniões sem fim, com um marco legal que diz tudo que ele deve fazer – e não ao contrário. Isso em 40h semanais, onde tem que lecionar – como se isso fosse apenas um detalhe secundário. É isso que se espera numa universidade.

Não há jurídico, não há escritório de projetos, não há secretaria, não há quase nada – nem computadores, nem projetores e, por vezes, nem água, nem papel higiênico. Mesmo assim, dentre as 20 instituições nacionais que mais registram patentes, 17 são universidades públicas. Com tudo isso, a última moda é atacar a liberdade de cátedra. Precisamos urgentemente enfrentar as mazelas institucionais que estão destruindo o ensino e precarizando a pesquisa nacional. Antes de tudo, a Universidade não é escola – mas tem ensino e possui jovens que deveriam ser apoiados para o futuro, com laboratórios que estivessem no futuro, mas seguem no passado. 

A perda do prof. Ennio e das nossas conversas interrompidas antes da pandemia, e não retomadas depois dela, deixa a falta de uma resposta nunca construída, mas a última certeza de nossos diálogos: ciência básica verdadeira leva a inovação. Ensino verdadeiro leva a Pesquisa, que leva a inovação, no tempo certo e com os recursos apropriados. Temos este potencial, mas precisamos dar foco, alocar orçamento, priorizar as pessoas e parar de apequenar a grandeza nacional.

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