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Transformação social pelo bem

Atualizado em: 18 de dezembro de 2023 às 21:00
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

Desde pequeno, Daniel Gonzalez, Head de ESG do Grupo Transpes, acompanhava encantado o trabalho do seu avô Tarcísio, e aprendeu com ele a importância da generosidade. “Ele sempre ajudava as pessoas com doações, a construir casas, doando cestas básicas. Ele e a igreja evangélica foram os suportes para ensinar que o amor precisa ser demonstrado, principalmente em um país como o Brasil, com tantas dificuldades. Ter um trabalho com significado social é deixar um legado e dar significado à vida”.

O avô, fundador da Transpes e falecido há oito anos, é um exemplo na área profissional. Veio fugido da guerra espanhola, foi camelô, comprou um caminhão e mais tarde ele e a minha avó e começaram a Transpes, uma empresa familiar na área de transporte e logística com atuação em todo o Brasil e Mercosul. 

Daniel nasceu em Belo Horizonte e foi morar nos Estados Unidos com 18 anos para jogar tênis universitário na Carolina do Sul. Formou-se em Economia e tem pós-graduação pela University of Helsinki, Finlândia. Esteve em Moçambique, na África, e na região de Smokey Mountain em Manilla, nas Filipinas, considerada pela ONU como uma das mais pobres do mundo. Foi uma experiência rica e fez um pouco de tudo como pintar casas, distribuir marmitas, atuar em hospitais.

Atualmente é CEO de ESG do Grupo Transpes e CEO e fundador do primeiro ecossistema de impacto social de Belo Horizonte, o Hub Social. Tudo começou quando voltou para Belo Horizonte, onde está toda família. Em sua formação, já estava voltado para modelos econômicos que pudessem aumentar a eficiência sem deixar de lado as questões de igualdade, de auxílio às pessoas com vulnerabilidade, amparar sem comprometer financeiramente as empresas.

“Eu e minha esposa Milagros visitamos várias ONGs em Belo Horizonte para entender como atuavam com idosos, mulheres, pessoas em situação de rua e crianças para entender saber como poderíamos auxiliar para realizar um trabalho mais relevante e eficiente”, ele conta.

O desafio principal sempre era o financeiro, mas Daniel percebeu que o problema era mais complexo na área de gestão. “O terceiro setor nasce na base do amor, da boa vontade, mas muitas vezes deixa o profissionalismo de lado. Ninguém começa um projeto social para ganhar dinheiro, começa por vocação e propósito, mas sem visão financeira, de planejamento estratégico e de marketing. É um setor bonito e amoroso, mas ainda é amador”.

Com base nesse diagnóstico, fundou o projeto Hub Social com o objetivo de capacitar, apoiar e investir em projetos sociais de pequeno e médio porte, para que as organizações tenham uma gestão mais sólida e transparente e se tornem atrativas para investimentos, um trabalho mais duradouro.

“Hoje apoiamos cerca de cem organizações sociais, fazemos um trabalho de capacitação de lideranças, workshops, palestras, programas para auxiliar na captação de recursos através de leis de incentivos, além de organizar as doações”, explica.

Para viabilizar as doações o projeto criou a Caixa do Bem, hoje apoiada por mais de cem empresas. “Sabemos que o brasileiro é um povo muito solidário, mas a doação não financeira é muito difícil. A vida é corrida e as pessoas não têm tempo para ver para quem doar. Com essa iniciativa, instalamos caixas em condomínios, empresas, farmácias, para receber doações. Quando essa caixa fica cheia, o aplicativo avisa, o projeto social recebe a notificação, vai até o local, recolhe, avalia”.

Durante esse ano, foram entregues às entidades 300 caixas de doações (cada caixa vale de R$ 300 a R$ 400). “As doações são muito importantes para a realização de bazares. As pessoas percebem que podem doar roupas em bom estado, tênis, relógios, o mecanismo facilita. Para 2024 queremos levar essa iniciativa para municípios do Rio e São Paulo”.

A Transpes é signatária do Pacto Social da ONU, tem relatórios de sustentabilidade, mantém a Caixa do Bem em várias unidades e é a principal apoiadora do Hub Social, além de outras parcerias. O projeto funciona na casa que foi do avô Tarcísio, em Belo Horizonte. “Nossa proposta é ampliar esse  trabalho de rede, quanto amis pessoas físicas e jurídicas participarem, maior é a transformação que podemos gerar”, avalia.

Daniel comenta que os dois maiores desafios na atuação das empresas nessa área de responsabilidade é a questão orçamentária e a compreensão de que tipo de retorno podem ter com as ações. “Todas as  empresas querem promover o bem e gerar transformação social, mas isso não pode ser um ralo e comprometer o orçamento. Felizmente as pautas ESG e de responsabilidade social estão consolidadas, mas é preciso profissionalizar essa atuação”, diz.

A equipe do Hub Social quando chamada visita as empresas para entender o DNA, ver como atuam, quais os valores e quais ações devem estar alinhadas a elas. “Mostramos aos comitês e lideranças que tipo de retorno podem gerar as ações sociais, que não seja o financeiro. É preciso apoiar atividades que façam sentido e agreguem valores dentro do orçamento disponível”.

O otimismo e a esperança também fazem parte: “Eu acredito que independente do Daniel ou do Hub Social, nós vamos conseguir, sim, em algum momento da história resolver os problemas sociais de acesso à saúde, educação, saneamento básico. Já estamos crescendo em tecnologia, conhecimento, inovação. Vai existir alguém, em algum momento, que vai resolver. Se falam da possibilidade de colonizar Marte ou tantos outros sonhos mais complexos, acho que temos potencial tentar,  inovar e acreditar que será possível melhorar as condições sociais”.

Atuar ao lado da esposa no trabalho e na vida pessoal é o grande prazer de Daniel: “Milagros é argentina, estamos casados há quatro anos e meio e sou muito apaixonado. No tempo livre estamos sempre juntos assistindo séries, viajando, cozinhando, fazendo churrascos e saindo para jantar. Ainda jogo tênis nos finais de semana e faço academia para cuidar da saúde”. Além da Bíblia, seu livro de cabeceira é “Uma vida com propósito”, de 

Rick Warren: “Fala da importância de entender o seu propósito de vida. Os dias passam tão rápido que se não tivermos atenção não vamos saber o que fazer com o tempo”.

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TAGS Brasil e Mercosul Daniel Gonzalez Finlândia Head de ESG do Grupo Transpes University of Helsinki