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E nasce o movimento Reconstrói RS

25 de maio de 2024 às 10:52
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

O olhar do Sul

Foto: Divulgação

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O engenheiro gaúcho Sergio Luiz Klein, consultor na área de infraestruturas de transportes e saneamento  e Diretor da ASK Participações Ltda. faz parte do recém-criado grupo Reconstrói RS, com foco em obras de recuperação da infraestrutura nas regiões diretamente afetadas pelas enchentes. É um programa da Federasul e do Instituto Cultural Floresta, composto por outros especialistas em infraestrutura e engenharia, familiarizados com a realidade do estado: Athos Cordeiro, Ricardo Portella Nunes, Mauro Touguinha de Oliveira e Anthony Ling.

O fundo privado criado com R$ 50 milhões iniciais da família Ling vai atender sem qualquer interesse político, mas com o desejo de resgatar as possibilidades de trabalho nessas localidades. As 190 Associações Comerciais e Industriais (ACIs) integrantes da Federasul e o Instituto Cultural Floresta (ICF) realizarão a triagem, fiscalização e o acompanhamento da destinação dos recursos e da execução dos projetos. As comunidades poderão acionar as ACIs de suas regiões ou o ICF a partir de 1º de junho e submeter suas propostas. O objetivo é fazer com que os recursos sejam liberados com celeridade e sem burocracias.

Do grupo participam voluntariamente  pessoas que conhecem bem o Estado e têm capilaridade para analisar os projetos. “As grandes obras, os problemas nas estradas começam a ser atacados com recursos estaduais ou federais; a nossa proposta é fazer pequenas obras em pequenas comunidades, como construção de pontes, por exemplo. O retorno tem sido ótimo e várias empresas já aderiram”.

Klein, também Conselheiro do Sul Export e do Mercosul Export, mora em Porto Alegre e desde o início da carreira atua como engenheiro hidroviário. Portanto, sua visão é profunda: “Participei do processo de muitas dragagens para fins de navegação nas bacias de rios que formam o Rio Guaíba, nunca vi nada parecido. Essa enchente ultrapassou a marca de 1941 do chamado Muro da Mauá, que faz parte da contenção contra as cheias. Nós olhávamos para a marca e vinha a sensação que isso não mais ocorreria, afinal na época não tínhamos as barragens de agora que foram feitas para navegação e energia elétrica. Eu imaginei que a minha geração não veria essa cena triste”.

Mesmo morando na parte mais alta da Cidade, na Bela Vista, o consultor ficou 15 dias sem água em casa: “Uma das estações de tratamento que abastece a região só voltou a funcionar essa semana. Num primeiro momento houve correria com medo de desabastecimento, principalmente água mineral que começou a faltar, e infelizmente ainda enfrentamos exploração nos preços da água tratada vendida nos caminhões pipa, cobravam o que bem entendiam”.

Para ele, não é o momento de culpar o governo atual, mas sim de agir: “Os gastos de manutenção de equipamentos não dão resultado para os políticos, só ganham importância quando acontecem desastres como esse. Vamos ter que dar a volta por cima, fazer algo parecido como foi feito em News Orleans depois da passagem devastadora do furacão Katrina. O Interior do Estado está arrasado, são imagens terríveis, parece que caiu uma bomba, foram indústrias, foram casas, jamais se imaginou essa catástrofe.”.

Na área portuária não foi diferente, como conta: “Estamos com o porto de Porto Alegre completamente parado, sem qualquer movimentação. O nível da água ainda tem que baixar muito e vão aparecer muitas questões ligadas aos equipamentos do setor que foram destruídos. Talvez demore ainda 30 dias ou mais para o porto de Porto Alegre voltar a funcionar. O de Pelotas também foi atingido e movimenta uma grande quantidade de madeira e celulose também foi atingido dificultando o transporte de madeira e celulose na navegação interior”.

O Porto de Rio Grande continuou operando, mesmo com algumas restrições: “A água sai entre os moles dentro do mar e a vazão está alta, mas os níveis sobem e a praticagem tem que monitorar essa correnteza, mas os navios estão manobrando com cuidados. Foi uma catástrofe de grande dimensões e a prioridade era salvar as pessoas. Daqui para a frente todos devem se unir para dar a volta por cima, vai ser muito traumático esse retorno. A cooperação dos estados vizinhos e do país inteiro é essencial. Chegaram caminhões lotados de vários lugares. Aos poucos vamos trazer de volta a logística, refazer os trajetos e reconectar cidades”, espera.

Com todos os problemas, a questão das dragagens voltou à pauta: “O Estado vai ter que rever rapidamente a questão, as dragagens ficaram muito defasadas. Fazíamos dragagens sistematicamente para manter a navegação nesta bacia, que é uma dádiva, as hidrovias correm para o porto, diferente de São Paulo que correm para o Interior. As dragagens, barragens e eclusas  foram relegadas a segundo plano. A mais nova é de 1976 e a manutenção está muito mal feita. O Denit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes) começou a fazer as licitações, mas o Governo Federal precisa enxergar melhor o transporte hidroviário. Todo mundo fala em ESG, quer um transporte que mais completo do que a navegação interior? Cada embarcação é equivalente a 90, 100 caminhões e o número de acidentes é baixo. É a opção certa”.

 

 

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