“Com a entrada agora do Hub Brasil Export você tem uma possibilidade de atrair mais gente para a discussão e finalmente implantarmos o PCS”, disse Angelino (Foto: Divulgação)
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“Agora eu acredito que teremos um PCS em dois anos”, diz Caputo
Diretor-executivo da Abtra e especialista em tecnologia, Angelino Caputo destaca importância da retomada do projeto de implantação do Port Community System no Porto de Santos a partir de acordo entre Ministério de Portos e Aeroportos e Hub Brasil Export
O Ministério de Portos e Aeroportos elencou a implantação do Port Community System (PCS) – plataforma que facilita a troca de informações entre usuários e autoridades de um porto e, assim, amplia a eficiência e reduz seus custos – no Porto de Santos (SP), como um dos projetos a serem desenvolvidos dentro do acordo de cooperação para inovação firmado entre a pasta e o Hub Brasil Export, o centro de inovação do Grupo Brasil Export. A decisão foi tomada na última terça-feira, dia 10, em reunião entre representantes das partes, em Brasília. Para o diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Angelino Caputo, reconhecido como um dos principais especialistas em tecnologia portuária no País e um grande defensor do PCS, a seleção do projeto e seu desenvolvimento no ambiente do Hub Brasil Export, congregando poder público e iniciativa privada, é a grande chance de, finalmente, um porto brasileiro ter esse sistema em operação. Caputo, que já foi presidente da Autoridade Portuária de Santos, destaca a importância desse programa ser desenvolvido em um ambiente neutro, capaz de reunir as várias empresas da comunidade portuária – uma das características do Hub Brasil Export, seguindo a filosofia do Grupo Brasil Export, que viabiliza um grande ambiente de debate sobre infraestrutura entre o poder público e o setor privado. Em entrevista exclusiva ao BE News, Angelino Caputo falou sobre a importância do PCS, seus ganhos para o complexo santista e por que, agora, acredita que esse projeto seja efetivamente implantado. Confira a seguir.
O desenvolvimento de um Port Community System, o PCS, no Porto de Santos (SP), foi elencado como o primeiro projeto a ser desenvolvido no acordo de inovação entre o Hub Brasil Export e o Ministério de Portos e Aeroportos. Qual sua avaliação sobre essa decisão?
Esse é um projeto mais do que necessário. Os PCS já existem no Norte da Europa há mais de 35 anos. E houve uma oferta do governo inglês para que o Brasil implantasse os seus PCS. E veja, eu falo os PCS pois ele não é um sistema nacional, mas específico para cada porto. Cada porto tem que ter o seu PCS. Ele nasceu lá no Norte da Europa a partir da necessidade do Porto de Hamburgo (Alemanha) mostrar que era mais competitivo do que o Porto de Antuérpia (Bélgica) ou do que o de Roterdã (Países Baixos), porque eles disputam a mesma carga. Ele concluiu que tinha de ser mais eficiente para competir. Então, o que ele faz? Ele uniu a comunidade em torno da eficiência do porto, para provar que era melhor do que o porto vizinho. E um outro detalhe: ele (o PCS) nasce essencialmente privado, mas aí, depois, se conclui que tem alguns elos da cadeia que são anuências do governo. Então ele (o poder público) também têm que ser participante do PCS. E a gente pensa que os sistemas que envolvem o governo são para alimentar o governo com informações de controle. O PCS não. O governo é até convidado a participar, mas como um dos atores da cadeia operacional do porto. O foco dele é a eficiência, tornando aquilo competitivo. Eu falo que a letra mais importante do PCS é o C, é o Community, é o sistema daquela comunidade.
Por que é o mais importante?
Esse é um projeto que só se desenvolve com a participação de todos os atores de um porto. O PCS não tem dono. O PCS traz um benefício coletivo. Então se você tiver alguém que tenha a predominância, o protagonismo, que mande nos demais, a chance disso não avançar é muito grande. Não tem um herói sozinho que vai salvar o mundo. Todo mundo vai se beneficiar. Então, a ideia é que você consiga, em um ambiente neutro, desenvolvê-lo. Ele precisa ser feito de uma forma colaborativa, cooperativa e não competitiva. A competição é com outro porto. Aqui tem que estar todo mundo de mãos dadas para que o projeto dê resultado. E com a entrada agora do Hub Brasil Export, que faz uma grande diferença pois garante esse ambiente neutro – isso é muito importante – você tem uma possibilidade de atrair mais gente para a discussão e finalmente implantarmos o PCS. O Hub é um ponto de convergência, um ponto de relacionamento entre os principais atores, que, com essa plataforma, vão obter uma eficiência com a rápida tomada de decisão, sem erros e com custos menores. E isso atrai mais usuários do porto, pois ali tudo fica redondinho, funciona tudo organizado, com baixo custo, com rapidez e com segurança.
O Governo do Reino Unido chegou a financiar a implantação de PCS em portos brasileiros, inclusive no de Santos, mas essa iniciativa não avançou. O que houve?
Foi desenvolvido esse projeto com patrocínio do governo inglês. Eles financiaram uma consultoria, foi feito um estudo que abordou as três camadas que todo PCS tem que ter, a governança, o mapeamento de processos e a tecnologia. Mas infelizmente, o dinheiro do PCS foi reduzido drasticamente em função da pandemia, então o projeto não concluiu tudo o que estava previsto, mas fez ali 60% do que precisava para dar um empurrão inicial no projeto brasileiro. O mapeamento de processos tá perfeito, as alternativas de governança ficaram legais. Ele foi elaborado em quatro portos: Santos, Rio (de Janeiro), Suape (PE) e Itajaí (SC). Abreviou Itajaí e Suape, mas a parte de Santos avançou bastante. É o que tá mais adiantado e eu acho que a gente deve começar por Santos. A parte de informática, que ficou com a USP (Universidade de São Paulo), ficou só no modelo conceitual. Mas essa é a parte fácil.
Considerando o projeto de Santos, que foi o elencado pelo Ministério para ser retomado primeiro, e o que ainda falta fazer, em quanto tempo podemos tê-lo implantado?
A plataforma, o sistema tecnológico para esse serviço de facilitação de troca de informações, você pode comprar até pronto. Tem soluções de PCS prontas no mercado.
Tem várias no mercado, prontas. Eu só tenho que postar nesta plataforma a minha governança e o processo do meu porto. A experiência mundial diz que a parte tecnológica gasta de 15% a 20% do esforço de se montar o PCS. 80% ou mais são referentes a mapear processos e definir a governança. Isso é que é crítico. A maioria das pessoas acha que, pelo fato de se chamar sistema, acha que o PCS é uma solução tecnológica, mas é mais de governança, de agilizar processos e facilitar a integração dos agentes.
Então a implantação do PCS de Santos pode ser concluída em um prazo de, por exemplo, dois anos?
Sim, eu acredito. É perfeitamente viável diante do que já foi feito com o mapeamento de processos. Considerando o que já foi feito e tendo esse processo agora retomado com o
envolvimento do Hub Brasil Export, que vai acabar convidando e trazendo mais gente para esse processo, para definir melhor a governança, que é a etapa mais crítica, agora eu acredito que teremos um PCS em dois anos. E precisamos ter um envolvimento forte da Autoridade Portuária (de Santos), porque ela realmente é a entidade que está governando o porto. Então, eu acho que trazendo esses players para a discussão, a gente consegue ter um projeto funcionando bem em no máximo dois anos.