A paralisação das atividades de navegação de transporte de cargas no Rio Paraguai foi discutida durante o evento Diálogos Hidroviáveis, promovido pela Adecon em Brasília (Foto: Divulgação/Antaq)
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Adecon critica falta de dragagem e paralisação no Rio Paraguai
Diretor agência vinha alertando as autoridades desde julho sobre a necessidade de realizar serviços emergenciais
O diretor da Agência de Desenvolvimento Sustentável das Hidrovias e dos Corredores de Exportação (Adecon), Adalberto Tokarski, criticou a paralisação das atividades de navegação de transporte de cargas no Rio Paraguai, interrompidas há quase um mês em função do baixo nível das águas. Segundo Tokarski, a agência vinha alertando as autoridades desde julho sobre a necessidade de realizar serviços emergenciais de dragagem no local.
“Empresas no Rio Paraguai estão paradas há 20 dias porque não há navegação. Se tivéssemos realizado uma dragagem de manutenção nesse trecho, as embarcações estariam operando, talvez com menos carga, mas ainda estariam navegando”, afirmou Tokarski nesta quarta-feira (25), durante o evento Diálogos Hidroviáveis, evento promovido pela Adecon em Brasília (DF).
O comunicado sobre a interrupção das navegações de cargas foi enviado pela Adecon no dia 26 de agosto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A previsão da agência é de que as empresas em Mato Grosso enfrentem cinco meses sem operações.
Com as atividades de transporte comprometidas, a produção em larga escala de grãos e minério de ferro passou a ser transferida para as rodovias.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) já está executando obras de dragagem no Rio Paraguai, iniciando pelo Tramo Norte, que abrange os municípios de Cáceres (MT) e Corumbá (MS). O objetivo é garantir a profundidade necessária para a navegação, impactada pela seca histórica. Até o momento, foram removidos 110 mil metros cúbicos de sedimentos de sete dos 25 pontos críticos identificados, com as operações previstas para continuar até dezembro.
Na atividade de dragagem emergencial, são realizadas escavação, carga, transporte e descarte do material dragado, essenciais para garantir a profundidade adequada do canal de navegação e o fluxo eficiente das atividades no rio. Após a conclusão do trabalho em um ponto crítico, o equipamento é imediatamente deslocado para a próxima área prioritária.
Segundo o Dnit, um plano de dragagem emergencial também será implementado no Tramo Sul do Rio Paraguai, entre Corumbá e Porto Murtinho (MS). Já foram identificados 18 pontos críticos e 15 pontos potencialmente críticos no trecho sul.
A expectativa é que as intervenções durem até seis meses, promovendo a navegabilidade de outubro de 2024 a setembro de 2025.
Erick Moura, diretor aquaviário do Dnit, destacou os desafios enfrentados pela navegação em função da crise hídrica. “Estamos em uma nova realidade e devemos nos preparar para isso. Uma das coisas que temos que colocar é um planejamento devido às questões climáticas. Estamos entusiasmados com a criação da Secretaria Nacional de Hidrovias por isso”.
Moura também destacou a importância de uma gestão mais eficiente para agilizar as operações no modal hidroviário. “Está na hora da gente criar uma empresa pública que cuide do setor. A burocracia está atrapalhando, e poderíamos estar fazendo muito mais coisas”, sugeriu. “A questão da política aquaviária estar com o DNIT dentro do Ministério dos Transportes ainda gera confusão, mas estamos tentando destravar isso da melhor maneira possível”, completou.
De acordo com a Administração da Hidrovia do Paraguai (AHIPAR), anualmente são transportadas mais de 6 milhões de toneladas de cargas pelo canal, com ênfase no transporte de minérios de ferro e manganês a longas distâncias.
100 dias
No evento, foram celebrados os 100 dias da criação da Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação, lançada pelo Ministério de Portos e Aeroportos em abril.
“É importante termos discursos sobre o setor hidroviário, algo que falta e que é fundamental que aconteça”, disse o secretário Nacional de Hidrovias e Navegação, Dino Antunes.
“Cada vez mais fica claro que a sociedade ainda precisa discutir muito mais as hidrovias para se consolidar no seu papel principal de grande modal de transporte, contribuindo não só com a logística, mas também com a questão da sustentabilidade”, afirmou Antunes, ressaltando que o transporte hidroviário é 29 vezes mais eficiente em termos de energia em comparação ao rodoviário e utiliza 19 vezes menos combustível e emitindo seis vezes menos dióxido de carbono.