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Segundo o diretor-presidente do Porto de São Francisco do Sul, Cleverton Elias Vieira, o aprofundamento do canal da Baía de Babitonga visa passar dos atuais 14 metros para 16 m (Foto: Gustavo Rotta/SFS)

Região Sul

“É um modelo inovador, uma alternativa na falta de recursos públicos”

30 de setembro de 2024 às 8:09
Cássio Lyra Enviar e-mail para o Autor

Em entrevista exclusiva ao BE News, diretor-presidente do Porto de São Francisco do Sul falou sobre a dragagem na Baía de Babitonga e planos para o complexo catarinense

O complexo portuário da Babitonga, em Santa Catarina, vive a expectativa para as obras de dragagem de aprofundamento da baía de mesmo nome. É nesse ativo que estão localizados o Porto de São Francisco do Sul e o Porto Itapoá.

A dragagem será viabilizada em modelo inédito no setor portuário. O valor para a obra será financiado pelo Porto Itapoá, terminal privado de contêineres, e o Porto de São Francisco do Sul fará o retorno do montante ao longo de 12 anos, junto com a receita adicional dos navios que passarão a navegar pelo canal aquaviário.

Recentemente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a licença ambiental referente à obra.

Em entrevista exclusiva ao BE News, o diretor-presidente do Porto de São Francisco do Sul, Cleverton Elias Vieira, comentou sobre as expectativas em torno da obra, prevista para acontecer no ano que vem, e o trabalho da Autoridade Portuária em buscar mais investimentos, principalmente no modal ferroviário.

 

Presidente, a dragagem de aprofundamento tem sido uma das principais demandas dos portos da Baía de Babitonga. O senhor pode explicar como vai funcionar a modelagem para a obra?

Esse é um modelo de negócio inédito, é uma parceria entre o porto privado de Itapoá e o porto público de São Francisco do Sul. O Porto Itapoá vai emprestar o dinheiro ao porto público. Então a obra será realizada com o dinheiro público emprestado pelo Porto Itapoá. Depois, o Porto de São Francisco do Sul devolverá essa quantia ao longo de 12 anos, junto com a receita adicional dos navios que não entram hoje e passarão a entrar no canal. Então, é um modelo inovador, uma busca de alternativa diante da falta de recursos públicos da União para financiar esse tipo de obra. A gente está sendo criativo, cumprindo a missão do governador Jorginho Mello (PL), também de buscar essas formas que possam alavancar recursos, gerar desenvolvimento. É uma obra muito importante também do ponto de vista da sustentabilidade, que vai permitir o alargamento da praia de Itapoá. Uma obra também muito importante para a sustentabilidade da região, agregando, então, o desenvolvimento econômico com sustentabilidade, com geração de valores que são muito importantes para a comunidade portuária.

 

Qual a expectativa para publicação do edital e início das obras?

Nós temos algumas etapas burocráticas legais a serem vencidas. Estamos aguardando uma anuência da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), uma vez que esse modelo de negócio envolve uma segregação de tarifa portuária. Precisamos da anuência da Antaq. O processo está na agência, imaginamos que vai ser um processo rápido. Temos segurança jurídica no modelo, temos conforto para fazer a operação a partir disso. Nós vamos então celebrar um contrato com o Porto Itapoá, e aí queremos lançar o edital ainda no ano 2024 para iniciar a obra em 2025.

 

O canal da Baía de Babitonga passará a quantos metros? E os investimentos?

O aprofundamento vai ser de 14 metros, que é a nossa medida atual, para 16 metros no canal. Nesse formato em parceria com Itapoá o valor previsto é de R$ 300 milhões. Serão aproximadamente três milhões de metros cúbicos de areia a ser dragada. E serão outros 6 milhões para o engordamento da praia de Itapoá.

 

Qual a importância dessa dragagem e como vai aumentar a competitividade do complexo portuário?

Temos aí uma grande adequação para a gente poder receber os navios de contêineres de 366 metros, que já estão escalando a costa brasileira. E aí conseguimos transformar o Porto Itapoá em um hub, se tornando uma primeira parada dos navios conteineiros na região, e também para o Porto do São Francisco do Sul receber os graneleiros. A gente vai conseguir dar mais segurança para a navegação e estamos simulando a possibilidade dos navios não terem de fazer um fundeio. Hoje, a gente tem que fazer um fundo intermediário por conta do tamanho dos navios e pela curva, que é reduzida. Com a obra de ampliação e aprofundamento do canal, a gente tem já uma expectativa de que possa dispensar esse fundeio e a gente ganhe em uma manobra a menos, o que significa maior produtividade no berço.

 

Os portos brasileiros têm trabalhado muito para melhoria dos acessos e uma multimodalidade dos modais para movimentação das cargas. Quais as principais demandas especificamente do modal ferroviário?

Hoje, a gente tem um acesso ferroviário, ligado à Malha Ferroviária Nacional, da Rumo, que atende 40% do nosso grão, então 40% do grão, que é feito em torno de 4 milhões de toneladas ao ano, chega por ferrovias. O que a gente tem buscado agora junto ao Governo Federal são as medidas para a renovação ou não do contrato da Rumo ou então uma nova concessão, que viria com melhorias em novos investimentos. A gente tem uma capacidade de recepção no porto que é três vezes maior do que esses 4 milhões que a gente recebe hoje, mas para isso é preciso investir. Nós temos uma questão da Serra que tem que ser retificada. Nós não temos a carga de retorno, pois o vagão chega para o porto e sobe vazio, então a gente está buscando, seja uma pera ferroviária, um investimento que viabilize também a carga de retorno, de fertilizantes e de material siderúrgico que são cargas cativas lá no porto, bem importante para o nosso mix e que a possibilidade de ter o transporte ferrovia ajudaria muito.

Na dinâmica do porto a gente consegue ter mais produtividade e movimentar mais cargas, então buscamos isso. Em Santa Catarina nós temos essa diferença também porque o Porto de São Francisco está hoje conectado à Malha Ferroviária Nacional. É o único porto com essa conexão. Nem os terminais de contêineres que lá temos, como Portonave e Itapoá. Eles não têm a conexão por ferrovia, então é um diferencial nosso. Logicamente é importante investir em novos ramais, mas importante também aqueles que já existem a gente poder otimizar. Não é uma competência do porto, logicamente, mas a gente tem buscado essas melhorias, sobretudo via a Secretaria Estadual de Portos, Aeroportos e Ferrovias, essa interlocução com o Governo Federal.

 

O Porto de São Francisco do Sul vem batendo recordes mensais na movimentação de cargas. Qual a expectativa para 2024?

A gente está com uma expectativa muito positiva. No ano passado nós tivemos o nosso melhor ano e crescemos 34% em relação a 2022. Este ano a gente espera fechar em torno de 7% a 10% de crescimento em relação ao ano passado, chegando na casa de 18 milhões de toneladas movimentadas. negócio inédito, em que o terminal privado emprestará dinheiro ao porto público

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TAGS Baía da Babitonga Cleverton Vieira dragagem São Francisco do Sul