Segundo a Antaq, o sistema Loma, usado em mais de 160 localidades nos Estados Unidos, será testado no Brasil para otimizar a operação e segurança nas hidrovias e portos (Foto: Reprodução/Governo Federal)
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Antaq adota sistema de monitoramento para elevar segurança em hidrovias
Com tecnologia desenvolvida pelo Exército dos EUA, Brasil busca modernizar gestão das vias navegáveis e reduzir riscos nas operações portuárias
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) anunciou, em parceria com o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (Usace), a implantação do sistema Lock Operations Management Application (Loma) no modal marítimo brasileiro. O projeto será inicialmente testado em hidrovias e, posteriormente, expandido para o setor portuário.
A informação foi dada na terça-feira (1º), em Brasília (DF), durante evento da Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos (FPPA) e do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI) para discutir o Plano Nacional de Dragagens.
O sistema Loma, desenvolvido pelo Usace, tem como objetivo aumentar a segurança, eficiência e confiabilidade das operações em vias navegáveis. A ferramenta fornece informações cruciais para operadores de eclusas, gestores e a indústria de transporte, permitindo uma gestão mais precisa e segura das atividades aquaviárias.
Segundo Bruno Pinheiro, superintendente de Estudos e Projetos Hidroviários da Antaq, o sistema está em operação em mais de 160 localidades nos Estados Unidos e utiliza uma rede de mais de 50 mil sensores que transmitem dados para uma nuvem, permitindo que informações de estações e navios sejam coletadas em tempo real.
Pinheiro destacou que o Loma poderá ser aplicado em regiões remotas, oferecendo aos concessionários a responsabilidade pela chamada “inteligência eletrônica” das hidrovias. O sistema indicaria, por exemplo, pontos críticos, como barrancos e bancos de areia, garantindo uma navegação mais segura e eficiente para os usuários.
Entre as funcionalidades do Loma estão a capacidade de enviar avisos geográficos aos navegantes, como áreas de restrição de velocidade ou com risco de explosivos, além de sinalizações sobre congestionamentos e desníveis nas hidrovias.
“A ideia é que o sistema seja gradualmente implementado nos nossos portos. A Antaq está se preparando para isso, começando primeiro com as hidrovias”, afirmou Pinheiro.
O contrato firmado em 2023 entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Usace tem como objetivo a prestação de serviços técnicos para a elaboração de estudos de engenharia fluvial e navegação, com foco na transferência de conhecimento por meio de capacitação e treinamento. O prazo do acordo é de cinco anos.
Tráfego marítimo
O superintendente da Antaq, Bruno Pinheiro, ainda informou que a Agência está trabalhando para implementar o Sistema de Gerenciamento de Informações de Tráfego Marítimo (VTMIS) nos projetos de concessão de hidrovias importantes, como o Rio Madeira. “Nosso objetivo é garantir um monitoramento em tempo real das embarcações, promovendo maior segurança e controle nas operações”, disse.
O VTMIS é uma tecnologia destinada a monitorar e organizar o tráfego de embarcações em áreas portuárias. O principal objetivo do sistema é aumentar a segurança na navegação, proteger o meio ambiente e otimizar a eficiência logística nos terminais. A ferramenta integra informações de radares, câmeras, sensores meteorológicos e hidrológicos, além de comunicações VHF, possibilitando controle e supervisão em tempo real das operações aquaviárias.
Luis Claudio Montenegro, consultor de infraestrutura e energia da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), ressaltou que ao longo do tempo as autoridades portuárias perderam ferramentas essenciais para a tomada de decisões operacionais, o que resultou em um afastamento da gestão diária.
Montenegro alertou que a implantação de tecnologias deve ser acompanhada de uma discussão sobre a divisão de responsabilidades, de forma que a autoridade portuária possa assumir de fato o controle operacional.
“As responsabilidades que hoje são divididas entre diversos players que tomam decisões, poderiam ser revistas com a retomada das funções da autoridade portuária. O que não se tinha condições de fazer em outras épocas, talvez hoje possamos”, pontuou Montenegro.
“O setor precisa ver o VTMIS como um instrumento que traz ganhos de eficiência, e não apenas custos adicionais”, completou.
Marcelo Cajaty, membro da Conapra (Conselho Nacional de Praticagem), mencionou que a praticagem tem absorvido funções adicionais ao longo dos anos, muitas delas relacionadas ao uso de tecnologias, como simuladores para a análise de viabilidade de operações.
Ele citou o exemplo da infraestrutura portuária em Vitória (ES), em que o sistema VTMIS foi implementado com sucesso graças ao alinhamento entre os recursos disponíveis e a governança local, o que, segundo Cajaty, deveria servir de exemplo para outros portos brasileiros.
A concessão da hidrovia do Rio Madeira, além de incluir o VTMIS, também conta com um comitê de dragagem, que está trabalhando ativamente no contrato. A ideia é ampliar os serviços oferecidos, garantindo que a infraestrutura seja adequada para o tráfego crescente de embarcações e para as operações portuárias em geral.