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Conflito pode elevar preço de combustíveis e fretes e ameaça importação de fertilizantes, alertam especialistas

24 de fevereiro de 2022 às 9:41
Bárbara Farias Enviar e-mail para o Autor

A crise envolvendo Rússia, Ucrânia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – e que, na madrugada de hoje, resultou em ataques de Moscou contra a Ucrânia – já gera um efeito colateral global que está deixando o mercado apreensivo: a alta no preço do petróleo. Afinal, a nação comandada por Vladimir Putin é o segundo maior produtor mundial da commodity. E, segundo especialistas ouvidos pelo BE News, uma forte elevação no valor do barril afetaria até países sem ligação direta com esse conflito, como é o caso do Brasil, que pode ter de enfrentar uma alta dos combustíveis e, consequentemente, dos fretes e dos custos logísticos de suas cargas. Outro impacto seria uma redução na oferta de fertilizantes, produto essencial para o agronegócio nacional e que é importado principalmente da Rússia e da Ucrânia.

Embora não haja risco de um rompimento diplomático com a Rússia, o que preocupa o Brasil é exatamente a alta do
petróleo, com impacto direto nos alimentos e combustíveis, segundo o economista e consultor em Comércio Exterior Mirched Abdo Alabyes. “Esperamos que se negocie uma paz duradora para evitar todo esse problema em relação ao Brasil.

Evidentemente, o Brasil não vai bloquear exportações para a Rússia, nem para a Ucrânia, pois não é membro da Otan, não está alinhado aos países desenvolvidos, mas é uma situação desesperadora, principalmente devido ao
aumento de preços de petróleo. A Rússia é um parceiro do Brasil porque é membro do Brics, então, não acredito que
isso vá atrapalhar a geopolítica internacional do Brasil”, afirma.

Segundo o pesquisador do Núcleo de Defesa e Segurança Internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Ronaldo Carmona, “a alta do preço do petróleo e do gás é um impacto direto dessa tensão geopolítica entre o bloco ocidental e a Rússia”. “40% do gás natural consumido pela Europa é importado da Rússia, que tem sofrido retaliações, em função dessa tensão. Ontem mesmo, a Alemanha suspendeu o (gasoduto russo) Nord Stream 2, o que é bastante significativo, pois o país tem grandes dificuldades no abastecimento energético e depende do gás russo. O preço do petróleo é um ativo que está além das relações de mercado. É um ativo que está vinculado diretamente a posições geopolíticas dos países que os detêm e, por outro lado, uma vulnerabilidade dos países
que não os detêm”, analisa.

Carmona explica que a escalada no preço do petróleo e do gás repercute no Brasil, devido à política de paridade
de preços da Petrobras em relação ao mercado internacional. “O nosso país é uma potência alimentar com pés de
barros, pois depende profundamente da importação de fertilizantes. Hoje, o Brasil importa parte substantiva de
seus fertilizantes justamente do triângulo Rússia, Belarus e Ucrânia. Evidentemente que esse movimento de tensão
poderá trazer repercussões, porque nossa dependência é significativa, podendo gerar, inclusive, interrupção no
fornecimento, caso se intensifique essa escalada da tensão russo-ucraniana”, avalia o pesquisador.

O economista e cientista político Fernando Wagner Chagas não acredita que uma guerra seja oficialmente
deflagrada, pois os países não querem assumir o risco de um colapso econômico generalizado por causa de um país pequeno como a Ucrânia. “A Otan deverá recuar, porque a Ucrânia é muito pequena para se comprar essa briga.
Se houver mais um conflito econômico, um acirramento dos ânimos, o dólar dispara e as bolsas caem”, analisa.
“Se houver o conflito definitivo, a Rússia aumenta o preço do fertilizante e, consequentemente, aumenta o preço da produção agrícola no Brasil. E com o aumento do dólar, como efeito do conflito, aumentaria a exportação. E
o Brasil, sem estoque regulador, vai preferir vender para a China em vez do mercado interno. Seria um verdadeiro
desastre para nós (economia brasileira). Nós temos que rezar para que a diplomacia mundial resolva esse conflito
rapidamente”, afirma Chagas.

O especialista em Direito Econômico Internacional Emanuel Pessoa ressalta que a parceria comercial com a
Rússia é indispensável ao Brasil. “O Brasil importa cerca de 80% de todo o fertilizante que utiliza. Desse total, 24%
vêm da Rússia e 3%, de Belarus. Então, na prática, de forma direta e indireta, nós dependemos da Rússia em cerca de 30% da importação de fertilizantes. Apesar de o nosso comércio bilateral com a Rússia não ser muito alto, é a Rússia que nos ajuda a ter uma produção agrícola mais alta”.

Pessoa destaca o impacto negativo que esse conflito pode gerar. “Embora uma guerra generalizada seja improvável,
se ela ocorrer, nós poderemos ter, por um tempo, uma disrupção das cadeias logísticas de exportação de fertilizantes, o que vai encarecer por um tempo a nossa produção agrícola. E, além disso, o preço do petróleo pode disparar no
mercado internacional, porque a Rússia é um dos principais produtores, e os compradores, temerosos, estocam, com
medo de que o preço suba mais no futuro. Os grandes países poderão, inclusive, fazer grandes aquisições de grãos
e, é por isso, que a gente tem visto o preço de grãos subir no mercado futuro”, afirma.

O economista e consultor portuário Fabrizio Pierdomênico também vislumbra uma majoração de preços na logística brasileira, caso o conflito seja oficialmente deflagrado na Ucrânia. “Durante a pandemia, os produtores de petróleo diminuíram a produção. Mas quando a demanda pela commodity aumentou, os países produtores mantiveram
o mesmo nível de produção, o  que, artificialmente, elevou o preço do petróleo. O barril do petróleo Brent custava US$ 55 em janeiro de 2021 e amanheceu, hoje (ontem), em US$ 95. Sem guerra, o petróleo já estava em níveis bastante elevados, que foi o que causou boa parte da inflação no Brasil em 2021. Dos 10% de inflação do IPCA, boa parte foi combustível. Com a possibilidade de conflito envolvendo um dos maiores fornecedores de petróleo do
mundo, essa commodity pode e deve afetar esses preços. Já se fala no barril do petróleo acima de US$ 100. Isso significa custo para a logística do Brasil, aumento do combustível e dos custos de transporte. Isso vai ser o primeiro efeito colateral do conflito”, finaliza

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