A aeronave da empresa Voepass partiu de Cascavel com destino a Guarulhos e caiu em Vinhedo, em São Paulo, matando 62 pessoas, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes (Foto: Reprodução)
Nacional
Voepass defende conformidade em operação de avião que caiu
Ex-diretores afirmam que fiscalização e procedimentos estavam alinhados às normas da Anac; investigação final segue em andamento
Ex-funcionários da Voepass defenderam que a fiscalização e a operação da aeronave que caiu em Vinhedo (SP) no dia 9 de agosto, deixando 62 mortos, estavam em conformidade com os padrões estabelecidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Os depoimentos foram colhidos na terça-feira (19) pela comissão externa da Câmara dos Deputados, que acompanha as investigações sobre o acidente com o avião ATR 72. Newton Bonin (União-PR) questionou se a empresa estava atendendo aos critérios internos e externos, incluindo as auditorias, aos quais a Voepass foi submetida antes da tragédia.
O ex-diretor de Segurança Operacional da companhia, David Faria, explicou que, ao longo dos anos, a Voepass passou por diversas fiscalizações, tanto internacionais quanto de empresas nacionais, além de inspeções internas. “A observação da rotina das áreas operacionais, da execução de manutenção e operações serve para orientar novas direções, comportamentos ou formas de fazer”, detalhou.
Faria também destacou a importância das normas para a manutenção da concessão do serviço público. “A Anac cobra de forma contundente sempre que encontra algo que não condiz com o que está regulado”, afirmou. “A Voepass se mantém e se manterá sempre debaixo de todas as regulações, tanto nacionais quanto internacionais”, completou.
O relatório final sobre os motivos da queda do avião ainda está em processo de elaboração pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Uma das hipóteses apontadas nas investigações preliminares, divulgadas em setembro, atribui a causa ao acúmulo de gelo em partes do avião e à perda de atividade do sistema de descongelamento da aeronave. Também estão sendo analisadas as ações da tripulação e as possíveis falhas humanas.
Marcel Moura, ex-diretor de Operações da Voepass Linhas Aéreas, confirmou que os funcionários escalados como tripulantes na ocasião estavam devidamente cientes das condições meteorológicas do dia e das possibilidades de acúmulo de gelo durante o trajeto.
Moura comentou que “quando o piloto encontra uma situação de gelo, ele liga o sistema de degelo. No caso do ATR 72-500, o piloto precisa ativá-lo manualmente, pois não ocorre automaticamente. Esse procedimento é treinado e seguido globalmente por todas as frotas”.
Moura ainda destacou: “Assim que o piloto sai da situação de gelo, o sistema é desligado, e se o gelo reaparecer, o processo é repetido conforme necessário”. Ele reforçou que “esse é um procedimento padrão, regulamentado internacionalmente, e parte do treinamento de todos os pilotos”.
Denúncias
Henrique Haaklander, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), informou que, há cerca de um ano, a instituição recebeu denúncias de passageiros sobre o sistema de ventilação das aeronaves da Voepass.
“O sindicato só pode atuar diante das denúncias que recebe”, contou Haaklander. “Quando tivemos essas denúncias relacionadas ao ar-condicionado e à qualidade do espaço de trabalho, encaminhamos para a Anac, que tem o objetivo de fiscalizar e indicou que havia feito, ou estaria fazendo, fiscalizações ostensivas”, finalizou.
Eric Cônsoli, ex-diretor de Manutenção da Voepass Linhas Aéreas, pontuou que a empresa possui um sistema de melhoria contínua implementado, no qual qualquer problema reportado seja resolvido. “Se for identificada uma oportunidade de melhoria, ela será implementada”, afirmou.
Cônsoli citou como exemplo o sistema de degelo. “O fabricante recomendava um produto para ser aplicado nas borrachas das bordas de ataque das aeronaves, a fim de aumentar a vida útil desses itens que ressecam. Fizemos um questionamento sobre a possibilidade de aumentar a periodicidade da aplicação, e o fabricante confirmou que não haveria problema. Assim, reduzimos o intervalo de aplicação, de mil para 500 horas de voo, como uma melhoria que foi reportada”.
A aeronave da empresa partiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) e caiu em Vinhedo, próximo à capital paulista, matando as 62 pessoas a bordo, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes.
O autor do requerimento para o debate, Bruno Ganem (Podemos-SP), destacou que a comissão está atuando para revisar a legislação do setor aéreo brasileiro e aprimorar as condições de trabalho e operação, com o objetivo de evitar novos acidentes como este.