Em comunicado aos acionistas emitido na terça-feira, o Carrefour Brasil afirmou que espera normalizar o reabastecimento nos próximos dias após o pedido de desculpas do grupo (Foto: Paulo Whitaker/Reuters via Agência Brasil)
Nacional
Carrefour pede desculpas por críticas à carne brasileira
Após atritos, CEO elogia qualidade da agroindústria brasileira e reforça compromisso com produtores locais
O grupo francês Carrefour pediu desculpas aos produtores de carne do Brasil depois de declarações do diretor-presidente, Alexandre Bompard, que geraram atritos entre o setor agropecuário brasileiro e a rede de varejo. A crise começou quando, na semana passada, Bompard afirmou que a carne do Brasil não atenderia às normas europeias e anunciou a interrupção de compras do produto do Mercosul para os mercados da França. A repercussão foi imediata e resultou em críticas de entidades do setor e até na suspensão temporária de entregas ao Carrefour Brasil.
Na terça-feira (26), Alexandre Bompard divulgou uma carta endereçada ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, na qual elogiou a qualidade e o respeito às normas da carne brasileira, além de se desculpar pela confusão gerada. “Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas”, escreveu.
Após o anúncio inicial, produtores brasileiros reagiram duramente. O frigorífico Masterboi, um dos principais fornecedores da rede no Brasil, suspendeu o envio de cerca de 450 toneladas de carne por mês durante o fim de semana. Com a retratação de Bompard, as entregas foram retomadas. Em comunicado aos acionistas emitido também na terça-feira, o Carrefour Brasil afirmou que espera normalizar o reabastecimento nos próximos dias.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) também comentou o episódio, destacando a excelência do setor brasileiro, que atende às demandas de mais de 160 países. “O Mapa enaltece o trabalho desempenhado pelo setor, a gestão ativa das associações e seus associados na defesa de uma produção de excelência que chega às mesas de consumidores em mais de 160 países do mundo”, declarou em nota.
Segundo o Carrefour França, a decisão de priorizar carne local foi motivada pela crise enfrentada por agricultores franceses. “Quisemos assegurar aos agricultores franceses, que estão atravessando uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais”, justificou o grupo, reforçando que a medida não visava desmerecer os mercados internacionais.
Repercussão
Entidades brasileiras, como a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), receberam com satisfação o pedido de desculpas, mas alertaram para os danos causados. “Esperamos que, com isso, as operações da rede francesa sejam reestabelecidas. A agroindústria brasileira é destaque no mundo e atende aos mais altos padrões de qualidade, sanitários e ambientais dos mercados mais exigentes globalmente”, destacou a associação.
A polêmica também mobilizou lideranças do agronegócio no Brasil. Tirso Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), chamou a decisão do Carrefour de “protecionista”. “Eles não conhecem a sustentabilidade do gado brasileiro. Hoje temos um trabalho fantástico envolvendo lavoura, pecuária e floresta que ao mesmo tempo dá qualidade de vida ao animal e faz o sequestro de carbono”, disse Meirelles, alertando que medidas como essa colocam em risco a segurança alimentar global.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil) reforçou a necessidade de combater discursos infundados sobre produtos do Mercosul, enfatizando que o Brasil adota práticas rigorosas de rastreabilidade e sustentabilidade em sua produção.