Com várias especializações, Francisco Martins vinha atuando como diretor de Gestão Portuária do Complexo de Suape/Divulgação Porto de Suape
Região Nordeste
Novo presidente de Suape prevê retomada ferroviária
Francisco Martins assume o cargo no próximo dia 7, justamente quando o porto comemora 44 anos de existência
O Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco, terá, a partir do dia 7 de novembro – data em que também comemora 44 anos de existência – um novo presidente. Trata-se de Francisco Martins, que até então atuava como diretor de Gestão Portuária do complexo. Quem passa a cadeira ao sucessor é Roberto Gusmão, que anunciou sua saída para assumir um novo desafio profissional na iniciativa privada.
Francisco é graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pós-graduado em Gestão de Território e Recursos Hídricos pela Universidade de Tecnologia Cranfield, na Inglaterra. Também possui pós-graduação em Engenharia Sanitária e Gestão Ambiental pela UFPE, além de especialização em Responsabilidade Socioambiental pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na iniciativa privada, trabalhou na Odebrecht Engenharia e Projetec – Projetos Técnicos e Souza Cruz SA. No governo de Pernambuco, ocupou cargos de assessor especial da Secretaria de Agricultura, gerente de Projetos Especiais da Secretaria de Indústria e Comércio, e gerente da Secretaria de Planejamento e Gestão.
Na área de planejamento portuário, coordenou a elaboração do Plano de Desenvolvimento e Zoneamento para o Porto do Recife e do Novo Plano Diretor do Complexo Industrial Portuário de Suape.
Em entrevista exclusiva ao BE News, Francisco cita o que considera desafios à sua gestão e destaca a expectativa de conclusão de obras importantes para o Porto de Suape e que, segundo acredita, terão o apoio do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), especialmente àquelas relacionadas ao modal ferroviário.
“Esperamos, principalmente, a reativação da ferrovia Transnordestina, que por ser de concessão federal, cabe unicamente ao governo, junto ao setor privado, buscar uma solução que garanta a conectividade de Suape com a malha ferroviária regional e nacional”, disse.
O inacabado trecho pernambucano-piauiense da ferrovia Transnordestina está paralisado desde 2006, mas pode ter na construção da Ferrovia do Sertão (EF 233), viabilizada após anúncio recente do novo terminal de granéis sólidos minerais de Suape pela Planalto Piauí, integrante do grupo Bemisa, uma possível solução para a ligação de 717 quilômetros entre os dois estados.
Confira mais detalhes na entrevista a seguir.
O senhor vai assumir o maior porto do Nordeste, que está em plena movimentação, com novos investimentos. Para este ano, ainda há previsão de mais algum anúncio?
Sim, ainda temos, para o último bimestre de 2022, alguns investimentos para serem anunciados, entre eles um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL), que vai permitir um aumento considerável da oferta de gás ao nosso estado a ser distribuído pela Copergás, e também a utilização por térmicas que estão instaladas em Suape. Além disso, vamos iniciar a operação do bunker, que é o abastecimento de navios ancorados em alto-mar, por exemplo, na área de fundeadouro. Isso traz impacto direto na melhoria da competitividade de Suape. Para se ter uma ideia, entre Belém do Pará e Salvador não há nenhum porto com capacidade de oferecer abastecimento de óleo bunker para os navios. Por isso, os navios que têm rotas mais longas, além de Suape, têm de vir mais pesados, com mais combustível. Na medida em que têm em Suape a possibilidade de serem reabastecidos, não precisam carregar o peso morto do combustível, tornando a viagem mais rápida e mais econômica, o que se reflete no preço do frete.
A sua gestão também lidará com um novo líder no Governo Federal, representado pelo presidente eleito, Lula. O que o senhor espera para o Porto de Suape e para o Nordeste com este terceiro mandato?
O presidente eleito é muito comprometido com o Nordeste e grato à região com tantos votos que recebeu aqui, fruto da confiança que o povo nordestino tem na sua gestão. Os tempos áureos de Suape tinham Lula no Governo Federal e Eduardo Campos como governador. Esperamos que agora, Lula e a governadora estadual eleita Raquel Lyra (PSDB) possam trabalhar em harmonia. É claro que a conjuntura é outra, as perspectivas de disponibilidade de recursos também, mas o presidente eleito tem um compromisso com Pernambuco. Temos expectativa que o Estado possa voltar ao tempo em que liderava o transporte e a movimentação de carga em Suape, para que possamos reativar o cluster naval da região. As condições e mecanismos já estão criados, há negócios em curso muito bem encaminhados e outros já fechados. Esperamos a conclusão de obras importantes para Suape, que se estiverem em harmonização com o Governo Federal, poderão sair do papel em um período muito curto.
Que obras são essas?
Não tenho dúvida que Lula não se esquivará a cumprir tudo o que se espera dele em relação a investimentos em Pernambuco. E obviamente, Suape, como máquina que puxa o desenvolvimento do Estado, vai receber atenção especial. Esperamos, principalmente, a reativação da ferrovia Transnordestina, que por ser de concessão federal, cabe unicamente ao governo, junto ao setor privado, buscar uma solução que garanta a conectividade de Suape com a malha ferroviária regional e nacional. E essa solução já foi traçada com a presença de um grupo privado, que é a Bemisa, que tem autorização para construir uma linha férrea do Piauí até Suape. E como Suape é um porto concentrador de cargas, outros produtos podem ser transportados por essa ferrovia. São cargas importantes, que impactam diretamente o custo de vida das pessoas, como gás, açúcar, cargas conteinerizadas, que vão em direção ao agreste pernambucano, ao sertão, aos estados vizinhos. São muitas as possibilidades que vêm com a Ferrovia do Sertão porque ela poderá transportar todas essas tipologias de cargas. Outros ramais também podem ser criados para desembocar no ramal principal da Ferrovia do Sertão, ou para atender situações específicas, por exemplo, o ramal do gesso do Araripe (CE), que pode ser interligado para garantir o escoamento de uma área que tem uma das maiores jazidas de gipsita do mundo, beneficiando diretamente empresas pernambucanas e gerando empregos. Será um novo tempo.
Qual será o seu maior desafio em relação à gestão do Porto de Suape?
Nosso maior desafio, além de manter as garantias que foram dadas por Suape para a instalação desses novos empreendimentos, é conduzir o processo de transição, deixando de forma clara para os próximos gestores do porto e para o novo governo que assume em janeiro, que não há como retroceder às conquistas do Porto de Suape. Entre as garantias está a necessidade de investir na dragagem interna do porto e na conclusão da dragagem externa, um processo que se arrastou por anos, após a interrupção da obra. A dragagem do canal principal para aumentar a profundidade em mais de 20 metros será retomada em breve. Também há o compromisso de adequar a profundidade do canal interno, de forma a possibilitar as operações das embarcações que vão atuar tanto no terminal de minério na Ilha de Cocaia quanto no novo terminal de contêiner, da APM Terminals.
Qual a importância de Suape ter retomado a sua autonomia e quais os frutos que essa nova fase pode trazer para o porto já no ano que vem?
A retomada da autonomia é extremamente importante porque representa que o porto poderá lançar e conduzir seus próprios processos de licitação para arrendamento de áreas dentro da poligonal do porto organizado, o que confere mais agilidade e competitividade, captando mais investimentos. Antes da retomada da autonomia, um processo de arrendamento poderia levar até dois anos. Agora podemos concluir em seis meses.
Com a consolidação das negociações dos últimos dois anos, Suape terá um aporte de R$ 38,6 bilhões até 2027. Neste cenário, são esperadas 20 mil novas vagas de emprego conforme as obras e operações forem iniciando. Como a população da região pode se preparar para aproveitar essas novas oportunidades?
Seguramente, este desenvolvimento vai demandar de mão de obra qualificada. Por isso é importante que o governo que vai começar tenha em mente a necessidade de voltar a construir escolas técnicas e centros de formação profissional dirigidos às necessidades das empresas já instaladas e daquelas que se instalarão nos próximos anos. Assim, conseguimos atender essa demanda com mão de obra pernambucana, com os profissionais da região.