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“Tantra e a arte de cortar cebolas” (Editora 34) é o livro de contos que marca a estreia da jornalista Iara Biderman na ficção. Foto: Divulgação

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Jornalista Iara Biderman fala sobre lançamento de seu livro de contos

Atualizado em: 20 de julho de 2024 às 9:42
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

“As palavras vão se impondo, vão te levando”

“Tantra e a arte de cortar cebolas” (Editora 34) é o livro de contos que marca a estreia da jornalista Iara Biderman na ficção. Fala do livro com o entusiasmo de quem coloca um filho no mundo e revela o que sente: “Uma mistura de alívio com euforia”. Iara já passou por vários veículos, inclusive anos na Folha de S.Paulo, e atualmente é editora da Revista 451. Crítica de dança e membro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), foi curadora de festivais e prêmios de dança no Brasil e no Exterior. Conheço Iara há alguns anos e ela sempre foi atenciosa com os assessores de imprensa, o que nem sempre acontece.

“Tantra e a arte de cortar cebolas” (Editora 34) é o livro de contos que marca a estreia da jornalista Iara Biderman na ficção. Foto: Divulgação

O livro tem 21 contos, quais os temas?

Da mulher que na noite de Natal traz para casa um menino de rua à senhora que, no último conto, tenta voltar para um edifício que não reconhece, passando por michês, travestis, um bizarro vigia de zoológico, uma recém-casada prestes a chutar o balde, uma cleptomaníaca enfurecida e muitos outros personagens, em praticamente todas as histórias deste livro de vozes majoritariamente femininas. Todos os contos trazem elementos do cotidiano.

Algum deu mais trabalho?

Conto com alguma restrição faz você criar mais, é o trabalhar com as palavras, não é o que é e o como.  Restrição, no meu conto, foi não usar nenhum substantivo masculino, talvez ninguém perceba, mas deu muito trabalho.

O que  aproxima os contos?

Há uma unidade e todas as histórias, sempre há alguém que recusa o lugar onde está. São textos curtos, meu estilo é influenciado pelo jornalismo. Eu costumo brincar que sou “vira-lata no jornalismo”, faço de tudo. Acho que os contos também têm essa universalidade. Fiz uma oficina de escrita com a Noemi Jaffe que me ajudou muito a sair do jornalismo para a ficção.

Você diz que escreve permite falar da vida dos outros. Por que?

Eu gosto de saber e falar da vida das pessoas no bom sentido, e na ficção você pode fazer isso sem ser uma coisa socialmente reprovável. Eu gosto de ouvir o que as pessoas falam e criar uma história, pegar pedaços de conversas e inventar. Eu me envolvo muito com os personagens, mas muitas vezes você escreve e vai acontecendo e nem sabe como, não tem uma explicação para tudo. As palavras vão se impondo, vão te levando.

Como é o seu processo criativo?

Meu processo criativo é um caos, não tenho método, preciso ter mais disciplina. Gosto de escrever em um caderno as ideias. Minha letra é horrível, se eu não transcrevo na hora, eu mesmo não consigo ler. Nesse livro, cada conto tem um fio condutor, alguns mudaram no caminho; outros joguei fora para nunca mais.

Como tem sido o retorno?

Ótimo e não só de amigos. Participei da recente Feira dos Livros em São Paulo e foi maravilhoso, mesmo com muito frio e foi em um lugar aberto. A conversa com Odorico Leal, autor de Nostalgias Canibais, foi mediada pela Maria Carvalhosa. Alguns amigos mandaram até mensagens pedindo desculpas por não conseguirem ficar no frio.

Qual a melhor surpresa?

O contato com os leitores, estou amando isso. Isso me deixa muito contente. Alguns comentam que alguns contos não têm um final e isso aconteceu naturalmente, acho que é característica da literatura contemporânea “não ter a moral da história”.  Deixar o final aberto, dar na mão do leitor.

Pode dar exemplo?

Um conto Serviço de Proteção virou uma outra coisa depois que foi para a editora, o editor sugeriu mexer. Outro mudei o final. Os contos mais curtos dão mais trabalho, tem que ir depurando, depurando.

Você tem algum autor preferido?

Tenho tantos, é difícil dizer, são diferentes motivações e momentos diferentes. É o que estou lendo no momento. Meu trabalho profissional é ler, não tem como.  Maravilha, todos acham, mas eu também sinto falta do que eu quero ler para mim. Com a dança aconteceu o mesmo, eu queria assistir um espetáculo e não ter que opinar. Deixar fluir sem o compromisso.

Poderia indicar alguns livros de contos?

É um gênero meio desvalorizado – como se fosse algo “menor”, não só em tamanho – que o romance. Daí foi difícil ficar só em cinco grandes livros de contos, fiz outro recorte: escritoras e escritores, cinco de cada. Nas duas seleções, coloquei um livro de estreia.

Seguem os livros:

Alice Munro. Ódio, amizade, namoro, amor, casamento. Biblioteca Azul

Vilma Arêas. Todos juntos: 1976-2023. Fósforo

Clarice Lispector. Todos os contos. Rocco

Katherine Mansfield. Êxtase e outros contos. Antofágica

Julia Codo. Você não vai dizer nada. Nós (livro de estreia)

Julio Cortázar. Todos os contos. Companhia das Letras

Anton Tchékhov. Últimos contos. Todavia

Guimarães Rosa. Primeiras estórias. Global

Sérgio Sant’Anna. O homem-mulher. Companhia das Letras

Odorico Leal. Nostalgias canibais. Âyné (livro de estreia)

 

 

 

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