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quarta, 03 de julho de 2024
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Waldeck Ornelas

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Mobilidade em Salvador

“Agora o que nos falta é uma política que estimule o uso dos serviços de transporte público de massa. É claro que as estações de transbordo e a tarifa integrada facilitam a vida de quem já era usuário do ônibus. Mas é preciso ampliar a clientela”

Embora Salvador tenha contado, no passado, com sistema de bondes e de ônibus elétricos, esses serviços foram desativados, simultaneamente ao desenvolvimento da indústria automobilística no país. Com isto, a cidade cresceu, desde o último quartel do século passado, apenas com o sistema de ônibus convencionais, movidos por motores a combustão. O resultado é que se espraiou desmesuradamente, ocupando todo o território municipal.

Os veículos coletivos movidos a combustão configuram um sistema de transporte invertebrado, dotado, é verdade, de grande flexibilidade, podendo atender a quaisquer áreas. Como consequência, são muito permissivos em relação à expansão urbana, atendendo por exemplo, a conjuntos habitacionais localizados inadequadamente em áreas distantes, desprovidas de infraestrutura e serviços. Assim, causam mal às cidades, onerando os custos de operação e manutenção urbana e prejudicam, sobretudo, a população de baixa renda, que tem de se deslocar 2-3 horas por dia, em movimentos pendulares casa-trabalho.

Ao contrário, os sistemas de transporte sobre trilhos ou em vias exclusivas, são estruturadores de cidades, com sua existência permitindo que os planos urbanísticos possam estimular a concentração das moradias e atividades ao longo dos seus percursos, facilitando a vida das pessoas.

Somente muito recentemente, Salvador passou a contar com um sistema de transporte de massa. Faz pouco passou a operar o metrô, com a Linha 1 – Estação da Lapa-Pirajá, expandida agora até Águas Claras, e a Linha 2 – Rótula do Abacaxi-Aeroporto.

Paralelamente, a cidade está ganhando o BRT – Bus Rapid Transit, sistema inspirado na experiência de Jaime Lerner em Curitiba e mundialmente promovido, a partir de 2.000, pelo projeto TransMilenio, de Bogotá. O primeiro BRT, integrado ao metrô, partindo do Iguatemi, chega à Pituba e à Estação da Lapa.

Fato é que o novo PDDU (2016), seguido pelo Plano de Mobilidade (2018), já tomou o sistema de transporte de massa como elemento-chave para a planificação do desenvolvimento urbano, embora seus resultados, nessa área, ainda não sejam sentidos.

Nem por isto tem diminuído o número de automóveis a circular na cidade, provocando os habituais congestionamentos. Mas este não é o problema. Como ensina Enrique Peñalosa, o inovador ex-prefeito de Bogotá, “o transporte de massa soluciona a mobilidade, não os engarrafamentos” e diz mais: “a mobilidade e os engarrafamentos são dois problemas distintos, que têm soluções distintas”. Convém, portanto, não confundir.

Agora o que nos falta é uma política que estimule o uso dos serviços de transporte público de massa. É claro que as estações de transbordo e a tarifa integrada facilitam a vida de quem já era usuário do ônibus. Mas é preciso ampliar a clientela.

Sentada em um contrato que lhe garante remuneração por 500.000 passageiros/dia (embora só tenha efetivamente 350.000), a concessionária não faz nenhum movimento no sentido de atrair a população para o metrô. Nem campanha publicitária!

Enquanto isto, a microacessibilidade às estações constitui um desafio para as pessoas. Não são amigáveis, por exemplo, as passarelas que fazem zig-zag em torno das estações, exaurindo o percurso que o passageiro deveria fazer a pé, do seu bairro até a estação. Isto precisa ser revisado, estação a estação. Embora existam incentivos urbanísticos, faltam estacionamentos para automóveis em estações-chave, para estimular a troca do carro pelo metrô. O relevo da cidade exige soluções não convencionais para interligação dos bairros ao transporte de massa – escadas rolantes, planos inclinados, teleféricos, sempre associados a projetos de urbanização.

Não basta, apenas, esperar pelo poder público. A cidadania precisa desenvolver a cultura do uso do transporte público.

 

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional, é autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.

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