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José Geraldo Vantine

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Intermodal: o supermercado da logística

Muitas pessoas com não muito conhecimento até falam que a Logística foi aplicada na construção das pirâmides do Egito. Não confundam. Lá a ciência usada foi engenharia com geometria. O termo Logística é originado no verbo da língua francesa “Loger” (pela etimologia, vem do Grego passando pelo Latim via os romanos). E de Loger, no exército de Napoleão, veio “Logistique”. E o general Antoine Jomini foi o primeiro a usar o termo nas funções de abastecimento das tropas durante as conquistas. 

É natural que, ao passar do tempo, as palavras de origem conceitual sofram alterações conforme a evolução de fatos e conveniências de linguagem na falta de palavras que representem novas aplicações. Vamos lá:

A roda e a vela náutica: Não sendo arqueólogo e nem antropólogo, mas na condição de engenheiro curioso, uso as pesquisas para fundamentar meus textos, ideias e proposições. Assim, para chegar no agora de onde estamos, a humanidade registra como primeira invenção/inovação, a roda. Isso, segundo registros, ocorreu cerca de 3 mil a.C. Antes disso, por “zilhões” de anos, o homem saiu do continente africano (teoria da evolução do homem), atravessou o Estreito de Gibraltar, subiu o continente europeu, chegou até as Ilhas Diomedes, no Estreito de Bering, desceu o continente americano e, assim, foi povoando o planeta. 

Obviamente não havendo comunicação, a roda ficou milhares de anos sendo usada na região onde hoje é o Iraque e por aí rodou, acelerando o desenvolvimento dos povos do Egito, e por aí segue a história. Coube aos romanos a aplicação da roda de forma mais intensa nas conquistas do chamado Império Romano, que, aliás, registra as primeiras estradas da Europa, cuja medida da largura era o espaço das traseiras dos cavalos para puxar as carroças. Aliás, isso definiu as larguras atuais dos caminhões (sim, é verdade, e até escrevi um artigo tratando da “geometria na Logística”). 

Mas com a roda, as pessoas não iam longe e rápido. Aí entra o “vento“ e o barco a vela. E, com eles, os egípcios ampliaram territórios e até mesmo o comércio com a Índia. Mas foi com a tecnologia da astronomia e da geometria esférica desenvolvidas pelos gregos que o transporte marítimo levou o homem para os confins da Ásia e da Austrália. Portanto, transporte e tecnologia nasceram juntos. E com eles, a Logística, no século 20.

Vou explicar. Muitas pessoas com não muito conhecimento até falam que a Logística foi aplicada na construção das pirâmides do Egito. Não confundam. Lá a ciência usada foi engenharia com geometria. O termo Logística é originado no verbo da língua francesa “Loger” (pela etimologia, vem do Grego passando pelo Latim via os romanos). E de Loger, no exército de Napoleão, veio “Logistique”. E o general Antoine Jomini foi o primeiro a usar o termo nas funções de abastecimento das tropas durante as conquistas. 

Rápido salto no tempo, a marinha americana traduziu para “Logistics” e houve grande desenvolvimento na 2ª Guerra Mundial, período em que a academia abraçou o assunto como ciência para auxiliar na vitória americana, aí criando o triângulo “Estratégia/Tática/Logística. Terminando a guerra, os Estados Unidos estavam com território intocável e indústrias alternando produção de material bélico para produtos de consumo. Era o início dos anos dourados, 1950. Tudo que conhecemos hoje no ambiente empresarial nasceu a partir daí e com ajuda dos grandes mestres das excelentes universidades. Os americanos, entre tantas outras inovações, criaram a ciência do Marketing, que considero a mãe da Logística empresarial (lembra-se dos 5Ps? O embrião da Logística foi o “Place”). 

Na sequência, rápida expansão geográfica do varejo e crescimento incrível da economia americana. O modelo de supermercado surgiu na década de 1930, mas as grandes redes como Wal-Mart surgiram na década de 1960.

No início da minha carreira em Engenharia e Logística, lá nos anos 70, trabalhando na General Motors em Detroit (USA), pela primeira vez tive contato com o termo “Logística”, na época relacionada à Engenharia de Processo – Movimentação de Materiais e Layout (até me filiei ao “Institute of Logistics Engineers”). Então, Logística era parte da Engenharia Industrial, e assim foi até 1986.

Em paralelo, nesse mesmo período, junto com a rápida expansão do mercado, vieram os grandes problemas de abastecimento a nível nacional e, em resposta, as instalações de centrais de distribuição em muitos estados. Então os profissionais da indústria (sim, a indústria é o ninho onde nasceu a Logística Empresarial) ampliaram a contratação dos grandes mestres da Michigan State University e da Ohio State University para a criação de modelos matemáticos de definição de redes de distribuição. Daí nasceu a NCPDM, National Council of Physical Distribution Management.  E do outro lado das fábricas, o vetor fundamentado na área de suprimentos, o Materials Management – Administração de Materiais, que no Brasil dos anos 70, teve a primeira associação profissional “pré logística”, que foi a ABAM – Associação Brasileira de Administração de Materiais. Não demorou muito para que as duas áreas se fundissem: Physical Distribution + Materials Management = Integrated Logistics (Integração de Processos). 

Então, em 1986 foi aceita globalmente a definição de Logística, como “parte integrante da gestão da cadeia de abastecimento que planeja, implementa e controla, de forma eficaz e eficiente, o fluxo e o armazenamento de bens, serviços e informações, desde o ponto de origem ao ponto de consumo, de modo a atender aos requerimentos dos clientes”. A definição é do CLM, o Council of Logistics Management (hoje, Council of Supply Chain Management Profissionals), e aceita globalmente. No Brasil, adotei essa definição em 1989 quando presidi a fundação da Aslog, a Associação Brasileira de Logística.

De 1986 até 2024, são apenas 28 anos. A evolução deu à Logística uma configuração de “ciência híbrida”, composta por fundamentos da Engenharia Industrial, da Economia, da Administração e do Marketing. Mais recentemente, houve o “casamento” com a Tecnologia Digital e de Informações e a Logística foi se transformando, se adequando às necessidades do mercado e, em muitos segmentos, até mesmo sendo protagonista do sucesso de empresas. 

Daí para frente, surgiram muitas confusões conceituais geradas por profissionais da nova geração de racional imediatista e pouco fundamentado. Assim, importante, até para entender o modelo da 28ª Intermodal, que a Logística continua com a mesma definição da origem, como gestão empresarial, mas com aplicação adequada a cada elo da cadeia produtiva. Se é indústria, qual segmento industrial. Se é Varejo, qual o segmento varejista. Se é Agro, se é Pecuária, se é Mineração, se é Comércio Digital etc. Chamo atenção para o uso inadequado da palavra Logística de forma genérica. Portanto, Logística não é uma ciência fácil. Necessita de muito estudo e experiência.

Seguindo na analogia com o supermercado para a Intermodal, registro que, nos últimos dez anos, houve uma migração de terminologia na denominação da Infraestrutura de Transportes para Infraestrutura Logística, tanto nos ambientes técnicos como organizacionais dos governos. Exemplo de São Paulo, que criou a Secretaria de Logística e Transportes (hoje, Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística). 

Essa transmutação conceitual carrega erros de aplicação, pois, para governos, Logística é muito mais que só Transporte. Mas, no que tange a Infraestrutura Logística, o sentido se dá com o entendimento que Porto, Aeroporto, Rodovia, Ferrovia, Hidrovia são os equipamentos necessários para Transporte Marítimo, Transporte Aéreo, Transporte Rodoviário, Transporte Ferroviário e Transporte Hidroviário. Todos eles essenciais para as operações da Logística. Mas é importante registrar que, para existirem, são necessários: Navio, Avião, Caminhão, Trem e Balsa. E para o Planejamento e o Controle da Logística, são necessárias as inúmeras tecnologias nos seus vários formatos (amplamente discutidas no evento Brasil Tech, promovido pelo Fórum Brasil Export).

Assim, tendo a Logística como epicentro a serviço dos fluxos de materiais, produtos, informações, bem como Armazenagem e Abastecimento, gravitam as muitas soluções de funções diretas e de apoio indireto.

Assim como supermercados nasceram com foco em alimentos e, hoje, são centros de compras com açougues, padarias, rotisserias e tantos outros departamentos, muito ampliados pelos hipermercados, a Intermodal nasceu (eu estava lá e, se me lembro bem, foi em 1994 no Anhembi e o líder idealizador foi o amigo Luis Augusto Ópice, muito conhecido entre os pares dos conselhos) como exposição de equipamentos e serviços para o setor portuário. E hoje é o supermercado da Logística, com dezenas de categorias de produtos e serviços. Embora não cubra todos os segmentos nos quais a Logística é diferencial competitivo, acredito que ano a ano deverá se tornar um “hipermercado da Logística”.

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