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terça, 07 de maio de 2024
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Matheus Oliva Marcilio

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Fretes em declínio

Os fretes estão em declínio, boa notícia para a competitividade do comércio global e fogo mais brando na garganta do dragão. Não apenas a curva de juros é responsável por domar a velha fera. O efeito chicote nas cadeias de suprimento exerce uma pressão invisível, muito forte e real na economia global. O efeito chicote é uma distorção de demanda que viaja a montante a partir do varejista, passando pelo atacadista e chegando ao fabricante, em função da variação entre os pedidos que podem ter sido superestimados, a partir de uma expectativa de vendas que não se realizou.

O índice composto Drewry para um cntr de 40 pés – Shanghai / Los Angeles atingiu US$ 12.424,00 em 16/09/2021 e US$ 7.280,00 em 21/07/2022. Queda de +40%. A dinâmica do mercado está demonstrando o efeito chicote criado pela COVID, no comércio EUA-China. Varejistas encomendaram mais bens baseados na inflação de demanda da época. A montante atacadistas e fabricantes fizeram o mesmo. Compraram e produziram mais. Quando os pedidos não chegaram de acordo com o planejado em função de portos e cidades inteiras fechadas devido aos lockdowns da COVID, foram feitos mais e mais pedidos. Com o fluxo de pedidos em constante crescimento ao longo da cadeia, todos começaram a produzir em níveis sem precedentes. Consumidores com relativa folga de caixa no orçamento (exemplo: não se gastava com combustível, transporte, estacionamento etc), continuaram a comprar na internet bens materiais fazendo a festa das empresas de e-commerce. Os produtos viajando de maneira errática na cadeia de suprimentos elevaram a demanda e os fretes de tal forma que os contêineres foram parar nas manchetes dos jornais e no congresso americano.

No início deste ano o perfil do consumo se alterou radicalmente. Pessoas livres para transitar passaram a gastar em serviços e experiências, não mais em produtos. Porém os estoques em trânsito ainda estão altos, lotando portos e armazéns de operadores logísticos, forçando a curva de fretes para baixo. É uma boa notícia para o futuro de curto prazo nas cadeias de suprimento globais.

Por outro lado, o setor cada vez mais consolidado das linhas de navegação de contêineres, que reportou lucro somado próximo a R$ 1 trilhão em 2021, ganha musculatura desproporcional na cadeia e pretende capturar todos os espaços a jusante e a montante. Se, por hipótese, no momento que todo o fluxo de contêineres, da fábrica ao varejista, for dominado por apenas uma meia dúzia de conglomerados privados específicos, vislumbra-se um cenário de poder excessivo capaz de afetar economias soberanas e uma influência descomunal na competitividade das cadeias de suprimentos. Nesse cenário, economistas, banqueiros, autoridades monetárias entre outros terão que analisar políticas monetárias através, também, das lentes do comércio exterior. Que tal então já incluir projeções de índices de fretes de cadeias de suprimento globais nos cálculos do Boletim Focus do Banco Central? #Ficaadica.

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TAGS comércio internacional covid efeito chicote frete navegação Ucrânia

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